Mercado Financeiro

Por que gestores de fundos olham cada vez mais para a China, e os riscos?

China conta com oportunidades de ganhos que o mercado doméstico deixou de oferecer

Data de publicação:25/10/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Os gestores de fundo estão olhando cada vez mais para a China, como mercado gerador de amplas oportunidades de investimento. Uma atratividade que seduz tanto em renda fixa quanto em renda variável, embora muitos questionem a atratividade de investir em ativos chineses. Falta conhecimento e familiaridade com o mercado chinês, segundo um especialista.

O interesse pelo mercado chinês destoa de certa forma da imagem idealizada por quem convive com notícias que apontam para ações e iniciativas do governo pouco amigáveis à economia de mercado. Interferências estatais em setores do mundo privado reforçam essa ideia.

Abertura do mercado de capitais chinês em 2016 tem atraído cada vez mais investicores

Restrições recentes ao segmento de aço e commodities são vistas como símbolo da fúria regulatória e intervencionista do sistema de governo chinês. Dúvidas e insegurança, contudo, não são derivadas apenas de ações governamentais. Comportam outros ingredientes.

A crise financeira da Evergrande ainda sem desfecho, que sacudiu os mercados diante do risco de calote da construtora e contaminação da economia chinesa, reforçou a desconfiança de investidores. 

A atração que a China exerce sobre gestores e investidores brasileiros, ainda assim, é crescente. Dados de um levantamento da fintech Stake apontam para uma grande demanda de investidores brasileiros por ETFs (Exchange Traded Funds) chineses em setembro. A maior procura foi pelos CQQQ, um fundo de índice que investe no setor de tecnologia da China.

China é opção ao mundo ocidental

Embora inerentes ao cenário político-econômico de todos os países, riscos e incertezas são potencializados e amplificados quando o mercado de referência é a China. Mas há diferenças. O Brasil, por exemplo, passa por uma deterioração do contexto político-econômico, sem projetos inovadores e com a atividade travada, enquanto a China avança na marcha pela vanguarda tecnológica, principalmente no mercado de 5G.

A China é, para especialistas, uma opção de investimento ao mundo ocidental, que enfrenta riscos econômicos crescentes no pós-covid. Para Fernando Fenolio, economista-chefe do Asset Management da gestora WHG, gestora de um fundo macro com o pé fincado em mercados da China, falta aos investidores, principalmente, conhecimento e familiaridade sobre o funcionamento de sistema e governo na China.

Algumas atitudes classificadas como interferência estatal, sob a lente de gestores e investidores domésticos, podem estar sob olhar distorcido, porque funcionam apenas como direcionamento, um guia aos mercados. Isso ocorreria, de alguma forma, quando o governo chinês induz as empresas que priorizem a alocação de recursos em setores considerados estratégicos, como o de energia renovável e de semicondutores.

É preciso ter uma visão mais ampla, conhecer os diversos setores, para ter ideia da direção dos ativos, afirma Fenolio. O mercado chinês é muito diversificado para ficar exposto apenas a um setor, como o de tecnologia, que passou por ajustes recentes e causou quedas na bolsa. Os setores de tecnologia, ao qual o investidor está mais exposto, e serviços públicos foram bastante afetados pelo aperto regulatório promovido pelo governo.

Perspectiva maior de ganhos

A WHG está cada vez mais atenta às oportunidades do mercado internacional, sobretudo da China, onde identifica perspectivas de ganhos que o mercado doméstico deixou de oferecer, diz o relatório. 

A China é um convite à diversificação e deve fazer parte de qualquer portfólio de ativos globais. Por mais que sejam reticentes com o país, diz Fenolio, “as pessoas não podem deixar de investir na China”.

A segunda economia do mundo, como principal expoente do crescimento na Ásia, está na fronteira da tecnologia e rivaliza com os Estados Unidos, analisa. “Não dá para deixar de usufruir de uma bolsa cheia de oportunidades de um país que está na fronteira do conhecimento e de uma economia na vanguarda do desenvolvimento.”

A renda fixa chinesa, destaca o relatório, combina risco de crédito de país desenvolvido com taxas de juros de país emergente. Uma atratividade que não passa despercebida, sobretudo por investidores desapontados com ganhos perto de zero ou negativos de mercados mais desenvolvidos.

A abertura do mercado local de capitais, em 2016, tem atraído cada vez mais investidores, tanto para títulos privados como para soberanos. Um mercado com grande potencial de crescimento. A participação de estrangeiros na renda fixa chinesa, que movimenta US$ 7 trilhões, é de apenas 3%, enquanto na americana essa participação é bem maior, de 30%.

Renda variável ampliada

O mercado de renda variável também é bastante amplo, mas é onde mais se sente a presença da mão do Estado.  Ela aparece quando o governo procura canalizar os recursos privados para projetos e setores considerados estratégicos no processo de desenvolvimento do país.

Um dos beneficiados pelos incentivos são os de hardware e semicondutores, um esforço em busca de autonomia para reduzir a dependência americana. O outro é o de energia solar e carros elétricos, focados na mudança de matriz energética. Setores incentivados que apresentam ganhos expressivos em 2021.

São desempenhos que indicam que nem todos os setores da bolsa chinesa vão mal. A queda dos índices acionários usados por investidores ocidentais não é sinal de crise na economia chinesa, avalia Fenolio.

Uma combinação balanceada de renda fixa e renda variável gerou retornos positivos em 2021, aponta o relatório, apesar do aperto regulatório que afetou negativamente as bolsas chinesas em julho e agosto. A gestora WHG é dona de um fundo macro com carteira formada metade por renda fixa e metade por ações da China.

“A alocação de capital na bolsa da China é também uma forma de capturar as principais tendências globais da atualidade”, afirma o economista-chefe do Asset da gestora WHG. O investidor que prefere ações de tecnologia tem na bolsa chinesa uma opção à americana.

A China já rivaliza com os EUA em investimentos em fintech, machine learning, realidade virtual, carros autônomos e lidera a corrida por energias renováveis (energia solar e eólica). Não é por acaso que o fluxo de estrangeiros para a bolsa da China tem crescido a uma taxa de 80% ao ano, com o potencial de aumentar ainda mais, acredita a WHG.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.