Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) disparam e impactam fundos comprados nos papeis; confira
Setor tem muitos desafios pela frente como juros elevados, alta da inflação, do câmbio e dos preços do petróleo
Depois de derreterem em fevereiro, atingir as mínimas históricas e ter notas das empresas rebaixadas pelas agências de rating, as ações das aéreas fecharam com forte valorização nesta segunda-feira, 6: as da Azul (AZUL4) subiram 37,98% e as da Gol(GOLL4), 23,78%. Mas será que as companhias terão céu de brigadeiro daqui para frente? E como ficam os fundos com exposição aos papeis?
Acordos para refinanciamento das dívidas das duas empresas, que flertaram com a recuperação judicial, estão por trás da surpreendente alta dos papeis. Com os arrendadores de seus aviões, a Azul conseguiu esticar 90% das dívidas para 2030, o que vai resultar em geração de caixa de R$ 3 bilhões já a partir deste ano.
Já a Gol anunciou a reestruturação de parte da sua dívida, com a injeção de sua controladora, a holding Abra, de US$ 1,4 bilhão, o equivalente a R$ 7,3 bilhões pela cotação atual.
Na verdade, desde a pandemia as empresas do setor aéreo não conseguiram se recompor do baque decorrente das restrições de mobilidade, fechamento de espaço aéreo, alta do petróleo, aumento das passagens com queda da demanda entre outros fatores.
Veja no gráfico abaixo, feito no Comparador de Ativos da Mais Retorno, a queda das ações é muito mais expressiva do que o Ibovespa nos últimos 3 anos.
Com o sobe-e-desce dos papeis e vulnerabilidade do setor, a Mais Retorno fez um estudo para identificar os fundos com as posições mais pesadas em Azul, em Gol, e nas duas ações.
No levantamento, foram considerados fundos abertos ao público em geral, com o mínimo de 100 cotistas.
Fundos comprados em Azul
Em um universo de 33 fundos, que reúnem patrimônio total de R$ 8,6 bilhões e 61 mil cotistas, e uma exposição total em Azul (AZUL4) de R$ 25,668 milhões, as maiores posições compradas no papel são de dois fundos de ações da Caixa e um Multimercado do BTG. Os dados que vão nas tabelas são do dia 31 de janeiro de 2023.
Fundo | Valor em Azul | Patrimônio | Cotistas |
FIA Caixa Small Caps Ativo | R$ 7,911 mi | R$ 583,745 mi | 6.737 |
BTG Pactual Tactical Bonds FIM | R$ 2,860 mi | R$ 310.984 mi | 5.420 |
FIA Caixa Infraestrutura | R$ 2,339 mi | R$ 208,524 mi | 2.790 |
Fundos comprados em Gol
Entre 21 fundos selecionados com alocações totais de R$ 7,487 milhões em Gol (GOLL4), com patrimônio total de R$ 9,3 bilhões e 50.479 cotistas, os 3 com mais concentração no papel, são os mesmos dois fundos da Caixa e um de Previdência do Banco do Brasil.
Fundo | Valor em Gol | Patrimônio | Cotistas |
FIA Caixa Small Caps Ativo | R$ 2,966 mi | R$ 583,745 mi | 6.737 |
FIA Caixa Infraestrutura | R$ 1,109 mi | R$ 208,524 mi | 2.709 |
Brasilprev TOP A FIA | R$ 929,510 mil | R$ 1,439 bi | 107 |
Fundos comprados em Azul e Gol
Na triagem dos fundos com os dois papeis na carteira apareceram 16 fundos, com patrimônio total de R$ 7,403 bilhões, exposição total de R$ 23,969, reunindo 50.479 cotistas. Os 3 mais carregados são os mesmos dois da Caixa e mais um do Banco do Brasil.
Fundo | Exposição Gol e Azul | Patrimônio | Cotistas |
FIA Caixa Small Caps | R$ 10,887 mi | R$ 583,745 mi | 6.737 |
FIA Caixa Infraestrutura | R$ 3,448 mi | R$ 208,524 | 2.709 |
Brasilprev TOP A FIA | R$ 3,408 mi | R$ 1,439 bi | 107 |
O outro lado
Procurados pela reportagem, BTG Pactual e Banco do Brasil responderam que não se pronunciariam, e a Caixa informou que “os dois fundos mencionados representam alocações passivas, em linha com seus índices de referência. As exposições decorrem da existência do ativo na composição de seus benchmarks, ou índices setoriais de referência”.
Dados atualizados da Caixa
A Caixa também informou os dados atualizados de seus fundos com posições no dia 1 de março. Houve redução no número de cotistas, patrimônio total e exposição aos papeis.
O FIA Caixa Small Caps Ativo tem 6.582 cotistas, patrimônio de R$ 511,719 milhões com exposição em Azul de R$ 4,577 milhões; e em Gol, de R$ 2,003 milhões; ou um total de R$ 6,561 milhões em ambas.
O FIA Caixa Infraestrutura tem 2.617 cotistas, patrimônio de R$ 186,55 milhões com exposição em Azul de R$ 2,017 milhões; em Gol de R$ 935,500 mil; ou um total de R$ 2,952 em ambas.
Confira o comportamento dos 4 fundos de 29 de junho de 2022 a 2 de março de 2023.
O que o mercado espera
André Fernandes, head de renda variável e sócio A7 Capital, diz que com o estresse trazido por Americanas e Lojas Marisa, o mercado redobrou a atenção com empresas que carregam dívidas elevadas e níveis pouco saudáveis de alavancagem para sustentar e pagar essas dívidas. “Apesar disso, não acredito que nem Gol, e nem a Azul, devem pedir recuperação judicial no curto prazo.” diz ele.
O especialista da A7 Capital explica que no caso da Gol o grupo controlador, a holding Abra Group, se comprometeu a injetar US$ 400 milhões no caixa da Gol, dando assim um alívio para empresa nos próximos 3 anos. E isso vai permitir à Gol rolar suas dívidas de curto prazo. “Mesmo com o alto custo dessa dívida, 18% em dólar, a Gol ganhou mais 3 anos para se reestruturar” pondera Fernandes
E a Azul conseguiu um acordo, anunciado nesta segunda-feira, para rolar o pagamento de 90% das dívidas com leasing das aeronaves até 2030.
Dificuldades do setor
Mesmo com esse alívio pontual, Fernandes destaca que o setor aéreo é bem complicado, exige altos investimentos para renovação de suas frotas, e o custo de aviões parados é alto. Um cenário de taxa de juros elevada acaba prejudicando essas empresas, principalmente por conta do alto nível de endividamento.
Outros pontos lembrados por Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, são a questão do câmbio, porque os maiores custos dessas empresas são em dólares, e os preços do petróleo que, segundo ele, são outro foco de preocupação, porque afetam diretamente o preço do querosene de aviação.
Em relação ao impacto nos fundos de investimento, Fernandes acredita que será pequeno pela diversificação das carteiras. “Acreditamos que por conta da pandemia em 2020 e o cenário inflacionário que assolou nosso país no pós-pandemia, muitos fundos que tinham posição nesses ativos acabaram zerando suas posições”.