Com IPOs, 5 principais fundos de small caps crescem acima de 90%
Em um ano, retorno dos líderes vai de 118% a 94%; confira lista com os principais fundos
Impulsionada por uma nova safra de estreantes na Bolsa e tradicionalmente mais voláteis - tanto em momentos de baixa, quanto de alta, as ações de empresas consideradas de menor porte, chamadas de small caps, vão se tornando as queridinhas dos investidores.
No mercado de fundos, os últimos 12 meses foram vistosos para esse nicho. Os fundos mais populares de small caps se descolaram do principal índice de referência da Bolsa. Enquanto o Ibovespa subiu 50% em 12 meses, com data de corte até 25 de maio, os cinco principais fundos de small caps obtiveram rendimento acima de 90% na B3. Resultado que os colocam entre os mais rentável da setor, ao longo de um ano.
Na liderança do nicho, por exemplo está o o Trígono Flagship 60 Small Caps. Lançado em março do ano passado, é o filho caçula da gestora paulistana Trígono, já com um histórico de produtos bem-sucedidos nesse ramo. O Flagship 60 obteve um retorno acumulado de 117,85% em 12 meses. Não à toa, tem hoje um patrimônio líquido de R$ 290,9 milhões, atraindo 10,1% de cotistas.
Com aporte mínimo de R$ 500, taxa de administração de 2% ao ano e taxa de performance de 20% do que superar o SMLL, o índice de referência das small caps, hoje em alta de 41,98% em 1 ano, o fundo pega o embalo do sucesso de empresas menores, que são as primeiras a sentir os efeitos de uma crise, mas em compensação são as primeiras a reagir.
“A maior posição setorial de nossos fundos hoje é a indústria, que está se recuperando bem, como as de bens de capital e indústria automobilística pesada”, afirma Werner Roger, gestor da Trígono Capital, que sustenta outros três fundos small caps no topo da lista dos mais rentáveis.
Outros setores em que Werner Roger, da Trígono Capital, mira oportunidades são os de mineração, um nicho de oportunidades com investimento no programa de descarbonização da China, setor químico e petroquímico, focadas em fábricas que se beneficiam da demanda de tinta e plástico pela construção civil, além das companhias do setor do agronegócio.
O executivo da Trígono atribui à diversidade de setores em que os tentáculos da carteira de fundos que administra lança em busca das melhores empresas a gestão bem-sucedida dos fundos da Trígono. E critica a falta de ousadia na gestão de outros profissionais.
“Em geral, o que se vê é que os gestores ficam muito amarrados a índices, com medo de errar, e a consequência disso é que os resultados ficam muito parecidos.” O valor mínimo para aplicação em todos os fundos da Trígono é R$ 250.
Perspectiva com economia favorece as small caps
A expectativa de analistas e gestores é que a melhora prevista para a atividade venha a reforçar o retorno das small caps, porque são empresas mais ligadas à economia doméstica, sobretudo ao segmento de varejo, diferentemente das que formam o Ibovespa, fortemente concentradas no setor de commodities e bancos.
Embora a denominação remeta à ideia de empresas de menor porte, o segmento de varejo conta com grandes empresas consideradas small caps no índice representativo desse segmento, o SMLL, na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. O SMLL registra variação de 12% no ano, até 4 de junho. Fazem parte desse índice, dentre outras, empresas como Hering, Marisa, Arezzo, C&A, Grupo Soma, shoppings, como o Iguatemi, e a rede de supermercados Pão de Açúcar.
Empresas que, segundo gestores e analistas, tendem a beneficiar-se da reativação da economia e do consumo, à medida que a vacinação avance e boa parte da população seja imunizada contra a covid.
Em geral, as small caps não aparecem no radar dos investidores, ofuscadas pelas blue chips, afirmam profissionais de mercado. Cabe, então, um trabalho de garimpagem para chegar a elas. Como são companhias que não aparecem tanto, são menos negociadas.
“O investidor estrangeiro quer liquidez”, que é mais baixa nas empresas de menor porte, porque recebem pouca cobertura, por meio de relatórios e análises de bancos”, explica Matheus Soares, analista de small caps da XP. “Mas, à medida que começarem a crescer, passam a chamar a atenção do investidor”, afirma, citando o banco Inter, quando começou a expandir as atividades e a ampliar a base de clientes.
Liquidez baixa aumenta a volatilidade
O baixo volume de negócios com ações de companhias de menor porte, diferentemente do giro mais intenso das blue chips, aumenta a volatilidade de preços dos papeis do segmento de segunda linha.
O superintendente de Análise de Investimentos da Bram, Rodrigo Santoro, diz que a liquidez é um limitador importante para o fundo e pode levar a certa volatilidade no curto prazo em uma situação de estresse. “É por isso que não se pode ter cabeça de curto prazo ao investir em small caps. A volatilidade tende a ser maior nesses papeis, mas em período mais longo esse risco é em geral revertido em bom retorno.”
Uma análise alinhada com uma das motivações que levam o investidor à caça das small caps. É a crença de que boa parte dessas empresas estão com uma cotação abaixo de seu real valor de mercado e, um dia, poderão oferecer retorno maior que as principais ações de primeira linha, as blue chips, as estrelas do Ibovespa, já bem avaliadas e, portanto, com espaço limitado para valorização.
Como o giro de small caps no pregão é mais reduzido, quem for vender a ação poderá ter dificuldade para encontrar rapidamente um comprador. Ou, ainda, correr o risco de passar o papel à frente por um preço menor, porque o baixo volume negócios pode distorcer as cotações. Um mercado de poucos players também em que a atuação mais pesada de um poderia jogar aos preços artificialmente para cima ou para baixo.
Como escolher as small caps
A falta de relatórios com informações sobre as empresas desse segmento é um dos fatores que dificultam a escolha, apontam os gestores. “O importante é entender como a empresa ganha”, pontua Matheus Soares. “Às vezes, uma empresa não é small cap por acaso, pode estar em lugar errado, em atividade que não seja a competência dela”, comenta. E é nesse tipo de análise que se podem encontrar oportunidades. “É preciso achar as assimetrias que as pessoas não estão olhando.”
O superintendente de Análise de Investimentos da Bram, Rodrigo Santoro Giraldes, diz que “os fundos da Bram concentram a aposta em empresas com alto potencial de crescimento em setores que ainda não estão consolidados”. Para ele, nessa escolha, o primeiro ponto é enxergar as vantagens competitivas da empresa em relação aos pares e, o segundo, analisar o potencial de crescimento da companhia e avaliar a capacidade do manager de entregar um crescimento superior dos concorrentes no segmento em que atua.
Angelo Amaral, head da Mesa de Renda Variável da SVN investimentos, se diz fã das small caps e que sua preferência na escolha são “empresas que ou são novas ou têm grande potencial de crescimento pela frente, com perspectiva de valorização maior que empresas de maior porte, do Ibovespa, já precificadas”.
Ele reforça que as empresas do segmento são boas para investir, mas ficam escondidas, esquecidas, pelas dificuldades de acesso às informações a respeito dela. Segundo Amaral, os IPOs de muitas delas foram eventos recentes e é preciso um serviço de garimpagem para identificar os papeis mais promissores. “Uma solução pode estar na carteira recomendada de ações small caps elaborada pelas equipes de análise das corretoras”, sugere o head de Renda Variável da SVN Investimentos.