Retorno de Eletrobras em 2 meses é maior do que o do FGTS em um ano; o que esperar dos papéis?
Perspectivas são positivas para as ações da companhia de energia elétrica e especialistas recomendam compra
Quem optou por comprar ações da Eletrobras com os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) na época da privatização da empresa está sorrindo à toa. Enquanto a rentabilidade fixa anual para quem deixa o dinheiro no FGTS é de 3%, desde que a empresa de energia foi privatizada, no começo de junho, suas ações já dispararam 7,85% (ELET3) e 12,68% (ELET6), com base no fechamento do pregão desta quinta-feira, 28.
Desde 2017 os trabalhadores recebem parte dos lucros obtidos pelo fundo no ano imediatamente anterior. Na última semana, o Conselho Curador do FGTS informou que o fundo distribuiria R$ 13,2 bilhões aos 106,7 milhões de cotistas. De acordo com a Caixa Econômica, os créditos na conta vinculada do Fundo foram concluídos na última terça-feira, 26, e para cada R$ 100 de saldo, foram pagos R$ 2,75 ao trabalhador.
Portanto, somando a rentabilidade fixa do FGTS mais o valor sobre os lucros, neste ano o fundo entregará um retorno de 5,75% aos seus investidores, mesmo assim abaixo da valorização dos papéis da Eletrobras. Além de não superar a valorização das ações da companhia, a rentabilidade do FGTS também perde da inflação. No acumulado em 12 meses até junho de 2022, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já subiu 11,89%.
Especialistas ouvidos pela Mais Retorno consideram que o investimento na Eletrobras continua sendo uma boa opção mesmo depois da valorização expressiva registrada após a privatização. As perspectivas para a empresa continuam otimistas tanto para o curto quanto para o médio e longo prazo.
FGTS X Inflação X Ações da Eletrobras
Enquanto o retorno do FGTS este ano é de 5,75%, a inflação anual já roda acima de 11%. Quase metade do patrimônio do trabalhador foi engolido pela inflação.
Já as ações da elétrica fazem bonito diante da inflação em período mais recente, em que o comportamento das ações já refletem a perspectiva de privatização da empresa.
Considerando o intervalo de janeiro a junho de 2022, o IPCA acumulado é de 5,49%, enquanto a valorização de Elet3, no mesmo período, é de 37,52%, e de Elet6, de 42,93%.
Vale a pena investir nas ações da Eletrobras?
O Itaú BBA, gestora do Itaú Unibanco, retomou a cobertura das ações da Eletrobras e elegeu os papéis como seu top pick (ou melhor escola, na tradução) dentro do setor de utilities - segmento da economia ligado às empresas de utilidade básica, como energia elétrica e saneamento básico. Em relatório, a instituição reforça a indicação de compra para os papéis, com um preço-alvo de R$ 62 por ação até o fim do ano.
"A Eletrobras é nossa principal escolha no setor de utilities, com base em seu enorme tamanho, avaliação muito atraente, forte geração de fluxo de caixa e capacidade de pagar um rendimento de dividendos muito alto no médio prazo. A empresa não está mais “acorrentada” e a equipe de gerenciamento agora terá muito mais flexibilidade para implementar as mudanças que podem torná-la uma das melhores concessionárias de energia do mundo."
Marcelo Sá, Fillipe Andrade, Luiza Candiota e Karoline Correia, analistas CNPI do Itaú BBA
Os analistas da gestora pontuam, entretanto, quais os pontos que devem ser tratados como prioridade pela Eletrobras para que o seu crescimento ocorra de forma sustentável:
- Aceleração do uso de créditos tributários;
- Eventuais liquidações de contingências e empréstimos compulsórios;
- Otimização da carteira de ativos (no âmbito de fusões e aquisições);
- Construção de um negócio de comercialização de energia de alto nível;
- Preparação da empresa para que os negócios possam crescer.
Novo conselho e nova diretoria
Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, afirma que, no curto prazo, a grande expectativa do mercado em relação à Eletrobras é sobre a próxima Assembleia Geral, prevista para dia 5 de agosto e que vai eleger os novos conselheiros da empresa. Depois disso, a próxima eleição do conselho não acontecerá antes de 2025.
O especialistas destacam que, até aqui, há apenas uma chapa para competir pelo conselho. No entanto, Arbetman considera que a chapa é "muito firme, com pessoas de renome no setor de energia elétrica", o que traz bons prognósticos para a eleição.
Bernardo Viero, analista CNPI da Suno Research, compartilha da mesma opinião e acrescenta que "a expectativa é de que a empresa, agora privatizada, também atraia uma diretoria de muita qualidade e experiência no setor logo na sequência, o que pode funcionar como um gatilho positivo."
Após a realização da Assembleia, o conselho terá de escolher o novo CEO da companhia. Segundo Arbetman, um ponto positivo que veio com a privatização é que, agora, o CEO não precisa mais ser conselheiro e, dessa forma, o principal nome cotado para presidir a empresa é o de Wilson Ferreira, que já ocupou o mesmo cargo anos antes, mas acabou de sair da diretoria da Vibra Energia.
Perspectivas para a empresa
Se concretizado esse cenário e admitindo que os novos conselho e diretoria façam um bom trabalho, como são as expectativas do mercado, o Itaú BBA prevê uma redução total de R$ 4,6 bilhões nas despesas controláveis da Eletrobras, o que equivale a uma queda de cerca de 55%. "Mas vemos potencial para ainda mais cortes", ressaltam os analistas.
Arbertman afirma que há uma série de ações otimizadoras que podem ser feitas para que a companhia reduza seus gastos e amplie os retornos aos acionistas, inclusive com dividendos. O especialista destaca que a companhia pode rever contratos com fornecedores, desenvolver planos de demissão voluntária e mudar as formas de contratação de serviços, entre outras ações que podem oferece mais flexibilidade a seus negócios.
"Ainda assim, vale destacar que o otimismo com a 'nova Eletrobras' está muito mais pautado em um horizonte de médio e longo prazo, em que a empresa poderá se beneficiar dos novos contratos de venda de energia a preço de mercado com a descotização de uma parcela relevante de suas usinas, que antes da capitalização estavam vinculadas a contratos nocivos e que geravam menos receitas para a empresa."
Bernardo Viero, analista CNPI da Suno Research
O analista conclui dizendo que qualquer processo de otimização e ganho de eficiência em uma estrutura grande como a de uma companhia do tamanho da Eletrobras demanda tempo. "Sendo assim, a diminuição nos custos e despesas gerenciáveis esperada deve evoluir gradualmente, beneficiando os investidores mais pacientes", finaliza.
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