Semana da Criança: uma ida ao mercado, à padaria, ou dar uma mesada são formas simples de passar educação financeira a seu filho
Não pode haver descasamento entre o que os pais falam e fazem
Em atividades muito simples e corriqueiras do dia a dia, como fazer compras no supermercado, na padaria ou mesada para o lanche da escola, se escondem conceitos valiosos para ensinar a criança a lidar com o dinheiro por toda uma vida. Dentro de uma educação financeira ele pode aprender limites, fazer escolhas, o valor do tempo e das coisas.
É na prática, relacionando momentos que os pequenos vivenciam quando ganham um dinheiro para guardar no cofrinho ou pedem para comprar um sorvete ou brinquedo desejado, que pode ser iniciado o aprendizado financeiro. E na mais tenra idade, respeitando-se, evidentemente, o nível de compreensão dos pequenos.
'Ensaio orçamentário' na padaria
Ao dar R$10 ou 20,00 à criança para ir a uma padaria e comprar alimentos para o lanche da escola, exemplifica Ângela Nunes, consultora e planejadora financeira, e sócia da MoneyPlan, é possível fazer um ensaio orçamentário. Mais do que disso, ensinar limites, a fazer escolhas, a ter noção do dinheiro, e seu poder de compra.
Com a quantia recebida, o pequeno terá de ver o que será possível comprar e de escolher entre um pão doce e um pão francês, um chocolate ou um confeito, e assim por diante. Ao ir ao supermercado para comprar itens para uma festinha, ou sair para tomar um lanche, os mesmos conceitos podem ser aplicados.
Além de saber o preço das coisas, Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, ressalta a importância da criança saber o valor do trabalho e o valor do dinheiro. "As vezes as crianças só sabem quanto custa algo, mas não sabem o quanto representa aquilo em tempo e trabalho".
A mesada tem também papel relevante no aprendizado, uma vez que a criança terá de controlar o dinheiro recebido para gastar em um determinado espaço de tempo. Se gastar mais do que o planejado para cada dia vai ficar sem dinheiro em algum momento. Ao mesmo tempo, se gastar menos, poderá guardar para comprar algo desejado.
Alves diz que vale a pena mostrar para a criança, dentro da realidade de cada um, que é possível ganhar um dinheiro extra ajudando em afazeres de casa, ou ainda preparando brigadeiro para vender aos colegas, o que também estimularia o aspecto empreendedor
Ensinando pelo exemplo
Para ter sucesso nessa empreitada, há que se observar uma primeira e importante regra para uma educação financeira consistente: os adultos devem servir de exemplo em suas atitudes, alerta a consultora. "Não pode haver descasamento entre o que se fala e o que se faz".
Ela explica que se os pais estiverem ensinando a criança que não é possível ter tudo o que se quer, que é preciso poupar e esperar para conquistar algo, eles não podem sair comprando tudo o que veem pela frente e por impulso em um shopping. "A criança aprende pelo exemplo", afirma a consultora.
O mesmo tipo de comportamento precisa ser combinado como avós, tios, enfim familiares mais próximos para evitar o risco de uma "desconstrução" no que os pais estão tentando inserir no processo.
Aprender a esperar é um dos primeiros princípios a ser passado à criançada, pondera Ângela. É preciso esperar pelo aniversário, Natal ou Dia da Criança, datas mais importantes e comemorativas para ganhar o presente tão cobiçado. Não pode ser a qualquer momento para que o ato de ganhar não seja banalizado. Se tem os seus desejos atendidos de imediato, "a criança perde o prazer e o sabor da conquista. É preciso haver um combate ao imediatismo de hoje".
Uma função árdua, reconhece a consultora. Especialmente porque, geralmente, os pais trabalham fora e procuram compensar a ausência física presenteando a todo momento, sem limites.
O aprendizado do valor do tempo pode estar associado ao valor do que a espera traz. Opção lúdica e concreta de mostrar isso aos pequenos, lembra a Ângela, é plantando alguma coisa, como um pezinho de feijão. "Tem de esperar para obter o resultado, precisa ter paciência com um grão de feijão para que ele vire uma plantinha. A criança tem de ver o resultado da espera. A vida requer esse tempo de espera", diz ela.
A questão do desperdício é igualmente relevante no caminho da educação financeira. "Hoje as pessoas trocam e descartam os produtos com uma rapidez absurda, ninguém conserta mais nada, provocando muito desperdício", afirma a planejadora familiar. A compreensão do valor de cada coisa e valorizar o que se tem é imprescindível para evitar perdas.
Nesse sentido, dentro de casa mesmo, é preciso chamar atenção a uma torneira aberta, uma luz acessa, não só em benefício do planeta, mas porque vai pesar na conta de luz, aponta a planejadora familiar. Em relação à comida é o mesmo procedimento: a criança precisa adquirir a consciência de que se pediu algo para comer, deve consumir tudo, nada de jogar fora em um mundo que muita gente passa fome.
No caminho dos investimentos
Igualmente relevante é mostrar para a criança que ter o controle do dinheiro, economizar, abrir mão de determinados gastos podem trazer resultados muito positivos em termos financeiros.
É o momento de apresentar a ela algumas opções de investimentos. Ângela considera que a caderneta de poupança pode ser indicada como porta de entrada, pela simplicidade, pelo aprendizado de dia de aniversário da conta e perdas ao sacar fora do dia certo.
Idean Alves afirma que mais do que definir onde aplicar o importante é a criança ter disciplina e adquirir o hábito de poupar. No entanto, lembra ele, com o CPF é possível abrir uma conta em nome da criança em corretoras e ter acesso a opções mais rentáveis como CDB, ou papeis que paguem rendimento equivalente à Selic ou à inflação. A diversificação também é recomendada desde o início.
Ao optar pelo mercado de ações, Alvez afirma que o principal é a criança entender o que é uma ação, que ela está comprando uma parte de uma empresa, que será sócia de um negócio. Para esse entendimento ele recomenda a leitura de "A Fórmula Mágica", de Joel Greenblatt, um investidor americano, bem-sucedido, que escreveu o livro para que seus filhos compreendessem como funciona a bolsa de valores.
Em relação a setores, o chefe da mesa de operações da Ação Brasil coloca entre os mais promissores e pensando no longo prazo, o de tecnologia. Haja vista o que aconteceu com Google, Apple e Amazon nos últimos 10 ou 20 anos. O desafio é saber quais empresas na atualidade vão repetir o desempenho dessas gigantes nos próximos anos.
Alves considera interessante também apostar em ações que pagam bons dividendos ao longo do tempo. "A ideia é vou aplicar em algo que dê resultado e esse resultado pode ser reinvestido, um mecanismo muito poderoso", afirma ele.
No gráfico abaixo, estão o desempenho de duas ações boas pagadoras de dividendos, Vale e Petrobras. Em 28 anos, desde julho de 1994, os papeis tiveram uma valorização muito acima da inflação e da renda fixa, representada pela referência do CDI.
O especilista da Ação Brasil recomenda a leitura sobre a vida de Warren Buffet, o megainvestidor que comprou sua primeira ação aos 11 anos, e construiu um império com ganhos na bolsa de valores, e ainda do livro "Princípios" de Ray Dalio.
Em termos de segurança, Alves considera fundamental buscar a proteção em um seguro de vida, que garanta a continuidade da sua educação e investimentos em previdência privada, que oferecem incentivos fiscais e a redução de alíquota do do imposto de renda com formação de uma poupança no longo prazo.
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