Ações defensivas para 2022: quais os papéis indicados para se proteger da volatilidade de um ano eleitoral
Para os analistas, melhores oportunidades estão nas empresas de serviços essenciais
Depois de um ano difícil para a Bolsa de Valores brasileira, que saiu da sua máxima histórica de 130.776 pontos em junho para fechar o ano próxima do patamar dos 100 mil pontos, a dúvida que pode surgir para muitos investidores é se ainda vale a pena investir no mercado de ações em 2022. O próximo ano tem eleições presidenciais marcadas para o segundo semestre e esse ingrediente pode acrescentar ainda mais volatilidade ao Ibovespa.
Para Paula Zogbi, analista de investimentos da Rico, no entanto, são nos momentos de estresse que as melhores oportunidades aparecem e a Bolsa ainda pode trazer bons rendimentos para o investidor. Neste contexto, os especialistas consideram que as melhores opções são as ações defensivas, como as de empresas de consumo não cíclico e prestadoras de serviços essenciais, caso dos supermercados e companhias de saneamento básico.
A analista da Rico comenta que a corretora desenvolveu um estudo para analisar o desempenho do Ibovespa em anos eleitorais. Com base nos dados históricos, o período de maior volatilidade para o índice é próximo do segundo turno das eleições. Porém, Paula destaca que a Bolsa brasileira é historicamente bastante volátil e que o fato das eleições estarem próximas não faz do mercado de ações um investimento ruim.
Principais teses de investimento
Para passar pelo período de maior volatilidade, Paula ressalta que há três principais teses de investimento a fim de proteger o patrimônio. A proteção, neste caso, não é nem apenas contra as incertezas trazidas pelas eleições, mas também contra a deterioração do cenário macroeconômico, com os juros e a inflação subindo e o crescimento desacelerando, e contra as incertezas fiscais que, segundo a analista, permanecem fortes no próximo ano.
As três principais teses, de acordo com Paula, são:
- Commodities: as companhias ligadas ao setor de commodities são bons ativos para proteção do patrimônio contra a inflação e a alta do dólar, já que o preço desses produtos não é determinado com base no cenário doméstico;
- Empresas defensivas com história de crescimento forte: estas são líderes de seus setores e dependem menos do cenário macroeconômico para se destacar, como as empresas de consumo não cíclico, caso dos supermercados e varejo farmacêutico;
- Empresas de qualidade que estão descontadas: alguns bancos e shoppings centers, por exemplo, tiveram o valor de suas ações muito descontado durante o período de pandemia, mas os fundamentos das empresas não necessariamente foram afetados.
Ações defensivas para compor a carteira
Empresas com exposição ao exterior
João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos, pontua que, para o ano que vem, o mercado acionário apresenta boas oportunidades de rendimento com empresas que possuem bastante resiliência e exposição ao cenário externo. "Eu citaria a Suzano como um dos exemplos mais claros em relação a isso, grande parte das receitas em dólares, então acaba sendo uma proteção contra essa volatilidade que a gente espera no cenário doméstico", afirma Freitas.
No terceiro trimestre de 2021, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) da companhia atingiu R$ 6,310 bilhões, alta de 67% ante o mesmo período do ano passado e de 6% em relação ao segundo trimestre deste ano. A receita líquida também subiu e alcançou R$ 10,762 bilhões entre julho e setembro. A Suzano diz no relatório que o período foi marcado pelo forte volume de vendas e pela resiliência do preço de celulose.
Outra empresa com forte exposição ao exterior é a JBS. Freitas considera que a exportadora de carnes "está num setor que está andando muito bem, que é o de proteína animal". Em seu balanço trimestral, a companhia reportou uma disparada de 142,1% em seu lucro líquido na comparação anual, chegando a R$ 7,586 bilhões entre julho e setembro - ou um lucro por ação de R$ 3,01.
Serviços essenciais
O analista da Toro afirma que, apesar de bastante exposta ao cenário doméstico, uma empresa que deve continuar trazendo lucros ao seus acionistas é a Raia Drogasil. Além de ser a líder de seu setor aqui no Brasil, Freitas destaca que os itens do varejo farmacêutico são produtos com "uma necessidade de urgência maior, não podem ser deixados para depois", o que torna a demanda menos elástica e oferece uma maior estabilidade para a empresa e o investidor.
"Além disso, a gente vem numa tendência de envelhecimento da população, o que deve acabar aumentando a demanda por medicamentos e serviços médicos nos próximos anos".
João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos
De acordo com Pedro Palmezani, analista CNPI da CM Capital, outras boas opções dentro do mercado acionário são as empresas de saneamento básico e energia elétrica. Por oferecerem serviços essenciais, essas companhias tendem a não ter suas receitas impactadas pela inflação, a alta nos juros e a própria volatilidade do período eleitoral.
"Em um ano eleitoral presidencial aqui no Brasil, a gente precisa pensar em estratégias de compor a carteira com setores perenes da economia. Eu preciso ter aquelas empresas que oferecem um serviço essencial e que têm uma perspectiva de continuar aumentando o lucro dos seus acionistas".
Pedro Palmezani, analista CNPI da CM Capital
Setor bancário
Palmezani ressalta que os bancões - setor que tem o maior peso dentro do Ibovespa, cerca de 17% - também podem trazer bons resultados no próximo ano.
O analista explica que os grandes bancos privados têm demonstrado bons lucros em 2021, mas ainda não conseguiram se recuperar completamente dos impactos ocasionados pela pandemia de coronavírus. Dessa forma, os especialistas consideram que as ações do setor estão descontadas e que, com o aumento na taxa de juros, os bancos podem se beneficiar a aumentar seus lucros.
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Lista de ações defensivas para 2022
Empresa | Código | Setor |
Suzano | SUZB3 | Papel e celulose |
JBS | JBSS3 | Alimentação |
Raia Drogasil | RADL3 | Varejo farmacêutico |
Bradesco | BBDC4 | Bancos |
Itaú | ITUB4 | Bancos |
Santander | SANB11 | Bancos |
Sanepar | SAPR4 | Saneamento básico |
Sabesp | SBSP3 | Saneamento básico |
Copasa | CSMG3 | Saneamento básico |
Eneva | ENV3 | Energia elétrica |
AES Brasil | AESB3 | Energia elétrica |
Taesa | TAEE11 | Energia elétrica |
Alupar | ALUP11 | Energia elétrica |
Transmissão Paulista | TRPL4 | Energia elétrica |
Equatorial | EQTL3 | Energia elétrica |
Ações defensivas X Setores de risco
Embora algumas ações sejam mais defensivas na hora de compor a carteira para enfrentar a volatilidade do próximo ano na Bolsa, os especialistas pontuam, também, que há aquelas empresas e setores a se tomar bastante cuidado.
Para Palmezani, os maiores riscos de 2022 devem estar com as empresas estatais federais, como o Banco do Brasil e a Petrobras. O analista explica que, por serem empresas ligadas ao governo federal, essas companhias estão mais suscetíveis às reações dos investidores diante das incertezas políticas e econômicas. "A dica é essa: evitar empresas estatais federais, repensando a alocação, a porcentagem do portfólio, porque pode passar por muita volatilidade".
Freitas finaliza dizendo que outros fatores do cenário macro também podem impactar o desempenho de alguns setores, com destaque para a construção civil e o varejo - que podem sofrer com a taxa de juros alta, que eleva os custos de produção e torna o crédito para o consumidor mais caro -, além do setor de turismo - que vem se recuperando, mas ainda pode ser impactado pelos novos avanços da pandemia.