Mercado ensaia recuperação, mas continuidade depende dos desdobramentos da guerra nesta sexta-feira
Por ser exportador de commodities, País oferece hedge contra alta dos produtos aos investidores
O mercado financeiro continuará ligado à escalada de violência no Leste europeu, no segundo dia da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Após abalar os mercados globais no dia anterior, a ofensiva russa parece ter reduzir o seu efeito sob os agentes financeiros.
Nesta sexta-feira, 25, as bolsas asiáticas terminaram o pregão em alta e os contratos futuros negociados em Nova York, apesar de ainda em queda, reduziram as perdas.
Os investidores buscam avaliar o impacto no médio e longo prazo das sanções ocidentais contra a Rússia após a invasão na Ucrânia. É consenso que ainda sobrou espaço para o endurecimento dessas medidas, o que indica que se espera mais da escala russa na região.
Futuros/bolsas americanas
- S&P 500: -0,64%
- Dow Jones: -0,62%
- Nasdaq 100: -0,52% (dados atualizados às 7h53)
Os países do Ocidente redobraram seus esforços para reduzir a capacidade da Rússia de fazer negócios - congelando ativos bancários e cortando empresas estatais - mas optaram por manter por enquanto Moscou dentro do sistema bancário internacional SWIFT, sem impor qualquer tipo de sanção ou restrição às suas exportações de petróleo e gás.
Na madrugada desta sexta-feira, no segundo dia da ofensiva, tropas russas intensificaram o cerco à capital da Ucrânia, Kiev. Autoridades ucranianas acreditam que esta sexta-feira pode ser o dia mais duro na guerra entre os dois países. Segundo o Ministério do Interior ucraniano, ao menos 33 alvos civis foram bombardeados no país pela Rússia nas últimas 24 horas. Líderes e políticos militares da Ucrânia trabalham com um cenário de invasão da capital ainda hoje.
Segundo um correspondente da agência francesa France-Presse, explosões e tiros foram registrados no bairro de Obolonsky, no norte de Kiev. Moradores correram para buscar proteção quando ouviram as explosões.
Os americanos acreditam que o avanço rumo à capital tem o objetivo de derrubar o governo do presidente Volodmir Zelenski. O líder ucraniano, por sua vez, declarou que "grupos subversivos" estão tomando Kiev.
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, comparou os bombardeios russos a Kiev com os bombardeios da Alemanha nazista no país em 1941.
Nesta sexta-feira, a Otan realiza uma reunião extraordinária para discutir o assunto e participará de entrevista coletiva agendada para às 14h.
Ofensiva russa entra no segundo dia e testa mercados; bolsas asiáticas fecham no positivo
Os mercados na Ásia fecharam majoritariamente em alta nesta sexta-feira, à medida que Wall Street se recuperou de forma surpreendente nos negócios da tarde do dia anterior, após inicialmente reagir em forte queda à invasão da Ucrânia por forças russas.
Na Oceania, a bolsa australiana teve leve alta nesta sexta, após sofrer ontem sua maior queda em um único dia desde setembro de 2020, de quase 3%.
Fechamento/bolsas asiáticas
- Nikkei (Tóquio): +1,95% (26.476 pontos)
- Kospi (Seul): +1,06% (2.676 pontos)
- Taiex (Taiwan): +0,33% (17.652 pontos)
- Xangai Composto (China continental): +0,63% (3.451 pontos)
- Shenzhen Composto (China continental): +1,21% (2.310 pontos)
- Hang Seng (Hong Kong): -0,59% (22.767 pontos)
- S&P/ASX 200 (Sydney): +0,10% (6.997 pontos)
Bolsas europeias operam em alta, seguindo a busca por recuperação
Após amargar fortes perdas no dia anterior, as bolsas europeias operam em alta, tentando recuperar uma parte das perdas. Além de monitorar a invasão russa na Ucrânia, os investidores locais digerem novos dados econômicos do bloco.
Segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo Insee, instituto de estatísticas francês, o Produto Interno Bruto (PIB) da França cresceu 0,7% no quarto trimestre de 2021 ante os três meses diretamente anteriores. O resultado confirmou a estimativa preliminar, divulgada há cerca de um mês.
Ao longo de 2021, o PIB francês registrou expansão de 7%, após sofrer um tombo de 8% em 2020, em meio aos efeitos da pandemia.
Já na Alemanha, o PIB do país encolheu 0,3% no quarto trimestre, de acordo com dados da Destatis. O resultado superou a estimativa original e a previsão dos analistas, de queda de 0,7% no período.
Na comparação anual, o PIB alemão teve expansão de 1,8% entre outubro e dezembro. Também neste caso, a leitura final ficou acima do cálculo preliminar e do consenso de analistas, de ganho de 1,4%. A Destatis também revisou levemente para cima a alta do PIB da Alemanha em 2021, de 2,8% para 2,9%.
Bolsas europeias/principais índices
- Stoxx 600 (Europa): +1,66%
- FTSE 100 (Londres): +1,87%
- DAX (Frankfurt): +1,10%
- CAC 40 (Paris): +1,34% (dados atualizados às 8h08)
Revisão dos impactos da crise reduziu as perdas da Bolsa na véspera
Na véspera, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, chegou a despencar e cair 2,57%, para 109.125 pontos, na mínima do pregão, antes de iniciar uma recuperação que reduziu a queda do dia a 0,37%, com fechamento em 111.592 pontos.
Em Nova York, as Bolsas oscilaram bastante e, como no resto do mundo, tiveram quedas expressivas no início da manhã. O cenário mudou depois do pronunciamento do presidente Joe Biden: os índices reagiram e fecharam em terreno positivo. O Dow Jones subiu 0,28%, enquanto o Nasdaq avançou 3,34%. O S&P 500, no entanto, não teve tempo para mudar a direção e caiu 1,49%.
Ainda segundo Flávio de Oliveira, head de Renda Variável de Zahl Investimentos, o mercado doméstico precificou mal inicialmente o impacto do conflito sobre a economia do País, grande exportador de commodities, um segmento que se beneficiou da escalada militar da Rússia sobre a Ucrânia.
A revisão dos impactos da crise, em favor do País, possibilitou certo distanciamento da Bolsa brasileira do comportamento negativo dos demais pares internacionais e abriu caminho para a recuperação. Que por pouco não levou a um fechamento positivo da B3.
Tensão acentuou a aversão ao risco e dólar ganhou força
A visão otimista com que os especialistas avaliam o País como possível destino de recursos, nesse cenário de agravamento de tensões globais, não deprimiu o dólar. A tensão geopolítica global acentuou a aversão ao risco e os investidores correram atrás de ativos mais seguros, fora dos emergentes, como o dólar e os títulos americanos.
Após quatro quedas seguidas, o dólar pegou carona no ambiente de estresse e recuperou-se ao valorizar 2,02%, cotado por R$ 5,10, no fechamento dos negócios. Especialistas entendem que a tendência do dólar, que no dia anterior havia embicado abaixo de R$ 5,00, dependerá do fluxo de capital estrangeiro ao País. Tanto para aplicação em renda fixa, quanto principalmente para a compra de ações.
Pedro Serra, head de Research da Ativa Investimentos, vê o risco de que o fluxo de capital externo que vinha aportando na bolsa brasileira, uma parcela substancial vinda da própria Rússia, tome outra direção. “Talvez esse capital possa voltar a um ponto seguro, a um país desenvolvido.” / com Júlia Zillig e Agência Estado