Diminuição Reativa de Valor
O que é a Diminuição Reativa de Valor?
Diminuição reativa de valor (ou ainda Reactive Devaluation, conforme o termo original em Inglês) é o nome dado a um tipo específico de viés cognitivo.
Por definição, a Diminuição Reativa de Valor narra a nossa tendência, como seres humanos, de desvalorizar uma proposta quando a mesma é feita por alguém de quem não gostamos, mesmo que ela seja totalmente correta.
Em bom Português, é a nossa propensão de revirar os olhos em sinal de desdém e/ou sermos excessivamente críticos quando aquele sujeito irritante (pelo menos, ao nosso ver) abre a boca para agir como o salvador da pátria e propor uma solução para o que quer que seja.
Fazemos isso mesmo que inconscientemente, pesando ainda do outro lado da balança. Segundo outro viés, o favoritismo intragrupo, tendemos também a superestimar as pessoas que pertencem aos nossos grupos (família, amigos, trabalho, partido político etc.).
Assim, enquanto "pegamos no pé" de quem está de fora, especialmente se essa pessoa for alvo do nosso desagrado, somos complacentes com quem está dentro do grupo. Nosso julgamento nunca é 100% racional, como muitos preferem pensar ao se autoanalisarem.
E por que isso é tão perigoso?
Imagine que tem um pequeno incêndio na sua garagem e aquele seu vizinho que você simplesmente odeia (ou acha, no mínimo, um pé-no-saco sabe-tudo) aparece para te ajudar. Ele sugere, então, que vocês usem uma mangueira mais potente que tem em sua casa para conter o fogo.
É normal que a primeira reação do seu cérebro seja duvidar da proposta ou pensar "poxa, mas será que não tem nenhum jeito de eu não ter que concordar com esse sabichão?".
Parece absurdo imaginar que alguém diria não à proposta, por mera teimosia. Contudo, como vamos descobrir mais adiante, é exatamente isso que fazemos em nosso cotidiano.
Mesmo aqueles de quem não gostamos podem ter a solução para algum de nossos problemas. Por outro lado, nós, tão teimosos quanto possível, perdemos um tempo precioso resistindo à proposta sem qualquer base racional. Enquanto isso, o fogo, como é de se prever, só cresce bem diante de nossos olhos.
Como a Diminuição Reativa de Valor afeta o seu dia a dia? Ele tem alguma influência sobre a sua vida financeira?
Não raro políticos se negam a apoiar excelentes projetos apenas porque foram concebidos por "adversários".
No trabalho, se não se faz nada para prejudicar a iniciativa de um colega visto como "concorrente", também não se ajuda - isso quando não se é excepcionalmente crítico ao ter a sua opinião solicitada.
Nos relacionamentos, não pode aquela tia abrir a boca para dizer como enfiar um peru inteiro no forno ou, então, qual carro comprar, para se começar a testar todas as outras alternativas desesperadamente.
Esses são todos exemplos da diminuição reativa de valor - a proposta perde valor logo que é compartilhada, apenas por conta da identidade do seu criador.
E se você acha que somos mais racionais como lidamos com dinheiro - afinal de contas, é dinheiro! - está para lá de enganado.
Uma pessoa pode sim se negar a investir no título X ou Y, seguir a estratégia 1 ou 2, usar essa ou aquela ferramenta, apenas porque quem a recomendou não é alguém de quem se gosta. Sendo mais sinceros, ela pode até não investir, porque o primo que falou sobre a importância dos investimentos para ela "é um intrometido se acha demais".
Entenda: termos desafetos é normal. Discordar das pessoas também. O que não quer dizer que seja benéfico para nós mesmos.
Se você for capaz de analisar as propostas de forma mais racional, julgando mais os seus atributos do que quem a concebeu, deve notar que o processo de tomada de decisões se torna um pouco menos emocional.
As pessoas de quem você gosta - ou mesmo que são vistas como especialistas no assunto - nem sempre estão certas (oi, viés de autoridade!). Por sua vez, aquelas de quem você não gosta - ou mesmo já apresentaram diversos projetos falaciosos no passado - nem sempre estão erradas.
Quanto mais rápido você aceitar isso e abraçar as oportunidades sob esse novo olhar (em todas as áreas da sua vida, inclusive a financeira), menor será a influência da Diminuição Reativa de Valor sobre você.
Não se trata de extingui-lo, pois não podemos, mas controlá-lo. Como o fogo, que não necessariamente precisa queimar a sua garagem inteira, mas pode sim lhe render um bom almoço na cozinha.