Inércia Inflacionária
O que é inércia inflacionária?
Inércia inflacionária diz respeito ao processo em que a inflação passada se reflete nos preços presentes.
Uma das formas mais comuns de inércia inflacionária é a indexação, mecanismo que reajusta automaticamente os preços de salários e benefícios assistenciais, além de determinados bens e serviços especificados em contrato (aluguéis, por exemplo) ou administrados (como a energia elétrica).
Ela tende a se perpetuar na economia por qualquer um dos seguintes fatores:
- Definição de uma meta de inflação mais alta;
- Falta de credibilidade do Banco Central (BC);
- Expectativa dos agentes, que esperam uma inflação ainda alta no futuro.
Qual a relação entre inércia inflacionária e política monetária?
Quando há inércia inflacionária, os juros devem ser mais altos, visto que a inércia só se reduz ao longo do tempo. Para combatê-la, são necessárias algumas etapas:
- Controlar a inflação atual;
- Se comprometer com uma meta;
- Propor uma redução escalonada da meta nos anos seguintes.
Qual o peso da inércia inflacionária na composição do IPCA?
A metodologia
Todo início de ano, o BC divulga, por meio de um “boxe” (quadro explicativo) no Relatório de Inflação, uma estimativa de como cada um dos componentes abaixo influenciou o IPCA do ano anterior, mostrando os elementos que fizeram com que ele se distanciasse da meta:
- Inércia inflacionária;
- Expectativas: a diferença entre o que os agentes econômicos esperam em relação à inflação e a meta;
- Inflação importada;
- Choques de oferta;
- Outros.
A metodologia parte do pressuposto de que todos eles são “neutros”; ou seja, como se estivessem retratando a economia em um momento “zero”. Conforme o andamento do ano calendário, eles são substituídos com os valores coletados, identificando as causas dos desvios.
O ano de 2018
Tomando o ano de 2018 como exemplo, temos:
- A inércia inflacionária de 2017 contribuiu em -0,46% para a inflação de 2018;
- As expectativas, com um valor de -0,32%;
- A inflação importada foi responsável por 0,94%, por conta da desvalorização do real, decorrente das incertezas com as eleições presidenciais;
- Os choques de oferta exerceram pouca influência, com uma influência de -0,06%, apesar da greve dos caminhoneiros.
Conclui-se então que:
- A inércia inflacionária teve um peso relevante na inflação do ano seguinte;
- Juntamente com as expectativas, a inércia neutralizou boa parte da alta inflacionária que seria observada em função do câmbio.
Por que a inércia inflacionária mudou mais recentemente?
Até 2015, as despesas do governo cresciam 6% acima da inflação, dada a política fiscal e a de concessão de crédito público. Entretanto, a partir de 2016, esse adicional deixou de existir, dada a aprovação do teto de gastos.
Ao mesmo tempo, o BC adquiriu credibilidade na condução da política monetária, o que ajudou nas expectativas de inflação. Adicionando a alta capacidade ociosa na economia, a inércia contribuiu negativamente para a inflação dos anos seguintes (como visto no ano de 2018).
Dito isso, a tendência é que a inflação futura esteja abaixo do centro da meta, o que faz com que o ajuste seja necessário hoje. Uma inflação abaixo da meta, durante um longo período de tempo, significa que os juros estão acima do ideal.
Qual fator pode mudar a trajetória da inércia inflacionária em 2020?
Apesar do lento crescimento da economia, baixas taxas de juros tornam os financiamentos mais baratos, estimulando os agentes a tomarem crédito via:
- Bancos privados;
- Mercado de capitais (emissão de títulos).
Diferentemente do crédito direcionado (definido em função de políticas públicas), ambos favorecem de forma mais abrangente a atividade econômica, sendo perceptíveis após um período de 6 meses.
Isso poderá reduzir rapidamente a capacidade ociosa, gerando pressões inflacionárias para os próximos anos.