Dólar vira opção para aposentadoria em busca por proteção contra 'risco Brasil'
Em meio ao cenário macroeconômico desafiador no Brasil, especialistas apontam ativos para o longo prazo que podem ser até mesmo estratégia para aposentadoria
Em um cenário desafiador para a economia brasileira, com inflação alta, juros em patamares elevados, e perspectiva de maior risco fiscal, investidores têm montado estratégias de investimentos para se proteger do ‘risco Brasil’.
Nesse cenário, o dólar se tornou uma opção até mesmo para a aposentadoria, uma poupança de formação no longo prazo, que precisa de blindagem para atingir o objetivo de proporcionar uma renda complementar no futuro.
Pelos moldes da previdência privada tradicional existem algumas formas de garantir a planejada segurança financeira, parte dela em moeda forte, após anos de trabalho.
Uma das formas é comprar cotas dos Fundos de Investimento de Previdência da classe dos multimercado.
Ao mesmo tempo, o surgimento de novas tecnologias permitiram maior acesso a estratégias de investimentos internacionais. Investir diretamente em dólar ou em ativos dos Estados Unidos não seria, no entanto, pelos fundos de previdência e sim em produtos como ETFs, ou na gama de ativos existentes nos EUA. Quem optar por esse caminho precisa se ater aos riscos inerentes aos ativos.
A diversificação como garantia
Antes mesmo de falar sobre como investir em fundos de previdência privada com acesso ao dólar, fundos cambiais ou diretamente em ativos dolarizados, especialistas reforçam que a diversificação da carteira é a estratégia mais indicada para segurança nos investimentos. O diretor de investimentos da Gama, Ian Caó, acredita que é arriscado manter toda a economia poupada em real, em um país desafiador economicamente como o Brasil. “Se a moeda local desvaloriza, o patrimônio pode perder seu valor” afirma.
William Castro Alves, estrategista chefe da Avenue, explica que a política econômica é pensada na grande maioria das vezes a curto prazo e existe dificuldade para criar mecanismos de investimento no longo prazo. "Não por acaso, temos uma moeda que conseguiu sobreviver, mas ainda assim, foi uma moeda que perdeu 80% do seu valor de mercado frente ao dólar. É importante pensar em uma aposentadoria com moeda forte que te permita ter orientação de longo prazo”, afirma.
País sede | Moeda | Valor de 1 dólar na moeda original | Valorização do dólar desde 2003 |
Brasil | Real | 5,24 | 71,03% |
Argentina | Peso argentino | 176,59 | 491,94% |
Dados da Economática em 06/12/2022
A estratégia de aposentadoria é pensada, sobretudo, para o longo prazo. E nesse sentido, uma dica do diretor de investimentos da Gama, Ian Caó, é que o investidor tenha paciência e não ficar conferindo e comparando diariamente o retorno com o CDI, já que são propósitos diferentes de investimento. Caó reitera que é importante sempre prestar atenção na infraestrutura regulatória quando for investir em dólar.
Portanto, a exposição à moeda norte-americana deve ser entendida muito mais como proteção, sem esperar dela a melhor performance na diversificação dos ativos.
O diretor de investimentos da Gama pontua, ainda, que "mesmo para investidores de alta renda, é melhor optar por uma gestora consagrada do que enviar o dinheiro e ter que operar sozinho, com o risco de atingir uma taxa comparativa muito baixa".
Fundos de previdência
Para os investidores que pensam em uma estratégia diversificada de investimentos nos moldes da previdência privada no Brasil, existem os fundos dessa classe e da família dos multimercado, que podem colocar até 20% de mercados globais dentro do portfólio.
No mercado existem, pelo menos, 1.916 fundos com essas características e 6 deles com exposição direta à moeda e em operação. Desde agosto de 2021 até 8 de dezembro deste ano, todos eles superam a variação do dólar no período. Por serem multimercados, esses fundos de previdência podem mesclar estratégias em busca de desempenhos mais atraentes.
