Big techs americanas reportam números bilionários, mas problemas na cadeia produtiva afetam o desempenho
A escassez global de semicondutores afetou o desempenho de algumas big techs, enquanto outras superaram as expectativas do mercado
Como em temporadas anteriores de balanços corporativos trimestrais nos Estados Unidos, desta vez não foi diferente, as big techs - ou gigantes da tecnologia, catalisaram as atenções.
Entre essas companhias, a Microsoft, Google e Spotify surpreenderam positivamente os analistas e investidores, demonstrando um bom crescimento e gerando lucros aos seus acionistas. Outras, no entanto, como a Apple e a Amazon, apesar dos números bilionários, enfrentam dificuldades trazidas pela escassez global de semicondutores e outros problemas nas cadeias produtivas.
De concreto, a temporada do terceiro trimestre de 2021 veio forte e sustentou os principais índices das bolsas de valores americanas em patamares elevados nos últimos dias, mesmo com uma série de incertezas no radar dos investidores em relação ao rumo da política monetária nos Estados Unidos.
Destaques positivos entre as big techs
O maior destaque entre as big techs no terceiro trimestre veio da Microsoft, que surpreendeu o mercado com uma receita robusta de US$ 45,3 bilhões, ante as expectativas de US$ 43,9 bilhões. Já o lucro por ação da companhia foi de US$ 2,71, enquanto as projeções apontavam para um valor menor, de US$ 2,07.
Em relatório, analistas da XP Investimentos destacam que "o negócio de nuvem (Azure) da Microsoft, principal propulsor do crescimento da empresa, faturou 36% a mais do que no terceiro trimestre de 2020".
Outra gigante a surpreender positivamente os analistas foi a Alphabet, controladora do Google. Assim como a Microsoft, a principal fonte do crescimento da companhia veio do seu programa de nuvem, que teve alta de 45% em relação ao ano passado. A receita da Alphabet foi de US$ 53,6 bilhões, um pouco acima do esperado, US$ 52,6 bilhões.
O lucro líquido da empresa, porém, veio abaixo das expectativas: US$ 16,2 bilhões ante US$ 19,15 bilhões, gerando um lucro por ação de US$ 23,9.
Ainda no campo das boas surpresas, a XP definiu o Spotify como "música para os ouvidos dos acionistas". A empresa de streaming de músicas e podcasts teve uma "forte captação de assinantes de seu serviço premium e boa demanda por anunciantes", explicam os especialistas da corretora.
Neste contexto, a companhia teve um crescimento de 27% em sua receita no último trimestre, chegando a 2,5 bilhões de euros, com uma alta de 19% em seus usuários ativos - 381 milhões, dos quais 172 milhões são assinantes do modelo premium -, além de uma disparada de 75% na receita adquirida por meio de anúncios, o que levantou para o Spotify cerca de 323 milhões de euros.
"A empresa também tem investido em seu negócio de podcast para rivalizar com o da Apple que tardiamente lançou uma plataforma de assinatura paga para podcasters nos Estados Unidos com abertura para publicidade. O Spotify investe em podcasts desde 2018 com uma série de aquisições e atualmente tem 3,2 milhões de podcasts em sua plataforma, contra 2,9 milhões no último trimestre", comenta a XP.
O fenômeno Round 6
Para quem é amante de séries e filmes, talvez já não seja uma surpresa o sucesso estrondoso de "Round 6", série sul-coreana da Netflix que, em pouco tempo, se tornou o produto mais visto da plataforma de streaming.
O que surpreendeu a todos, no entanto, é que na esteira dos números alcançados com essa e outras séries, como a espanhola "La Casa de Papel" levou a um aumento de 4,4 milhões de assinantes da Netflix, muito acima das expectativas de 3,8 milhões do mercado.
A quantidade de novos usuários na plataforma levou a empresa a registrar uma receita de US$ 7,5 bilhões, enquanto o lucro por ação foi de US$ 2,88, 10% a mais do que as projeções.
"Para o próximo trimestre, a empresa pretende seguir com sua aposta em conteúdos estrangeiros, visando repetir o sucesso observado ao longo do ano e, com isso, aumentar 8,5 milhões de assinantes em sua plataforma. A expansão fora do eixo EUA-Canadá é uma tentativa de se consolidar como líder isolado no setor de streaming, mesmo com o aumento da concorrência", afirma a XP.
