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Safra vence disputa e paga R$ 1 bilhão pelo banco Alfa

Aquisição deve dar mais musculatura ao Safra no atendimento a empresas, banco de investimento e varejo

Data de publicação:25/11/2022 às 09:39 - Atualizado um ano atrás
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Um negócio foi fechado entre duas das mais poderosas famílias brasileiras: os Safra e os Faria (que eram donos do Banco Real, inicialmente incorporado pelo ABN e, mais tarde, pelo Santander). Na noite de quarta-feira, 23, o Banco Safra anunciou a compra do Banco Alfa, por R$ 1,03 bilhão. Segundo apurou o Estadão, a aquisição dará mais musculatura ao Safra no atendimento a empresas, em banco de investimento e também no varejo, pois o Alfa possui uma área de crédito consignado.

A família Faria tem quase cem anos de história no setor bancário brasileiro. Seu primeiro negócio no ramo foi o Banco da Lavoura, criado em 1925, renomeado Banco Real na década de 1970. Após a venda do Banco Real ao ABN Amro, em 1998, o banqueiro Aloysio de Andrade Faria criou o Conglomerado Financeiro Alfa, para fornecer serviços financeiros e de seguros. Já nas mãos do ABN, o Real foi vendido ao Santander.

Safra vence disputa com uma série de interessados, incluindo o BTG Pactual | Foto: Mathieu Stern/ Unsplash

Desde a morte de Aloysio Faria, em 2020, já em meio à pandemia de covid-19, suas cinco herdeiras colocaram à venda todos os negócios do conglomerado. O Banco Alfa foi o primeiro acordo a ser fechado. A instituição atraiu uma série de interessados, incluindo o BTG Pactual. Novas vendas por parte da família Faria são esperadas nos próximos anos.

No mercado financeiro, o comentário foi de que o banco foi vendido a um preço de "ativo estressado", já que o valor do desembolso, de cerca de R$ 1 bilhão, é muito abaixo do seu patrimônio líquido. Ou seja: teria sido um bom negócio para o Safra, que ganhou clientes em áreas em que não era muito forte por um preço relativamente baixo.

Do ponto de vista da família Faria, que quer sair do dia a dia dos negócios, deixar uma posição de controle de uma instituição financeira tem a finalidade de reduzir riscos sobre o patrimônio, segundo uma fonte. Isso porque os controladores assumem qualquer tipo de problema de solvência que uma instituição possa vir a enfrentar por problemas na gestão do negócio ou questões conjunturais, como o aumento da inadimplência, por exemplo.

A família é dona de outras empresas, incluindo a rede de materiais de construção C&C, a sorveteria La Basque, a fabricante de bebidas Água Prata e a empresa de óleo de palma Agropalma, que também estão sendo oferecidas ao mercado.

Recentemente, a família Faria também vendeu um terreno para a construção de um novo clube, que terá piscinas com ondas, projeto que tem envolvimento do BTG Pactual. O clube será construído no local onde funcionavam o Hotel Transamérica e o Teatro Alfa. Outros bens, como fazendas, imóveis e obras de arte, também estão na lista de ativos a ser repassada a um novo dono.

O Alfa é uma instituição de poucos ativos, estimados em R$ 23 bilhões, segundo os números mais recentes disponíveis no sistema do Banco Central (BC), de junho. O banco reportou lucro líquido de R$ 78 milhões em junho de 2022, uma alta de 11% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Já o Safra é bem maior, com R$ 242,7 bilhões em ativos, também conforme o BC. No ranking, o Safra está logo à frente do gigante americano Citi (R$ 152,6 bilhões) e da cooperativa Sicredi (R$ 122,5 bilhões). Entretanto, fica uma posição atrás do BTG Pactual, com R$ 444,5 bilhões em ativos.

Sob essa métrica, o Safra era o oitavo conglomerado do País, atrás de BTG, BNDES, Santander, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Banco do Brasil. A incorporação do Alfa, neste sentido, não muda a posição da instituição no ranking nacional.

No comunicado sobre a operação, o empresário David Safra disse que "a transação é um marco na história do banco no Brasil". "Compartilhamos valores, visão de longo prazo e paixão por trabalhar, isso nos dá enorme confiança na sintonia e sucesso dessa operação", ressaltou ele.

O CEO do Conglomerado Financeiro Alfa, Fábio Amorosino, classificou a compra como "uma transação histórica no mercado financeiro brasileiro". "Temos a convicção de que a operação entre os dois bancos seculares, fruto de trajetórias empreendedoras de sucesso e baseados em valores comuns, potencializará a qualidade, perenidade e excelência que sempre oferecemos aos nossos clientes e colaboradores", disse.

Rothschild e Mattos Filho atuaram, respectivamente, como assessores financeiro e legal do Alfa. Pelo Banco Safra, a assessoria financeira foi do J. Safra e a legal, do escritório Pinheiro Neto Advogados. / Agência Estado.

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