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Mercado Financeiro

Sem dados econômicos, dólar deve atrair as atenções nesta 4ª feira

Alta dos juros deve atrair a entrada de capital estrangeiro e pressionar para baixo a moeda

Data de publicação:23/06/2021 às 05:00 -
Atualizado 3 anos atrás
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O mercado de dólar tende a monopolizar a atenção de investidores e gestores nesta quarta-feira, 23, depois que a cotação veio abaixo de R$ 5 na véspera, pela primeira vez em mais de um ano, desde 10 de junho de 2020.

Senão por outros motivos, porque a agenda do dia não prevê a divulgação de nenhum dado ou indicador econômico mais relevante.

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Desde 10 de junho de 2020, o dólar não era cotado abaixo de R$ 5 - Foto: Envato

Após flertar com o rompimento dessa linha emblemática de preço várias vezes, o dólar furou esse patamar depois que a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada ontem, reafirmou o tom duro na condução da política monetária.

O recado ficou suficientemente claro para o mercado, na forma de sinalização de novas altas de 0,75 ponto porcentual na taxa Selic, nas próximas reuniões. O colegiado do Banco Central terá mais quatro encontros até o fim do ano.

Como na última edição do boletim Focus a expectativa de Selic para o fim de 2021 foi revisada de 6,25% para 6,50%, o mercado apressou-se na conta de que serão mais três aumentos de 0,75 ponto nas três próximas reuniões (em agosto, setembro e outubro), quando seria fechado o ciclo de ajustes.

Como está em 4,25% ao ano, com mais três ajustes desse calibre, a Selic fecharia 2021 em 6,50%.

Uma Selic de 6,50% ao ano frente a um juro americano no intervalo de zero a 0,20% ao ano, sem perspectiva ainda de elevação, abre um diferencial de taxas que amplia a atratividade de aplicação de recursos em títulos de renda fixa brasileiros, principalmente de estrangeiros.

Uma perspectiva de ganho atraente em um cenário de menos estresse fiscal, um temor que foi suavizado após a aprovação do Orçamento, no fim de março, e melhora de receitas do governo com arrecadação de impostos.

O investidor estrangeiro interessado em aplicar no Brasil por taxas de juro atraentes está mais confortável para ingressar com o dinheiro no País, de acordo com especialistas.

Essa perspectiva tende a manter o dólar em baixa, porque o ingresso de capitais amplia a oferta de moeda americana, comenta Flávio de Oliveira, head de Renda Variável da Zahl.

Selic a 6,5% atrai a entrada de dólar

“A perspectiva de alta mais consistente do juro básico, previsto em 6,50% para o fim de 2021, reforça a expectativa de que o dólar caia ainda mais”, acredita, mas dois pontos devem ser considerados nessa análise, segundo Oliveira.

“O primeiro é a eleição presidencial de 2022, o clima eleitoral já pode ficar pouco mais acirrado no segundo semestre, o que tende a aumentar a volatilidade nos mercados e a pressionar o dólar.”

Ele entende que a queda, se houver, pode ser menor daqui para a frente, porque “parte da desvalorização mais substancial do dólar já parece ter ocorrido”, o que deixaria menos espaço para baixas, avalia. “Isso faz com que o risco/retorno de algumas operações que ganham com a queda do dólar já podem não estar tão interessantes.”

NY: futuros em leve alta

Nos Estados Unidos, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em leve alta com o mercado absorvendo o testemunho do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, que tiveram um tom mais leve, após ele descartar uma alta de juros “preventiva” e voltar a classificar a alta da inflação como transitória.

Na véspera, o Dow Jones subiu 0,20%, a 33.945,58 pontos, o S&P 500 avançou 0,51%, a 4.246,44 pontos, e o Nasdaq registrou ganho de 0,79%, a 14.353,27 pontos.

Durante depoimento no subcomitê sobre a crise do coronavírus, Powell atribuiu a força recente da inflação à retomada forte na demanda, em quadro de oferta ainda limitada em alguns segmentos, mas notou que isso deve perder fôlego conforme o cenário se normaliza adiante. "O Fed agirá se a inflação ficar muito elevada", garantiu.

Powell comentou que o papel do Fed para combater a desigualdade passa por garantir a busca pelo máximo emprego, evitando um aperto monetário antes da hora adequada.

Ele disse "suspeitar fortemente" que a geração de vagas aumentará no país, no restante deste ano. Questionado sobre se um nível de inflação ao consumidor em 5% seria algo "inaceitável", ele comentou: "Absolutamente, sim."

Em outro momento da audiência, Powell ressaltou o papel "crucial" da disseminação das vacinas contra a covid-19 para apoiar a retomada econômica, no momento atual.

A postura ajudou a impulsionar os mercados, que na última semana tiveram seu maior recuo desde outubro de 2020, pressionados pela postura mais dura após a última decisão de política monetária do Fed.

CPI da Covid: imunidade de rebanho

Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado ganham novos capítulos a cada dia.

Na véspera, o colegiado ouviu o deputado federal e ex-ministro Osmar Terra. Durante mais de oito horas de depoimento, Terra reforçou dados distorcidos sobre a pandemia do novo coronavírus e criticou a adoção do isolamento social para combater a doença, apesar da orientação contrária da ciência.

Convidado a falar à CPI por ser apontado como integrante do suposto "gabinete paralelo" que orientou o presidente na condução da pandemia, Terra voltou a dizer que o fim da pandemia se dará com a imunidade de rebanho, e que a tese não seria uma "estratégia", mas um resultado da doença.

Depois de fazer várias declarações públicas minimizando a vacinação, disse à comissão que defende a vacina contra a covid-19, mas que a imunização "natural", quando a pessoa contrai a doença, também seria importante para pôr fim ao estado pandêmico.

Terra afirmou durante o depoimento por várias vezes que Bolsonaro não teve poder de decidir nada sobre a crise. Ele disse que isso foi resultado da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a competência de Estados de decidir sobre ações de combate à pandemia.

A Corte, no entanto, não limitou o poder da União, como costumam dizer os aliados de Bolsonaro, mas assegurou a Estados e municípios a autonomia para tomar medidas contra a propagação da doença.

Bolsas asiáticas fecham em alta

As bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em alta nesta quarta-feira, 23, seguindo o tom positivo de Wall Street, após fala do Fed, Jerome Powell, que ajudou a aliviar temores sobre retirada de estímulos monetários.

O Hang Seng avançou 1,79% em Hong Kong hoje, aos 28.817,07 pontos, enquanto o sul-coreano Kospi subiu 0,38% em Seul, aos 3.276,19 pontos, e o Taiex se valorizou 1,53% em Taiwan, aos 17.336,71 pontos.

Na China continental, o dia também foi de ganhos. O Xangai Composto teve alta de 0,25%, aos 3.566,22 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,79%, aos 2.427,38 pontos.

Exceção, o índice japonês Nikkei terminou o pregão em Tóquio com perda marginal de 0,03%, aos 28.874,89 pontos, após saltar mais de 3% ontem.

Já na Oceania, a bolsa australiana ficou no vermelho, após a adoção de novas restrições de combate a covid-19 em Sydney, cidade mais populosa do país. O S&P/ASX 200 caiu 0,60%, aos 7.298,50 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom Morooka
Colaborador do Portal Mais Retorno.