O fator Apple
Com as mudanças aplicadas pela Apple em sua política de privacidade há alguns meses, que permite aos usuários do sistema iOS escolherem como preferem que seus dados sejam tratados pelos aplicativos, muitas empresas, entre elas algumas big techs, passaram a enfrentar dificuldades que impactaram na receita do terceiro trimestre.
Uma das primeiras companhias a relatar problemas foi o Snapchat, que reportou receita de US$ 1,06 bilhão, ante expectativa de US$ 1,10 bilhão. A XP explica que a troca da política de privacidade da Apple vem causando grandes dificuldades no segmento de advertising (propaganda) das empresas, uma vez que seus clientes não conseguem monitorar a performance de campanhas de marketing apropriadamente.
Apesar das dificuldades, o Snapchat surpreendeu positivamente o mercado com o valor do seu lucro por ação 143% acima das projeções de mercado: US$ 0,17 ante US$ 0,07.
O gigante Facebook, dono das redes sociais Instagram, WhatsApp, Facebook e Messenger, também se manifestou contra as mudanças trazidas pela empresa da maçã. A companhia de Mark Zuckerberg reportou receita de US$ 29 bilhões, abaixo das projeções de US$ 29,6 bilhões. Já o lucro por ação foi de US$ 3,22, em linha com o que era esperado pelos especialistas.
A falta de matéria-prima para as big techs
A escassez global de semicondutores e outros problemas nas cadeias produtivas são assuntos que assombram as big techs há alguns meses. Na última temporada de balanços, inclusive, algumas dessas empresas já haviam informado que esperavam sentir o impacto da falta de matéria-prima neste trimestre.
Uma das companhias mais afetadas foi a Apple, que teve uma receita de US$ 83,3 bilhões, enquanto os analistas esperavam um número na casa dos US$ 84,6 bilhões. O lucro por ação da big tech ficou em US$ 1,23, acompanhando as expectativas do mercado.
"Em contrapartida, a Apple está atualmente em meio a um crescimento massivo, à medida que as vendas de iPhones, iPads e Macs explodiram durante a pandemia, corroborando para um crescimento de receitas total na casa dos 33% ano contra ano. Além disso, o segmento de serviços da companhia cresceu 26% ao ano e, atingiu cerca 745 milhões de assinaturas pagas, incluindo todas as modalidades de subscrição que empresa", ressaltam os analistas da XP.
A Microsoft, apesar de surpreender positivamente com seus números, também informou em seu balanço que a fabricação de seus produtos vem sendo afetada pela crise. De acordo com a companhia, o Windows 11, Xbox Series X e Series S foram alguns dos produtos mais impactados, com a falta de chips limitando as vendas de novos computadores e videogames.
Já a Amazon, que também passa pelos desafios trazidos pela escassez de matéria-prima em sua cadeia de suprimentos, informou que o fim das medidas de isolamento social desaceleram as vendas online, com os consumidores voltando a buscar seus produtos em lojas físicas. Dessa forma, a receita da companhia foi de US$ 110 bilhões no terceiro trimestre, ao passo que as projeções indicavam US$ 111 bilhões.
Entretanto, o que realmente surpreendeu o mercado foram os números do lucro por ação da empresa. Enquanto as estimativas esperavam algo em torno de US$ 13,2, a Amazon registrou um lucro por ação muito inferior, de US$ 6,12.
As perspectivas para a crise de semicondutores é que ela dure, pelo menos, até meados de 2022. Uma análise desenvolvida pelo banco Goldman Sachs e apresentada pela XP Investimentos elencou alguns fatores que devem melhorar o cenário de escassez nos próximos meses:
- A produção de semicondutores deve crescer no último trimestre do ano, conforme os países asiáticos controlam o avanço do número de casos de covid-19 causados pela variante delta no território;
- O fim do seguro desemprego emergencial nos Estados Unidos, oferecido como forma de enfrentar os impactos econômicos causados pela pandemia, deve levar a uma maior oferta de mão-de-obra no país norte-americano;
- A redução no congestionamento de portos nos EUA após períodos comemorativos de fim de ano, levando a uma normalização do fluxo de importações e exportações durante o primeiro semestre do ano que vem.