Tesouro IPCA x Tesouro Selic: qual a melhor opção neste momento
Além do rendimento é importante saber qual o prazo da aplicação
Na última quinta-feira, 17, na plataforma do Tesouro Direto, um título do Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 era oferecido ao investidor com o reajuste do IPCA no período, acrescido de um prêmio, uma taxa de juros de 5,30% ao ano.
Ao mesmo tempo, quem comprasse um título do Tesouro Selic, com vencimento em 2027, levava para casa uma aplicação reajustada pela taxa Selic, mais um juros adicional de 0,2024% sobre a taxa básica da economia.
Qual seria o mais indicado, neste momento, em que a taxa Selic está em alta e a inflação, embora em nível elevado, dá alguns sinais de gradual desaceleração?
O rendimento dos títulos do Tesouro Direto
Antes de avançar, observa abaixo os títulos atualmente à venda no site do Tesouro Direto:
Título | Rendimento | Vencimento |
---|---|---|
Tesouro Selic 2024 | Selic+0,0630% | 01/09/2024 |
Tesouro Selic 2027 | Selic+0,2024% | 01/03/2027 |
Tesouro IPCA + 2026 | IPCA+5,30% | 15/08/2026 |
Tesouro IPCA + 2035 | IPCA+5,60% | 15/05/2035 |
Tesouro IPCA + 2045 | IPCA+5,60% | 15/05/2045 |
Qual a melhor opção?
Como se vê na tabela acima, há vários desses títulos com diferentes taxas de juro e vencimentos distintos, dos mais curtos aos mais longos.
Mas, dos dois citados, qual o mais atraente: o título IPCA, com juro real prefixado e correção monetária pós-fixada colada à inflação, ou o Selic, com juro pós-fixado, amarrado à taxa básica?
Pelas características de remuneração de cada um, é importante olhar o horizonte de inflação e juros. A expectativa do mercado, segundo o boletim Focus, é que a inflação acumule alta de 5,50% em 2022.
Essa seria a correção monetária de referência para quem compra o IPCA+2026, que já garante um juro real prefixado de 5,30%. A soma de correção e juro daria um ganho nominal total de 10,80% ao ano.
A remuneração do título amarrado à Selic poderia chegar próxima de 13% ao ano, pelas previsões do mercado financeiro, em um cenário que a inflação estaria em baixa.
Descontada a inflação projetada de 5,50% para 2022, a Selic nesse nível poderia rodar embutindo juro real em torno de 7% ao ano. Essa margem positiva superior é superior à do Tesouro IPCA+2026, de 5,50%.
Portanto, pelas projeções atuais de mercado, considerando somente rendimento, o Tesouro Selic acena com um retorno mais interessante do que o Tesouro IPCA. Mas esse não deve ser o único aspecto a considerar.
Considerar o prazo da aplicação é fundamental
Em geral, os títulos públicos têm vencimentos bastante elásticos. O investidor encontra Tesouro IPCA com vencimento em 2060, portanto daqui mais de 35 anos. Victor Zucchi Meneghel, especialista em Renda Fixa da Valor Investimentos, destaca que, quanto mais longo o vencimento, maior o risco do papel para o investidor.
Essa característica exige que o prazo de vencimento do papel seja bem avaliado e esteja adequado também à necessidade de resgate. O investidor não pode decidir-se apenas pelo rendimento, mas considerar o momento de que precisará do dinheiro, um ponto importante na escolha.
Para o dinheiro guardado como reserva de emergência, que precisa estar disponível para saque a qualquer momento, os especialistas indicam o Tesouro Selic. Meneghel diz que “são títulos que oferecem menos risco, mais segurança e liquidez imediata”, além de rentabilidade atraente com o cenário de Selic ainda em alta.
O Tesouro IPCA é “interessante para quem busca juro real”, segundo Meneghel, e também para investimentos programados, em que o objetivo seja o uso dos recursos para a compra de um imóvel, por exemplo, em tempo previsto.
Mas a atenção ao prazo é importante, alerta, porque o resgate fora do vencimento pode redundar em recebimento de valores abaixo dos previstos no momento da compra do título.
O investidor só tem a garantia de que terá na conta o que está prometido no papel se permanecer com ele até o vencimento. O motivo é que títulos atrelados à inflação têm seu valor atualizado a cada dia, no mercado secundário, de acordo com a chamada curva de juros desenhada pelos contratos futuros de taxas de juro negociados na B3.
O especialista em Renda Fixa da Valor Investimentos diz que, dada as características distintas dos papeis que atendem a necessidades também distintas, “é sempre interessante ter uma carteira diversificada, formada parte com ativos de rendimento mais baixo, mas mais seguro, e parte com ativos mais arriscados, mas que rendem mais”.
Conheça mais sobre o Tesouro Direto
Mercado secundário é onde esses títulos trocam de mãos, em geral quando os fundos de investimento precisam vender o papel para atender resgates de investidores. Curva de juros em alta, pela expectativa de elevação de juros ou inflação, reduz o valor do título e pune com ganho menor quem fizer resgate no meio do caminho em um momento desses.
Relação inversa também existe. Curva de juros em baixa pode render ágio no preço do título, que fica mais valorizado e reforça o rendimento. O ideal é que o resgate seja feito apenas no prazo final de vencimento, orienta o especialista da Valor Investimentos.
Tanto o Tesouro IPCA quanto o Tesouro Selic comprados no Tesouro Direto têm nomes diferentes nas negociações no mercado secundário, cativo de fundos de investimento.
O Tesouro IPCA é uma versão da Nota do Tesouro Nacional da série B (NTN-B) e o Tesouro Selic, da Letra Financeira do Tesouro (LFT), nomes de origem na emissão primária pelo Tesouro Nacional. O investidor pode comprar títulos com prazo em andamento no mercado secundário por meio de corretoras e bancos.
Na prática, o Tesouro IPCA+ 2026 paga a cada ano, até o vencimento em 15/08/2026, juro de 5,30%, parcela que equivale ao ganho real, mais correção monetária pela variação pelo IPCA. Um título que protege o investidor contra a inflação qualquer que seja a trajetória dela.
O Tesouro Selic remunera com rendimento pós-fixado atrelado à variação da taxa básica, a que o Copom (Comitê de Política Monetária) define periodicamente a cada reunião do colegiado do Banco Central. A Selic está em 10,75% ao ano, mas alguns especialistas do mercado estimam que ela poderá chegar a mais de 12% e perto de 13% no fim do atual ciclo de elevação da Selic e permanecer em patamar elevado até o fim de 2022.