Economia

Agosto começa com nova Selic; o que esperar dos ativos neste mês?

Comportamento da inflação e da atividade nos Estados Unidos e abertura da economia na China também estão no radar do mercado

Data de publicação:01/08/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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O novo mês tem início nesta segunda-feira e, já na virada, terá nova taxa básica de juros, a Selic. A estimativa do mercado financeiro é que ela tenha um aumento de 0,50 ponto porcentual, que levaria a taxa atual de 13,25% ao ano para 13,75%.  A decisão será tomada na quarta-feira, dia 3, pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC).

A nova Selic norteará boa parte das decisões de investimento ao longo do mês. Não apenas o novo juro básico, mas principalmente os passos seguintes de política monetária. A expectativa do mercado é que essa indicação venha no comunicado que o BC divulga logo após a reunião.

Foto: Reprodução

É nesse documento que o mercado espera encontrar também indicações sobre possível fim do ciclo de alta, iniciado em março de 2021, quando a Selic estava na mínima histórica de 2% ao ano.

Gustavo Menezes, gestor de portfólio macro da AZ Quest, associa o eventual fim do ciclo de alta da Selic às futuras decisões de política monetária do Fed (Federal Reserve, banco central americano).

Menezes classifica o mercado de dívida americano como espinha dorsal do mercado financeiro global e diz que a falta de ideia da direção dos juros estampados nos Fed funds (títulos de curto prazo americanos) dificulta previsões sobre a Selic. Ele acredita, no entanto, que o ciclo de ajuste doméstico esteja próximo do fim.

Condições objetivas para isso, aponta, são a queda dos preços internacionais do petróleo, o tom mais brando da fala do Fed, a revisão pelo mercado americano da inflação implícita nos títulos, dados recentes de atividade negativos nos EUA. “Na margem, o Banco Central tem mais condições de encerrar o ciclo agora”, avalia.

“Tudo isso é um cenário que ajuda, deixa o Banco Central confortável para aumentar mais 0,50 ponto e terminar o ciclo nesta quarta”, comenta Menezes. Ele entende, contudo, que, na soma do cenário externo e doméstico, o ambiente interno de inflação persistente, mercado de trabalho aquecido e atividade em alta, sobretudo em serviços, compõem um quadro mais desafiador para a autoridade monetária.

De todo modo, com o cenário externo pouco mais favorável e o juro doméstico em nível que considera restritivo, “ficou mais tangível o BC fazer essa pausa na alta dos juros para observar os efeitos defasados da política monetária”, acredita. “E fazer um ajuste fino, se necessário, com mais um aumento de 0,25 ponto”, na reunião seguinte, em setembro.

O cenário externo mais favorável, como visto nos últimos dias, não significa que as incertezas desapareceram do radar do mercado financeiro.  “As notícias recentes foram favoráveis aos ativos de risco, mas a cautela continua”, alerta Menezes. “O cenário está aberto. Agosto pode confirmar o otimismo ou trazer novas incertezas.”

Luiz Cesta, head de análise da Monett, diz que o foco do mercado financeiro ao longo do mês que está começando será o comportamento da inflação e da atividade nos Estados Unidos. “É um mês em que vai persistir a dúvida sobre a inflação e os juros americanos”, com impacto sobre as decisões de gestores e investidores domésticos.

Os dados sobre emprego, inflação e atividade nos EUA são elementos que o mercado vai acompanhar muito de perto, reforça Gustavo Bertotti, economista e head de renda variável da Messem Investimentos.

Bertotti identifica um tom mais brando e “uma mensagem positiva ao mercado” quando Jerome Powell, presidente do Fed, declara que em algum momento vai desacelerar a alta dos juros. Seria uma indicação de que “pode aumentar menos os juros em setembro e foi isso que levou a uma recuperação dos ativos de risco nos últimos dias”, acredita.

O economista da Messem, que prevê uma alta de 0,50 ponto porcentual na Selic, para 13,75%, e o fim do ciclo nesta quarta-feira, diz que outro fator de atenção no exterior é a China. Para ele, uma redução dos contágios de covid, seguida de abertura da economia chinesa, deve impactar positivamente o País, grande exportador para o país asiático.

Trajetória da bolsa e inflação no mercado interno

A expectativa de especialistas é que a bolsa de valores permaneça mais influenciada por eventos internaciomais. Principalmente pelos dados da economia americana que possam afetar as decisões de política monetária do Fed.

Menezes acredita que agosto seja mais favorável aos ativos de risco, como ações e dólar, com eventual postura mais comedida do Fed na condução da política de juros nos EUA.

A disputa para a presidência da República por aqui também tende a impactar o mercado de ações, "mas a campanha eleitoral está ainda apenas no começo".

O gestor de portfólio macro da AZ Quest não está otimista com a trajetória da inflação em agosto. Especialistas se dividem entre os que apostam em continuidade de deflação prevista para julho e a volta do IPCA para o campo positivo em agosto, embora abaixo dos índices mais recentes.

"A inflação de agosto não deve trazer surpresas, ela continua em persistente alta, tirando da frente as medidas que reduziram alguns preços, como combustíveis e energia", diz Menezes.

Eleição aumenta a aversão ao risco

Bertotti acredita que a aversão ao risco deve ganhar força em agosto com o início pra valer da corrida eleitoral. O mercado de dólar, segundo ele, deve passar por maior volatilidade, mas o comportamento de preços estaria ligado à busca de proteção que dependeria da avaliação de indicadores econômicos e declarações sobre inflação e juros nos EUA.

“A expectativa é que a campanha eleitoral fique mais acirrada em agosto”, afirma Cesta, head de análise da Monett. “A volatilidade deve aumentar nos mercados e deve estar muito ligada à divulgação de pesquisas eleitorais”, em um ambiente mais aquecido de disputa política.

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Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.