Reeleição de Emmanuel Macron: o futuro do euro, ‘custe o que custar’
Ex-banqueiro, presidente francês reduziu impostos para empresas e alterou imposto sobre a renda e operações financeiras
A reeleição de Emmanuel Macron na França foi cercada de alguns fatos curiosos:
• Baixa margem de votos válidos (38,5% dos eleitores);
• Um segundo mandato para o presidente atual algo que não acontecia há 2 décadas;
• Um segundo mandato para um presidente com maioria parlamentar, fato inédito desde 1965.
Reeleições são incomuns desde que um referendo francês, aprovado no ano 2000, reduziu o prazo de 7 para 5 anos, dados os amplos poderes auferidos ao cargo.
Ao presidente, cabem as questões externas, como declarar uma guerra, e as questões internas, como nomear os ministros e dissolver a Assembleia Nacional.
Apesar da oponente (Marine Le Pen) ter perdido novamente, ainda que por uma diferença menor, o resultado das eleições mostra porque, depois de 2 anos de pandemia e uma guerra dentro do continente, os franceses optaram pelo “status quo”, mantendo Emmanuel Macron no cargo.
2017
Quando Emmanuel Macron, um desconhecido no meio político, se lançou como candidato de um partido recém-formado (La République em Marche – LREM), havia uma grande mudança se consolidando. Tinha chegado a vez do populismo. O Brexit, decidido um ano antes, foi acompanhado pela vitória de Donald Trump nos EUA.
Em muitos lugares da Europa, governos extremistas prometiam abandonar o euro e todo o arcabouço jurídico e institucional por trás da União Europeia (UE). Não por outro motivo, a preocupação com as eleições na França, segunda maior economia dentro da união monetária.
Open for Business
Dada a sua experiência profissional (Emmanuel Macron é um ex-banqueiro de investimentos), seu discurso se baseava na defesa da globalização, motivo pelo qual propôs reformas para que o país pudesse se adaptar ao mundo.
Treinamento para as habilidades do século XXI e um ambiente favorável aos negócios estavam na ordem do dia.
Uma vez eleito, remodelou o sistema tributário, reduzindo impostos para as empresas e alterando o imposto sobre a renda e sobre as operações financeiras, além de atrair investidores estrangeiros.
Isso permitiu que o país formasse o seu próprio grupo de unicórnios, empresas cujos valuations são superiores a US$ 1 bilhão.
Ao longo de seu mandato, utilizou o peso da França no continente para fazer avançar a integração do projeto europeu que, dada a falta de um orçamento comum, é considerado como inacabado, 23 anos após o lançamento do euro.
É atribuído a ele, que compartilha da mesma nacionalidade de Christine Lagarde, atual presidente do Banco Central Europeu (BCE), o fundo de €750 bilhões criado para ajudar economias do bloco mais afetadas pela pandemia.
Muito astuto também na sua visão geopolítica, Macron entendia bem os riscos “China” e “Putin”.
Quo qu'il en coûte
Considerando que a França adota o welfare state, Emmanuel Macron não poupou recursos para evitar o pior quando a economia precisou ser fechada à força no início de 2020. Uma série de auxílios foi colocada em prática, para as mais diversas finalidades:
• €150 a mais para pessoas que contavam com algum tipo de benefício;
• Até €650 adicionais para profissionais de saúde;
• O limite de €1 para refeições nas universidades;
• Café da manhã gratuito em escolas localizadas em áreas carentes.
O apoio governamental ainda incluía recursos para que as empresas continuassem funcionando, mantendo as pessoas empregadas.
Apesar de modesta quando comparada aos EUA, a resposta fez jus ao termo “custe o que custar”, somando valores inclusive maiores que a totalidade gasta pelos países escandinavos, mundialmente conhecidos pelos seus amplos sistemas de proteção social.
Como resultado, o PIB francês já tinha retornado aos níveis anteriores ao da pandemia já em 2021. Os dados de desemprego mais recentes são menores que há 5 anos atrás.
Presidente dos ricos
Mesmo disposto a chacoalhar um antiquado sistema político, Emmanuel Macron, dado o seu curto mandato, não foi capaz de endereçar algumas questões, o que acabou levando mais votos para Marine Le Pen.
Tal como no Reino Unido, uma elite cosmopolita evidencia a desigualdade com o resto da França. O fato de conduzir o país como uma empresa precisando de uma reestruturação também o fez lidar com assuntos nada populares, como elevar a idade para a aposentadoria.
A idade mínima para que os homens possam se aposentar é de 60 anos. Sendo mais baixa que em outros países da Europa, Emmanuel Macron foi forçado a engavetar um projeto de reformulação dos 42 programas vigentes quando o foco teve que ser direcionado para o enfrentamento da covid-19.
Não por outro motivo, Le Pen explorou brilhantemente esse tema, juntamente com o aumento do custo de vida (inflação), mais um efeito colateral de uma série de choques de oferta decorrente da pandemia e da guerra na Ucrânia do que de má gestão propriamente dita.
Conclusão
É fato que o sistema financeiro internacional não gosta de incertezas. Não por outro motivo, a leve valorização do euro na segunda-feira seguinte, quando o resultado das eleições já era conhecido.
Atualmente, a França está entre os países mais endividados da UE, juntamente com os perdulários habituais (Grécia e Itália). Seu déficit ultrapassa 7% enquanto sua dívida pública está em torno de 115% do PIB.
Mesmo considerando os gastos para combater os efeitos econômicos da pandemia, esses valores estão muito distantes das regras impostas pelo Tratado de Maastricht de 1992, que limitou os déficits a 3% do PIB e o endividamento público a 60% do PIB.
Flexibilizadas ao longo dos anos para acomodar países com realidades distintas e períodos de baixo crescimento, elas explicam em boa parte a desvalorização do euro, hoje mais próximo de uma paridade 1:1 contra o dólar.
Se tem algo que causa rachas no bloco são as negociações em torno de uma política fiscal coerente, visto que a política monetária (conduzida pelo BCE) já mostrou os seus limites.
No que diz respeito ao país de Emmanuel Macron, ainda que a sua importância dentro do continente e o seu desempenho econômico recente permitam o financiamento de sua dívida pública, será muito difícil reduzi-la sem que haja um plano e vontade política (a depender do resultado das eleições parlamentares).
Resta saber se o pragmatismo do “presidente dos ricos” funcionará novamente. É disso que depende a França, a União Europeia e, fundamentalmente, o euro.
*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.
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