Small Caps: entre as top 10, valorização vai de 90% a 229% este ano
As nanicas foram melhor que o Ibovespa e de qualquer outra aplicação no semestre
Elas são consideradas nanicas, ações de empresas de menor porte negociadas na bolsa de valores aparentemente sem cacife para competir com as de primeira linha, as gigantes blue chips, que dominam o Índice Bovespa (Ibovespa), da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. Mas nem por isso fizeram feio no período mais recente e se saíram muito bem no ranking de rentabilidade não só o de ações, mas no de todas as aplicações no primeiro semestre.
Ações de companhias menores e com elevado potencial de valorização, as small caps passaram a chamar a atenção de investidores com vistoso rendimento, bastante superior à do Ibovespa e a dos papeis mais negociados em bolsa. Um desempenho para deixar claro que, na garimpagem de ações na bolsa de valores, tamanho não é documento.
Nove das dez ações mais rentáveis do topo da lista do primeiro semestre tiveram valorização acima de 100%. A campeã foi a Meliuz, com alta de 228,75%, comparada com uma valorização de apenas 6,54% do Ibovespa nesse período. A segunda colocada, a Portobello, valorizou-se 165,41%, e a terceira, Banco Pan, 152,57%.
Confira as dez small caps com melhor desempenho no semestre, de acordo com os dados de levantamento da Economatica.
Ação Valorização
Méliuz ON 228,75%
Portobello ON 165,41%
Banco Pan PN 152,57%
Positivo TEC ON 149,33%
Wiz ON 136,06%
Ferbasa PN 133,24%
Embraer ON 113,22%
Unipar PNB 100,40%
Cia Hering ON 100,00%
SLC Agrícola ON 90,91%
Small caps, uma classe de ações com várias definições
Não existe uma definição mais clara do que sejam as small caps, de acordo com os especialistas. E tampouco um consenso. “O primeiro desafio é definir o que são essas ações, às vezes de small têm muito pouco”, observa Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos.
Para alguns, são as ações que não fazem parte da carteira do Ibovespa, para outros ações emitidas por empresas com valor de mercado abaixo de US$ bilhão ou R$ 5 bilhões, mas que aceita valores elásticos de até R$ 20 bilhões, e para outros ainda ações que fazem parte do SMLL, índice que agrupa os papeis do segmento. “Talvez muito do crescimento do setor vem de empresas que não são tão small caps. São classificadas assim, mas de fato não são tão pequenas”, afirma Albertman.
Diferentemente do Ibovespa, em que cerca de um quarto da carteira está concentrada em ações de empresas de commodities e de bancos, o índice small caps é muito mais diversificado. E aí pode estar também um dos motores do crescimento do setor. Especialistas de mercado e gestores dizem que os papeis do Ibovespa costumam reagir mais ao cenário macroeconômico e as do SMLL refletir o histórico de empresas.
Para o analista de Renda Variável da Easynvest by Nubank, Murilo Breder, é o histórico de cada empresa que constrói o resultado e conquista o investidor. “Tome-se como referência a Méliuz, uma empresa que acabou de abrir o capital e criou produtos inovadores no setor em que atua.”
A Portobello, do setor de material de construção, se beneficiou de seu histórico e também da expectativa otimista com o cenário econômico, diante da perspectiva do avanço da vacinação. O Banco Pan, com atuação forte no segmento de crédito consignado, alinha esforços agora para atuar e se destacar nas operações bancárias digitais, analisa Breder.
Matheus Soares, analista de small caps da XP, diz que as ações de companhias de menor porte ficam mais expostas ao ambiente doméstico. Um cenário que contou com surpresa positiva em relação à expectativa com o PIB e ao ritmo da vacinação e, ao favorecer empresas de comércio de varejo e serviços, beneficiou também as small caps.
Small caps sobem mais que Ibovespa
“As ações de empresas de menor porte andaram mais que o Ibovespa por causa do ambiente econômico doméstico mais positivo, já que as expectativas impactam bastante as small caps”, comenta Soares. “O investidor olha primeiro para os papeis do Ibovespa, mas, dependendo do comportamento do índice, procura outras opções, e as small caps têm sido uma delas.” Movimento contrário também ocorre, segundo especialistas, quando em momentos de crise o investidor migra para ações de grandes empresas, em busca de segurança e proteção.
Situações de estresse costumam pôr em dúvida a liquidez do segmento, visto como um dos riscos para quem investe em small caps. Para especialistas, contudo, eventual dificuldade de passar adiante as ações não deve preocupar o investidor pessoa física, que costuma ofertar lotes pequenos. “Liquidez é quantos ativos se negociam por dia”, diz Breder, da Easynvest. “O pequeno ou médio investidor compra e vende sem problemas, nesse caso a falta de liquidez é exceção, e não a regra.”
Quem corre o risco de passar por esses percalços é o grande investidor, em geral fundos de investimento, quando ofertam lotes volumosos para atender a resgates e podem não encontrar interessados na compra.
O analista Soares, da XP, afirma que o risco maior do investimento está na compra de ações de uma companhia que não se conhece. “É preciso conhecer a empresa, onde ela atua e as oportunidades que o setor oferece.” O analista diz que a falta de informações, por ser empresas menos cobertas e com menos dados em relatórios, contribui para essa falta de conhecimento. Uma das saídas são as carteiras recomendadas por bancos e corretoras de investimento.
Diversificação de carteira
As small caps são opção interessante da estratégia de diversificação de investimentos, se possível dividindo espaço na carteira de renda variável com outras ações, orientam os especialistas.
É possível investir por meio de compra direta de ações ou por meio de ETFs (Exchange Treaded Funds) ou fundos de índice. O de small caps é o ETF Small11, negociado na B3, que tem em carteira ações de empresas como Azul, Gol, CVC, Banco Pan, PetroRio, entre outras. “Papeis até mesmo de frigoríficos, como a Marfrig, que têm receitas dolarizadas, porque boa parte do faturamento vem de exportações”, observa Albertman.