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Taxa dos fundos
Economia

Taxas dos fundos e novo patamar de juro

Assistimos nos anos recentes uma queda sistemática na taxa básica de juro, e com ela, toda a estrutura de juros brasileira. Na última reunião, o Banco…

Data de publicação:06/08/2019 às 10:34 -
Atualizado 4 anos atrás
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Assistimos nos anos recentes uma queda sistemática na taxa básica de juro, e com ela, toda a estrutura de juros brasileira. Na última reunião, o Banco Central, por meio do Comitê de Política Monetária (COPOM) decidiu reduzir o juro básico da economia (SELIC) de 5,50% para 5,00%, o menor nível da história recente.

Apesar de não ser usada à risca, essa taxa é parâmetro para diversos outros preços de mercado, como por exemplo o CDI.

Em outras palavras, quanto mais a SELIC cai, mais o CDI diminuirá e, com isso, mudando o nível do benchmark de diversos fundos de investimentos, além de impactar diversos ativos que ele está alocado.

Abaixo a evolução recente das duas taxas, com previsões até o fim do ano.

taxa de juros

Com essa nova realidade de juro historicamente baixo, que deve permanecer por algo como dois anos, até a retomada mais vigorosa da economia e uma inflação mais pressionada (e com meta ainda menor), é interessante pensarmos um pouco sobre as taxas cobradas pelos fundos.

Impactos das taxas no retorno

Impactos das taxas no retorno

O leitor, se investe em fundo, certamente sabe das taxas de administração e de performance que são cobradas pelas casas. Elas são as mais variadas possíveis, dependendo do tipo do fundo, podendo cobrar a performance baseada no CDI, no IMA+B, o IBR-X, IPCA+ algum parâmetro, e etc.

Essa é a forma do gestor ser remunerado pelo seu desempenho ao superar algum benchmark, mas obviamente deixando a maior parte do excedente para o investidor, visto que a cobrança de performance roda usualmente em torno de 15-20% do que o gestor superar desses índices.

Além disso, há a taxa de administração, que às vezes o investidor esquece de sua existência pelo fato de, assim como na performance, a divulgação dos resultados por parte dos fundos já serem feitas com esse desconto. Ela também varia de fundo para fundo.

O mais comum, e quase um mantra do mercado, é o chamado 2 com 20 (2/20), que representa um fundo que cobra 2% de taxa de administração e 20% do que exceder o benchmark escolhido. Os próximos parágrafos e exercícios do texto irão usar especificamente essas taxas como ilustração.

Taxa de administração e performance com juros baixo

Taxa de administração e performance com juros baixo

Vamos imaginar um fundo representativo, que não é Curto Prazo, Referenciado DI ou Renda Fixa, e, portanto, cobra taxa de performance.

O gestor desse fundo é um homem muito preparado e conseguiu acumular retornos anuais que representam 170% do CDI por ano entre 2009 e 2019, antes da cobrança de qualquer taxa.

Provavelmente para esse ano seja pouco, com muitas casas já se aproximando dos 200% do CDI até julho, mas não se pode dizer o mesmo para os anos anteriores a 2017, por exemplo.

Considerando a cobrança do 2/20 desse fundo, qual será o retorno que chega na mão do investidor?

Vamos considerar uma simulação em que a taxa de administração e performance são cobradas apenas no fim do ano (a performance pode ser cobrada em seis meses, e a administração pode ter seu cálculo mensal também, mas fiquemos nesse exemplo).

Talvez o leitor não tenha percebido, mas 2% de administração tem um impacto bastante diferente quando o CDI está próximo de 14% e quando está próximo de 5%.

Abaixo temos os resultados em % do CDI após a cobrança de cada taxa, começando com os 170% do CDI que o fundo rendeu originalmente.

impacto das taxas por ano

A título de exemplo, o CDI acumulou 6,4% em 2018, sendo que 170% disso representa 10,9%. Uma taxa de administração de 2% pode comer boa parte disso. Já em 2016, o CDI acumulou praticamente 14%, e 170% disso representa 23,8%, reduzindo o impacto dos 2%.

Por conta dessas movimentações anuais de mercado, a mesma performance pode entregar até 10 pontos percentuais de diferença para o investidor desse fundo.

