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Empresa

Venture Capital, um mercado que acostumou mal seus investidores

O mundo continua acelerando na direção do digital e criação de valor em empresas de tecnologia

Data de publicação:27/09/2022 às 05:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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Os últimos 5 anos da indústria do Venture Capital foram muito diferentes dos 40 anos anteriores. Valuations que só sobem, exposição midiática, múltiplos irracionais, retornos espetaculares e abundância de capital disponível são exceção e não a regra.

Para quem começou a investir nesse período atípico, foi fácil se acostumar com a bonança e com a sensação de que este era o "novo normal". Não era.

Venture Capital
Foto: Envato

Venture Capital continua uma classe de ativos bastante atrativa, e que faz sentido na grande maioria dos portfólios de investimentos. O mundo continua acelerando na direção do digital e a criação de valor em empresas de tecnologia continua principalmente quando estas empresas ainda são privadas - e por consequência apenas disponíveis para os venture capitalists.

Mas a cabeça (e a cautela) do investidor de fundos de Venture Capital deve ser mais parecida com um investidor em 2005 (quando eu iniciei no trade) do que o investidor de 2017. O contexto definitivamente mudou, assim como o "playbook" de muitos gestores. Entretanto, muito me intriga o fato de que ainda muitos fundos continuam operando como se nada tivesse acontecido.

Comportamento das pessoas que passam por perdas

O modelo de Kübler-Ross, pode ser aplicado a muitos desses gestores. O modelo, originalmente desenhado para compreender o comportamento de pessoas que passam por perdas (ou mudanças) repentinas, pode ser explicado e adaptado ao mundo do Venture Capital nas seguintes cinco fases:

1 - Negação:

É o primeiro sentimento, de não querer acreditar no que aconteceu, e continuar a operar como se nada tivesse acontecido. Muitos gestores de Venture Capitals, com os mercados públicos derretendo, simplesmente fecharam os olhos e fingiram que nada estava acontecendo. Empresas que deveriam ser 'down-rounded' não foram, assim como investimentos que deveriam ter sido cancelados. Conheço algumas empresas investidas que contrataram projetos caros de consultoria, debaixo do nariz dos Venture Capitalists e sem nenhuma intervenção destes.

2 - Raiva:

Quando o investidor percebe que a negação não pode continuar, o investidor se frustra e muitas vezes 'perde a mão'. O ritmo dos investimentos pode diminuir mais do que o razoável

3 - Barganha:

Uma etapa de negociação, na qual a pessoa se compromete a mudar em busca de mais um respiro, de mais uma oportunidade. Para o mundo do Venture Capital, é o reconhecimento de que as regras mudaram e o que se fez para ter sucesso no passado não necessariamente é o que precisa ser feito para ter sucesso futuro.

4 - Depressão:

Aqui, a pessoa começa a refletir e entender as novas regras de jogo, reagindo das mais diversas maneiras; para muitos Venture Capitals, esta fase toca questões importantes de carreira - devo seguir nesta carreira se o meu sucesso resulta de operar num contexto que pode nunca mais se repetir (e é mais lento e mais exigente)?

5 - Aceitação

Por fim, a aceitação real de que aconteceu e já passou. É necessário tirar lições do passado, olhar para o futuro e se preparar para ele.

O negócio mudou. As avaliações, análises, disponibilidade de capital e expectativas também. Mudou não, está retornando ao que sempre foi, uma indústria dura, de poucos e resilientes players onde o sucesso demora e às vezes não vem - mesmo que se faça a coisa certa.

Mas, enfim, o que virá pela frente quando falamos sobre Venture Capital? Olhando pra frente, será mais uma etapa que deve ser entendida como oportunidade de estudo e aprendizado, avaliando o que foi feito de errado, os equívocos cometidos e fazer a definição de rumos que não levem aos mesmos erros. Venture Capital é assim. Você aprende ou aprende.

O autor deste artigo, Oren Pinsky, investment advisor da Iteram Capital SA, é um veterano no mundo de Venture Capital, e consultor da McKinsey. É investidor em tecnologia, empresário e executivo com mais de 20 anos de experiência na implantação de recursos e capital em negócios baseados em tecnologia (foi executivo da Qualcomm e da Philips) e habilitados para tal em todo o mundo. Também é um entusiasta na aceleração da adoção de novas tecnologias em nível continental

Sobre o autor
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