Qual a carteira de ações vencedora em um cenário de inflação alta? Especialistas dão dicas
Especialistas explicam que ações de empresas com poder de preço são as melhores opções contra a inflação
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou nesta sexta-feira, 8, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho. O indicador, que reflete a inflação oficial do País, subiu 0,67% no último mês, abaixo das expectativas do mercado, mas com uma aceleração frente a maio. Neste cenário de pressão inflacionária persistente, alguns papéis podem se mostrar como boas opções para compor uma carteira de investimentos.
Especialistas ouvidos pela Mais Retorno explicam que, para montar uma carteira de ações vencedora em meio à escalada dos preços - ou seja, uma carteira que possa preservar o patrimônio do investidor -, é necessário olhar para as empresas que têm a capacidade de fazer preço, seja por oferecerem serviços ou produtos essenciais, por serem empresas de valor ou por estarem focadas em classes sociais menos impactadas pela inflação.
De acordo com Arthur Siqueira, sócio e analista de investimentos GeoCapital (gestora de fundos de ações globais) as melhores opções em um cenário inflacionário são as companhias que conseguem repassar os preços sem perder um número relevante de consumidores.
Além disso, que não tenham tantos custos com mão-de-obra, um dos principais fatores de pressão de inflação dentro das empresas, e não sejam muito dependentes de commodities como matéria-prima, já que a cotação desses produtos são definidos m bolsa de valores.
Quais são as empresas com 'poder de preço'?
"Se é uma empresa que consegue repassar os preços, seja por ser uma marca forte, por ter um produto diferente ou por ser indispensável em alguma cadeia de valor, ela consegue defender a sua margem operacional."
Arthur Siqueira, sócio e analista de investimentos GeoCapital
O analista explica que, para entender se uma empresa tem esse poder de preço, é necessário olhar para o seu crescimento real. "Se você vender R$ 100 hoje e R$ 110 amanhã, com uma inflação acumulada em 12 meses de 10%, o seu resultado terá sido a mesma coisa", pontua Siqueira, ao afirmar que a empresa com poder de preço tem uma capacidade de gerar lucro superior ao crescimento da receita gerado pela própria inflação.
Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, destaca que o processo inflacionário leva a uma perda nos salários reais das famílias e, com isso, há uma redução no poder de compra. Nesse sentido, as ações que mais sofrem são aquelas ligadas ao consumo discricionário, como o varejo popular, que pode ser exemplificado pela Magalu ou Lojas Renner, e a construção civil.
Serviços essenciais
Em contrapartida, Nobre aponta que companhias do setor de energia elétrica, saneamento básico, telecomunicações e farmácia, por exemplo, são papéis que tendem a ser mais resilientes com uma inflação elevada. Isso acontece porque essas empresas fornecem os serviços e/ou produtos considerados essenciais, aqueles que serão priorizados em um momento que o poder de compra estiver comprometido.
Segundo a chefe de análise de trading na Toro, Stefany Oliveira, e o estrategista em investimentos Josias de Matos, as ações da Telefônica Brasil (VIVT3) e da ISA CTEEP (TRPL4) são boas opções para se ter na carteira em momentos de instabilidade e de inflação em alta.
A primeira, de telecomunicações, "tem mostrado resiliência em seus resultados, com expansão de sua base de clientes e ganho de market share no segmento de telefonia móvel. Além disso, a companhia vende serviços que podem ser considerados quase essenciais, o que a protege de uma queda mais forte na demanda por conta do estado atual da economia", dizem os especialistas.
"Do ponto de vista operacional, a Companhia apresenta posição de caixa confortável, histórico de lucros consistentes e dívida equilibrada, além de forte um histórico no pagamento de dividendos. Estas características, colocam a Telefônica Brasil como uma das principais empresas do segmento listadas em bolsa, com perspectiva positiva para o longo prazo."
Stefany Oliveira e Josias de Matos
Já a ISA CTEEP, do segmento de transmissão de energia elétrica, tem uma alta previsibilidade de receita por operar com licitações e contratos longos, na opinião de Stefany e Matos. "Por serem remuneradas diretamente por geradoras, distribuidoras e consumidores livres com base na disponibilidade da linha, as empresas de transmissão não dependem do volume de energia transmitido, além de serem também parte do segmento que menos sofre diretamente com o risco hidrológico e suas sazonalidades", dizem.
