Infinity é desligada da Anbima após acusação de infrações e principal fundo derrete 59%
Gestora é acusada de desenquadramento; em um mês, Infinity Select, carro-chefe da corretora, já perdeu R$ 420 milhões
Nas últimas semanas, os agentes autônomos e investidores mais parrudos passaram a ser procurados por equipes de recomendação de algumas plataformas com um alerta sobre o fundo Infinity Select FI RF LP.
O produto, carro-chefe da Infinity Asset, perdeu em dezembro o selo da Anbima, espécie de chancela emitida pela agência que atesta a governança dos fundos, que contam com regras específicas.
Com isso, o patrimônio líquido do fundo derreteu 59%, caindo de mais de R$ 700 milhões para atuais R$ 292,5 milhões. O número de cotistas também caiu pela metade. De mais de 10 mil investidores, para 5,1 mil.
Anbima baniu a corretora
"A princípio, não explicaram o real motivo (do descredenciamento do fundo)", dizia uma dessas mensagens, enviada pela assessoria da Modal aos investidores e agentes autônomos no final de janeiro. "Pode ser que não seja nada, mas não queria pagar para ver com o recurso alocado nele", afirma o recado.
Não se trata de um caso isolado. Todos os fundos da corretora foram descredenciados pela Anbima, que, na prática, baniu a Infinit Asset de seu quadro de associados.
Perder o selo da Anbima não inviabiliza um fundo, já que o registro da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é formalmente suficiente. "Entretanto, a falta do selo reduz a credibilidade do negócio", diz Luiz Antonio Varela Donelli, do escritório DSA Advogados.
Investigação da Anbima
O banimento aconteceu após uma decisão na Justiça que confirmou investigação concluída em 2020 pela própria Anbima. Segundo relatório publicado pela associação, a Infinity Asset descumpriu ao menos sete regras de auto regulação.
A Anbima diz que a Infinity vinha "de forma reiterada" cometendo irregularidades, que vão desde eventos como conflitos de interesse até a realização de investimentos em violação aos limites previstos nos regulamentos.
Infinity nega
A Infinity, por sua vez, nega toda as acusações. A reportagem apurou que David Fernandez, presidente da corretora, protocolou no final de janeiro uma ação no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ele pede a anulação da sentença de primeira instância, alegando que não teve ainda oportunidade de se defender apropriadamente. O processo corre em segredo de justiça.
Fontes próximas ao gestor dizem que ele se queixa a quem quer ouvir que é vítima de perseguição por parte da Anbima. Ele teria dito que seus fundos, por alcançarem resultados geralmente acima da média do setor, incomodam os tubarões do setor, que integram a diretoria da associação.
168% do CDI
De fato, o Infinity Select, um veículo de renda fixa, com resgate imediato, esbanja um retorno acumulado de 168% do CDI ao longo de seus cinco anos. O fundo fechou 2022 com rentabilidade de 20,01%, 162% do CDI.
O problema é que, desde que a notícia dos descredenciamentos da Anbima começou a correr, os investidores já sacaram R$ 420 milhões do Infinit Select, 59% de seu patrimônio, que no segundo semestre do ano passado superou os R$ 700 milhões e, agora, está em R$ 292,5 milhões.
Todas as plataformas que vinham distribuindo os fundos da Infinity, CM Capital, Modal, Guide e Toro Investimentos, suspenderam a comercialização.
A Mais Retorno apurou que, para se manter, a Infinity vem tentando arregimentar investidores entre institucionais e Family Offices. Apesar de contar com um ticket médio maior do que o varejo, a corretora teria conquistado em janeiro, no máximo, uns 300 investidores novos.