Se o recorte é feito desde o dia do lançamento do fundo, no entanto, nem todos eles batem o benchmark.
| Fundo | Rendimento do fundo | Variação do dólar | Período |
| ACR Investimento FIM | 169,51% | 195,76% | 28/06/2010 a 05/12/2022 |
| AZ Quest Juros Moedas FIFE | 12,86% | 3,12% | 04/06/2020 a 08/12/2022 |
| Bradesco Master FI Cambial | 7,17% | 5,30% | 17/03/2020 a 08/12/2022 |
| BrasilPrev Top Cambial FI | 1,39% | -6,45% | 28/04/2020 a 08/12/2022 |
| BrasilPrev Top Juros Moedas FIM | 13,36% | -0,71% | 25/08/2021 a 08/12/2022 |
| Capitânia Reit Prev Adv. XP Seg. | 24,67% | 2,90% | 09/12/2020 a 06/12/2022 |
Fonte: Comparador de Ativos da Mais Retorno
De acordo com José Raymundo de Faria Júnior, planejador financeiro pela Planejar, morar no Brasil e transferir parte do patrimônio para fora é, em princípio, uma estratégia de diversificação saudável. Ele destaca que os fundos de previdência multimercado atendem a essa demanda, podendo alocar parte do portfólio em dólar, com a segurança de uma gestão e as vantagens tributárias que o Brasil possui para esse tipo de investimento.
Para Júnior, antes de montar uma estratégia de aposentadoria em dólar que não seja nos moldes tradicionais da previdência privada, é necessário colocar na balança as questões tributárias de cada investimento.
Aposentadoria em dólar fora da previdência privada
A estratégia de colocar ativos internacionais dentro da carteira pode ser feita no mercado internacional, com a gama de ativos já existentes nos Estados Unidos, mas para diluir os riscos na gestão própria dos seus ativos, algumas corretoras como a Avenue, a Gama e a Principal Claritas fazem a ponte para conseguir acesso a esses ativos de fora, seja por meio de fundos de investimento ou até mesmo ETFs que replicam índices do exterior.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, explica que investimentos a longo prazo nos Estados Unidos podem estar tanto em títulos do Tesouro norte-americano, com risco menor, quanto em ativos da bolsa, que também podem ser carregados e devolverem retorno dentro de uma janela de 20 anos.
"A forma mais barata e eficiente de se posicionar em dólar seria via ETFs, que replicam a estratégia passiva de alguns índices. Pensando em aposentadoria, temos uma volatilidade muito grande no curto prazo, com o cenário geopolítico ruim, dificuldade de controlar a inflação, juros altos ao redor do mundo. No longo prazo, se posicionar em um ETF do índice S&P ou Nasdaq, que possuem empresas que se destacam no cenário norte-americano, é bastante válido, é uma alocação boa e bem diversificada".
Rodrigo Cabraitz, analista de alocação da Principal Claritas
ETFs:
ETF é a sigla para a expressão em inglês Exchange Traded Funds, que, em tradução literal para o português, seria algo como “Fundos Negociados em Bolsa”. Basicamente, os #ETFs funcionam como um grupo diversificado de ativos que são negociados como ações em uma bolsa de valores. Tendo como referência um índice da bolsa, os ETF atingem rendimentos iguais ou superiores aos dos índices de referência.
BDRs
Brazilian Depositary Receipts, que na tradução mais comum significa Certificado de Depósito de Valores Mobiliários, são ativos do Brasil emitidos em outros países. Essa é a alternativa brasileira que equivale aos ADR (American Depositary Receipts).
Os BDRs são certificados que representam ações de empresas estrangeiras e podem ser negociados na Bolsa de Valores Brasileira, a B3, permitindo que os investidores brasileiros comprem ações de companhias internacionais.
Fundos cambiais
Um fundo cambial é um fundo de investimentos cujas operações são baseadas em moedas estrangeiras, como o dólar. A rentabilidade dessas aplicações dependerão diretamente da variação cambial.
Como em todo fundo, o objetivo é reunir diversos investidores que, de acordo com a quantidade de dinheiro empregada, possuem uma determinada participação nos lucros. Essa participação é definida por meio de cotas.
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