Empresas de valor
Os analistas da Toro consideram que é importante o investidor buscar ativos de empresas de valor em momentos de incerteza e volatilidade. Essas companhias "detêm caixa e robustez de mercado" e, por isso, tendem a se manter mais resilientes em momentos de inflação elevada. Neste contexto, as indicações de ambos são Bradesco (BBDC4), Vale (VALE3) e Ambev (ABEV3).
Sobre o banco, eles afirmam que "com operação diversificada e boa resiliência, o Bradesco tende a ter uma boa performance mesmo em momentos desafiadores". Frederico Nobre, da Warren, ressalta que os bancos, apesar de enfrentarem alguns riscos com o aumento da inadimplência, devem elevar suas receitas e lucros, surfando a onda da elevação da taxa de juros, consequência da inflação.
Já em relação à Vale, os analistas da Toro pontuam que a companhia tem uma estrutura operacional eficiente, com geração de caixa robusta e forte competitividade internacional. Eles afirmam que o cenário macroeconômico atual pode apresentar "excelentes oportunidades para a companhia", tendo em vista a política monetária expansionista da China, o que deve elevar a demanda por minério de ferro.
"Acreditamos que a Vale continuará usufruindo da retomada do crescimento chinês em patamares superiores a 5%, objetivo da política monetária expansionista por lá ao longo de 2022. Outro ponto relevante é que na avaliação de múltiplos em relação a seus pares internacionais, a Vale é negociada com atrativo desconto."
Stefany Oliveira e Josias de Matos
Ainda entre as empresas de valor, os especialistas indicam as ações da Ambev. A empresa de bebidas é a principal player em seu segmento, que é de difícil acesso a outros competidores e, mesmo em meio à pandemia, apresentou resultados sólidos e distribuiu dividendos, o que a coloca como uma boa opção para a proteção do patrimônio no longo prazo.
Neste mesmo contexto, Nobre destaca ainda as ações do varejo de alta renda, como Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3). Estas companhias, por oferecerem produtos destinados a um público que não é tão impactado pela inflação, conseguem repassar seus preços e, por isso, são menos afetada pelo cenário macroeconômico adverso.
Ações estrangeiras para a inflação global
Não é só no Brasil que a pressão inflacionária se apresenta com força, mas em todo o mundo - consequência, sobretudo, da pandemia de covid-19 e da guerra da Rússia na Ucrânia.
Pensando em uma estratégia de carteira com diversificação geográfica, Arthur Siqueira destaca quais ações podem proteger o patrimônio do investidor durante um período de inflação elevada. Segundo ele, os pontos a serem levados em consideração são os mesmos e as empresas escolhidas precisam ter poder de preço. Confira as indicações:
- Booking (BKNG34): a plataforma de busca de hotéis é um importante player no segmento de viagens e a principal ferramenta utilizada por lugares menores para oferecer seus serviços e, por isso, continuam gerando boas receitas mesmo com a inflação;
- The Walt Disney Company (DISB34): a companhia por ter muitas frentes de geração de receita, e ser uma marca consolidada, consegue repassar preços;
- LVMH (MC): a controladora da Louis Vitton pode repassar preços porque está focada no segmento de luxo de mercado, da extrema alta renda;
- Microsoft (MSFT34): a empresa é a principal no segmento de softwares e detém a maior parte do mercado, o que a permite repassar preços;
- Apple (AAPL34): além da força da marca, a Apple tem uma grande capacidade de gerar receita mantendo um ecossistema fechado com seus produtos e serviços.
Carteira de ações para vencer a inflação
Empresa | Segmento | Tipo de papel |
Telefônica Brasil (VIVT3) | Telecomunicações | Ação |
ISA CTEEP (TRPL4) | Energia elétrica | Ação |
Bradesco (BBDC4) | Bancos | Ação |
Vale (VALE3) | Commodities (mineração e siderurgia) | Ação |
Ambev (ABEV3) | Alimentação e bebidas | Ação |
Arezzo (ARZZ3) | Varejo de alta renda | Ação |
Grupo Soma (SOMA3) | Varejo de alta renda | Ação |
Booking (BKNG34) | Hotelaria e turismo | BDR |
The Walt Disney Company (DISB34) | Entretenimento | BDR |
LVMH (MC) | Moda de luxo | Ação internacional |
Microsoft (MSFT34) | Tecnologia | BDR |
Apple (AAPL34) | Tecnologia | BDR |