Renda Fixa

Selic em 13,75% e inflação em queda: como ficam Tesouro Selic, IPCA e Prefixado?

O mercado já vem precificando há alguns meses a queda dos juros e da inflação, com redução no rendimento dos títulos, mas há ainda boas opções, dizem analistas

Data de publicação:22/06/2023 às 08:00 - Atualizado 10 meses atrás
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Como era mesmo esperado, a Selic permaneceu em 13,75% na reunião de ontem do Comitê de Política Monetária. Mais do que considerar a taxa em si, que segue em níveis elevados, o mais relevante passa a ser a sua tendência para avaliação dos investimentos em renda fixa e tomada de decisão.

O mercado ficou um pouco decepcionado com o comunicado emitido pelo Copom ao término do encontro, porque esperava alguma menção à possibilidade do início do corte dos juros em agosto. Sem nenhuma indicação para isso, especialistas passaram a contar com a redução da taxa a partir de setembro.

Com perspectiva de queda dos juros, os prefixados são indicados, mas rendimento já caiu - Foto: Reprodução

Acompanhe como ficam os investimentos em títulos de renda fixa do Tesouro Nacional e privados no novo cenário.

Tesouro Prefixado

Essa perspectiva de recuo da Selic já vem sendo precificada pelo mercado, há alguns meses, afirmam os especialistas. Ou seja, essa queda que pode ser iniciada no segundo semestre já foi incorporada nos juros futuros para oferta de rendimento nos títulos públicos ou privados, mas há ainda boas ofertas. 

Se a trajetória indica queda das taxas ainda em 2023, o mais vantajoso é estar em ativos prefixados, como o Tesouro Prefixado, diz Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores.

“Houve um movimento bem significativo de queda das taxas futuras, e quem conseguiu pegar ativos prefixados há dois ou três meses já conseguiu acumular um bom retorno. Ainda há espaço para ativos prefixados, mas hoje o potencial de ganho é menor”, relata o especialista.

Ele acredita que faz sentido ter papeis prefixados na carteira, porque existe ainda algum prêmio a ser capturado nesses ativos, mas não com potencial de ganho de maneira tão rápida como oferecido há alguns meses.

Lis Grassi, especialista em investimentos e sócia da Matriz Capital, vai nessa mesma linha afirmando que as taxas prefixadas atuais “já estão menores do que as que víamos alguns meses atrás, de 13%, 14% ao ano. Quando a Selic estiver mais baixa, a tendência é que essa rentabilidade caia também”.

Mesmo nos níveis atuais, há papeis promissores: “Uma taxa de 11% ou alguma coisa do tipo é uma excelente taxa de juro nominal, algo a ser considerado a ter na carteira”, pondera Jorge. Ao mesmo tempo, ele alerta que é preciso ter um bom planejamento para carregar o título para vencimento.

“É claro que toda essa minha indicação de carregar para vencimento é no pior cenário. O melhor cenário é o que seja possível vender antecipadamente e pegar uma taxa mais gorda por conta de um eventual movimento do mercado”. Há uma taxa de juro garantida a ser recebida por esse investimento, mas para assegurá-la é preciso ficar com o papel até o vencimento.

Tesouro Selic e Tesouro IPCA

O Tesouro Selic vai continuar rendendo a taxa Selic vigente além de um prêmio, esse prêmio tende a ficar um pouco maior se a taxa cair muito, para compensar a menor rentabilidade na taxa de juros, explica Lis.

Já no Tesouro IPCA, o investidor tem a reposição da inflação mais uma taxa de juro que é prefixada. A sócia da Matriz Capital ressalta que essa taxa pré tende a ser menor à medida em que a Selic cai. Portanto, diz ela, se nos próximos meses o juro cair, como esperado, a taxa que é paga acima do IPCA também será menor.

Ricardo Jorge destaca que nos títulos indexados ao IPCA boa parte do prêmio foi capturado pelo mercado. “Hoje o carrego das NTN-Bs está rodando abaixo do CDI, e as NTN-Bs com chances de apresentar os melhores retornos são as mais arriscadas, que são as mais longas, as de 2035, 2040”.

Para esses papeis, ele recomenda um pouco mais de cautela e explica por quê: como estão com vencimentos mais distantes, caso o mercado seja negativo, o investidor é obrigado a ficar com esse dinheiro parado por um período muito longo, até o seu prazo final. 

Mas Jorge recomenda Tesouro IPCA ao investidor que tem interesse em direcionar parte do portfólio para se proteger da inflação, pelo menos parcialmente, e também porque na curva do IPCA há também algum prêmio a ser capturado, embora não tao interessante como esteve nos últimos meses. E sempre com a perspectiva de carregá-lo até o vencimento.

Títulos privados

O mercado de títulos privados tem melhorado paulatinamente, relata o sócio da Quantzed. “Depois do case Americanas, o mercado ficou muito conturbado, a liquidez diminuiu muito e os spreads abriram muito, o que é ruim para quem já tinha posição, mas acabou abrindo novas oportunidades para quem eventualmente tem interesse em fazer novas alocações”. 

Ele destaca que ainda existem várias boas opções no mercado com boas taxas, mas que exigem do investidor uma atenção maior, que deve fazer uma boa pesquisa e recorrer ao seu assessor de investimentos para tentar avaliar quais são as melhores opções, principalmente, em um cenário ainda contrubado. 

“É bem verdade que a poeira já está baixando, de maneira geral a liquidez tem melhorado, até as taxas também têm apresentado algum tipo de arrefecimento, mas agora mais do que nunca é mega importante fazer uma boa avaliação, pegar debêntures de boas empresas e obviamente as que oferecem algum benefício tributário como é o caso das incentivadas”, indica Jorge.

Para ele faz sentido ter uma parcela do portfólio em debêntures, principalmente de empresas de grande porte, que tenham boa governança, e sem histórico com problema institucional.

Debênture, CRI e CRA

Lis, da Matriz Capital, afirma que uma debênture, um CRA, ou um CRI oferecem uma rentabilidade mais atraente, justamente porque embutem um risco maior. Ao investir em um deles, o aplicador está emprestando dinheiro para as empresas emissoras e assumindo o risco delas. 

“É muito importante avaliar qual é essa empresa, o rating dela no mercado, o seu caixa, se há garantias”, recomenda ela. A decisão de comprar um papel desses vai depender do perfil de investidor em aceitar um grau de risco maior para ter um retorno maior. “No longo prazo, a diferença de rentabilidade costuma ser bem significativa”, mas sem esquecer de casos recentes como a de Americanas, que não conseguiu honrar seus compromissos, alerta Liz

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Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.