Renda Fixa

Por que aplicar em renda fixa no exterior se o maior juro real do planeta está aqui?

Diversificação geográfica para diluir os riscos, juros americanos em suas máximas de 40 anos, risco zero nos Treasuries são algumas da razões

Data de publicação:07/02/2023 às 08:00 - Atualizado 2 anos atrás
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Pode até parecer contraditório, quando os juros reais no País estão acima de 7%, os mais altos do planeta, especialistas afirmam que este é também o momento da renda fixa no exterior. Por quê? A resposta parece estar na combinação de alguns fatores, entre os principais: diversificação geográfica, juros americanos em máximas dos últimos 40 anos, risco zero oferecido pelos bonds do Tesouro dos EUA, e ainda proteção cambial.

“Até bem pouco tempo atrás era difícil montar uma carteira de investimentos nos EUA, porque você não tinha essas opções de renda fixa” afirma Tharcisio Santos, sócio e co-Cio da Vita Investimentos. A elevação das taxas promovida pelo Federal Reserve a um patamar de 4,5% ao ano, proporcionou “a volta da renda fixa nos Estados Unidos”. E embora em nível menos acelerado, a trajetória dos juros americanos deve continuar sendo de alta

Já aqui, a Selic deve seguir em seus 13,75% ao ano por mais alguns meses. Estabilidade é, por enquanto, a sinalização dada pelo Banco Central. O mercado espera o início dos cortes das taxas no segundo semestre, exceto surpresas da inflação no meio do caminho.

 “Os juros estão altos aqui pelas preocupações com o risco fiscal, com o risco-país e questões estruturais da inflação” diz Guilherme Zanin, analista da Avenue. Os ganhos com os juros têm atraído muito capital externo, segundo ele, e provocado um queda no dólar nos últimos dias, fechou abaixo de R$ 5 na última quinta-feira (2).  

As perspectivas de condução de política monetária em ambos os mercados criam oportunidades também com abertura ou fechamento da curva de juros futuros.

Juros dos EUA em alta

Embora claramente o Fed esteja tirando o pé do acelerador em relação aos juros nos EUA, com ajustes incialmente de 0,75 ponto-base, para 0,50pb em dezembro de 2022, e 0,25pb em janeiro deste ano, a taxa ainda está a caminho do 5% ao ano, acredita Zanin, da Avenue. “O ganho na renda fixa americana será de 5% com risco zero, e aqui você ganha 13,75% com risco elevado”, diz ele.

Os estragos que os juros mais altos possam provocar na economia, com forte recessão, também preocupam os americanos e por isso o mercado já começa a apostar em recuo dos juros, ressalta Santos, da Vita Investimentos: “O título de 10 anos do governo americano começou o ano a 4% e hoje já está em 3,5%. Ou seja, na curva de juros americana já existe queda de juros precificada”. A percepção dos investidores é de que as taxas estariam próximas do fim do ciclo de alta. 

Ao mesmo tempo, Santos explica que o recado do Fed tem sido outro, porque na última ata do Comitê de Mercado Aberto (Fomc), o colegiado votante não considerou cenários com queda dos juros para este ano. “Nesse momento tem um cenário divergente entre o que o Fed está falando e o que mercado está enxergando pelos preços praticados”.

Estratégia é alocar no curto prazo

Diante das incertezas, a Vita Investimentos tem procurado alocar os recursos de seus clientes em prazos mais curtos, de 2 a 4 anos, mas garantindo um rendimento de 4% a 5% ao ano tanto em bonds do governo, sem risco de crédito, como bonds de empresas. "Entendemos que é arriscado demais comprar títulos de renda fixa muito longos, porque se o Fed não cortar os juros pode ser que essa curva tenha um reajuste para cima", afirma o especialista da casa. As perdas seriam decorrentes da marcação a mercado dos títulos.

A rentabilidade chegou a ser maior que a atual. Em outubro de 2022, Santos relata que fez uma importante alocação em portfólios  de clientes com retorno de 4,5%, 5,0% e até acima de 6,5%, “em títulos de de grandes empresas, com risco de crédito muito bom, mas sempre na parte mais curta da curva, com vencimento em 2026 e 2027”. 