A situação fica um pouco mais clara quando consideramos o rendimento real no final do ano, isto é, retirando o efeito da inflação. Desta forma, é possível ter a noção de quão “mais rico” o investidor ficou de fato, ou seja, quanto o poder de compra dele aumentou. No fim do dia isto que importa.

A diferença entre os retornos, que já superou 2,5pp em 2016, agora ficaria nesse ano (e em 2018) próximo de 0,50pp. Render 170% em anos com CDI perto dos 5% definitivamente não é suficiente, pensando no enriquecimento do investidor.

Também podemos fazer o exercício da forma inversa. Vamos supor que um gestor de fundo que cobre 2/20, tenha o CDI como benchmark, e gostaria de entregar efetivamente, pelo menos, 100% do CDI na conta do seu cliente, depois das taxas.

Qual deverá ser a performance desse gestor ao longo dos últimos 10 anos?

O gráfico abaixo ilustra isso.

Qual volatilidade necessária?

Ok, como dito antes, apenas conseguir 170% do CDI no atual cenário não é o bastante. Vamos supor então que o investidor queira receber 14% de rendimento no fim do ano, o que demandaria um fundo com 311% do CDI pré taxas ou então com retorno acumulado de 264% do CDI pós taxas (algo não trivial se você não for um FIA). Tudo para relembrar aqueles “bons” tempos de Selic alta.

Existe fundos nessa situação atual? Qual é a volatilidade deles? Abaixo temos 10 fundos com rendimento próximo a 14% no ano e sua respectiva volatilidade, dando ideia de como seria necessário. 

gráfico fundos

A título de comparação, fundos que estão rendendo próximo a Selic (4,5%), tem volatilidade inferior a 1%, sendo que a média dos fundos apresentados é de 5.51%. Em outras palavras, para conseguir reviver aquele rendimento de 14% ano, o investidor pode esperar algo como 5 vezes mais volatilidade do que aqueles investimentos bem conservadores e que acompanham apenas o CDI.

Mudar as taxas ou a gestão?

Mudar as taxas ou a gestão

Observando esses importantes impactos e no novo cenário de juro que teremos pela frente, é justo o investidor pensar em duas coisas: ou as gestoras diminuem a taxa de administração, para não comer de forma demasiada o retorno real, ou então é preciso tomar mais risco, buscando acumular retornos ainda maiores para diluir esses impactos.

Acredito que a segunda alternativa seja mais justa, visto que não reclamamos da taxa de administração ser alta em momentos que o CDI beirava 14% e os gestores tinham que se revirar para bater o benchmark.

Desta forma, é o momento de os gestores mostrarem ainda mais suas habilidades para superar o CDI, tomando mais risco num cenário de bull market em que a relação risco-retorno tem sido bastante vantajosa para aqueles que estão buscando acumular rendimentos maiores.

Essa situação possivelmente permanecerá e possivelmente se acentuará nos próximos meses, dado a iminente aprovação de reformas e retomada da economia brasileira, com impactos nos resultados das empresas, no câmbio, juro, derivativos e claramente as cotas dos principais fundos brasileiros.

Conclusão

O país está numa nova realidade de juro e inflação, e isso tem impacto direto na indústria dos fundos de investimento. No fim desse ano teremos um juro real ex-ante muito próximo de 1%, o que vai exigir muita performance dos fundos de investimento para não “comer” a rentabilidade ao cobrar os famosos 2%.

Busque entender a filosofia de cada gestora, tentando ler as análises e cartas mensais divulgadas, o que costuma evidenciar a visão e a posição de cada casa nessa nova realidade, podendo sinalizar o aumento da propensão ao risco.

Por fim, uma outra discussão, e que possivelmente o mercado brasileiro começa a ficar mais maduro para ter, é se faz sentido continuar usando o CDI como benchmark, sobretudo na questão da cobrança de performance.

É só lembrar que lá fora não assistimos os fundos tentando atingir uma porcentagem da libor britânica ou do fed funds rate americano.

Sobre o autor
Arthur Lula Mota
Economista, já atuou no mercado financeiro e em departamento econômico, com elaboração de cenários macroeconômicos e estudos setoriais. Atualmente é Mestrando em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e dono de um dos maiores sites independentes de economia no Brasil – o Terraço Econômico.
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