Sem alarde, China intervém no mercado financeiro local para conter riscos
Movimentos podem prejudicar a promessa do presidente chinês, Xi Jinping, de conceder mais liberdade aos mercados
Preocupada em conter os riscos para o sistema financeiro do país, a China está recorrendo a medidas monetárias cada vez mais enérgicas, com movimentos que ameaçam colocar por água abaixo a promessa do presidente chinês, Xi Jinping, de conceder mais liberdade aos mercados.
Entre algumas ações, as autoridades ordenaram nas últimas semanas que as empresas reduzam a sua exposição a commodities no exterior, forçaram os bancos domésticos a manter mais moedas estrangeiras e estabeleceram um limite para os preços do carvão térmico.
Além disso, censuraram as buscas por criptomoedas e proibiram os corretores de publicar indicações para investimentos em ações. E mais: uma nova regra impedirá que alguns produtos financeiros detenham títulos mais arriscados e limitará sua alavancagem.
Risco moral
Embora as medidas sejam insuficientes para caracterizar uma intervenção direta do governo chinês, elas correm o risco de reforçar seu risco moral.
“O problema para a China é que há dívidas e riscos para o sistema financeiro, tornando mais difícil abrir mão do controle dos mercados domésticos”, disse Michael Pettis, professor de finanças da Universidade de Pequim e autor de Avoiding the Queda: Reestruturação Econômica da China.
“Quanto mais a China estabiliza os mercados, mais fundamentalmente instáveis eles se tornam por causa do risco moral”, reforça Pettis.
Exterior favorável
As condições monetárias favoráveis no exterior estão pressionando Pequim, pois grande parte da liquidez liberada por governos e bancos centrais globais nos últimos 15 meses foram direto para o país.
Vale lembrar que a China é um mercado enorme que oferece rendimentos mais elevados, moeda forte e acesso cada vez mais facilitado para os estrangeiros.
Controles unilaterais de capital significam que os preços podem ser distorcidos pelo excesso de dinheiro que ingressa no continente.
Combate aos riscos
Essa retórica se intensificou na semana passada, durante um fórum realizado em Xangai, com o principal regulador bancário e de seguros do país pedindo esforços “implacáveis” para conter os riscos financeiros da China.
De acordo com o chefe de um dos órgãos de fiscalização cambial da china, as empresas que especulam com a moeda do país estão “condenadas a perder”.
O comitê de câmbio da China ressaltou que os investidores devem ser manter cautelosos com os riscos de desvalorização do yuan – a moeda chinesa – com o fortalecimento do dólar.
Análise do mercado
De acordo com economistas do Morgan Stanley, incluindo em Jenny Zheng, em nota divulgada ao mercado no último dia 10, “os gestores estão monitorando atentamente os riscos que podem colocar em xeque a estabilidade financeira do país”.
Segundo a análise do banco, “a resposta de estímulo à pandemia da covid-19 na China foi significativa e eficaz para promover uma recuperação econômica real, em contraste com uma abordagem a mercados que contribuam parcialmente para promover preços recordes de ativos”.
O silêncio de Pequim sobre o futuro da China Huarong Asset Management, uma administradora de inadimplência que tem forte ligação com o sistema bancário do país, chocou os investidores e colocou em dúvida antigas suposições de que o governo sempre salvará empresas que são importantes para manter a estabilidade econômica do país.