A estratégia consiste em aproveitar os juros considerados altos para padrões americanos, enquanto aguarda e acompanha o que vai acontecer na economia dos EUA, comportamento da inflação, atividade econômica, empregos, fatores que impactam o nível dos juros.

Perspectivas

O diretor da Vita Investimentos considera que a divulgação da atual safra de balanços das empresas americanas deve trazer pistas importantes sobre a atividade econômica americana. Ele destaca que a Apple divulgou resultados abaixo do esperado, sendo a primeira vez que não bate a sua ‘guidance’. 

Além disso, Santos pontua que uma série de demissões está ocorrendo que ainda não aparece nos dados atuais do emprego nos EUA. Os que foram divulgados na última sexta-feira, ainda são muito fortes. Essas perspectivas podem trazer uma revisão no valor das ações, e aí a bolsa americana esteja um pouco cara para um momento de incertezas, em sua opinião.

O cálculo que o especialista faz é o seguinte: A bolsa americana no longo prazo traz retornos anualizados de cerca de 8%, e a renda fixa, que ficou por muito anos sem retorno nenhum, tem agora um rendimento de 5%. Para ele, “não vale a pena correr um risco para ganhar 8%, pode ser que você perca dinheiro no curto prazo, por conta de um movimento de correção na bolsa”.

A inflação americana é outro componente nessa história, depois superar os 9% em junho do ano passado, ela estaria rodando agora me níveis mais baixos, entre 4,50% e 4,70%, mas que são mais que o dobro da meta almejada pelo Fed, de 2%. Essa situação reforça a tese de que os juros devem seguir elevados. 

Zanin, da Avenue, acredita que a inflação vai desacelerar e os juros que permitem os bonds pagar hoje entre 4 e 5% em dólar, em moeda forte, vão cair. 

Como acessar a renda fixa americana

Há caminhos tanto para o grande como para o pequeno investidor.

Corretoras

Para ter acesso amplo e aos diferentes ativos como bonds do governo americanos ou de crédito privado, títulos de renda fixa de empresas, fundos de investimentos e centenas de ETFs é preciso abrir uma conta lá fora, de não-residente, em uma corretora e dispor de algo em torno de US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão) para não ser muito onerado, alerta Santos. Mas há corretoras que permitem a abertura de uma conta com valores mais baixos, cerca de US$ 50 mil (R$ 260 mil), dando acesso a esse tipo de alocação, esclarece ele.

Seja qual for a opção, vale a pena ter um especialista ao lado para o apoio no aspecto jurídico, especialmente com a tributação nos Estados Unidos e também daqui, com o recolhimento de Darfs.

Fundos multimercado

O pequeno investidor tem a oportunidade de alocar em renda fixa americana no mercado nacional por meio de fundos de investimentos.

Pelo menos dois fundos fazem essa ponte, são dois multimercado: o Pimco Income FIC FIM IE e o Global OakTree Global Credit BRL FIC FIM IE.

O Pimco IncomePimco foi lançado em fevereiro de 2016, exige aplicação mínima de R$ 5 mil, tem um patrimônio de R$ 357 milhões e 3,52 mil cotistas, e cobra uma taxa de administração de 0,93% ao ano.

Global OakTree foi lançado em junho de 2018, exige aplicação de R$ 500, tem um patrimônio de R$ 258 milhões e 3,24 mil cotistas, e cobra uma taxa de administração de 0,85% ao ano. 

Há versões em dólar e em reais desse fundo. "É preciso saber em que classe está investindo: se comprar em dólar e o real continuar se valorizando, haverá perdas; se comprar em reais, não tem variação no ativo, o ganho são os 4 ou 5% lá fora", explica Santos.

Veja, em gráfico do Comparador de Ativos da Mais Retorno, o desempenho dos dois fundos, desde junho de 2018.

ETFs

Dois ETFs da Investo de renda fixa americana são negociados na B3: o BNDX11 e o USDB11, eles seguem ETFs listados na bolsa americana, os BNDX e o BND, ambos da gestora Vanguard.

Além de mais acessíveis, os ETFs permitem uma diversificação de risco de crédito. No entanto, neles não é possível controlar o vencimento do título que está na carteira, portanto, existe aí o risco de ter títulos muito longos que podem ter perdas se a curva de juros americanos voltar a subir.

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Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.