Economia

Onde investir com taxa selic a 13,75%?

O Comitê de Política Monetária fez um novo ajuste na Taxa Selic, que agora será de 13,75% ao ano. Veja como investir nesse cenário.

Data de publicação:04/08/2022 às 10:00 - Atualizado 2 anos atrás
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Taxa selic retomando altos patamares, e agora?

Não tem sido fácil a vida do investidor de renda variável ao longo desses últimos meses. Após um evento mais do que inesperado, a pandemia da COVID-19, que penalizou com força o mercado de ações, agora vivemos um período de recessão marcado por uma grande pressão inflacionária.

Inflação dispara em 2022. Entenda qual sua relação com a taxa básica de juros e impacto nos investimentos. | Foto: reprodução.

Diante do cenário, o Banco Central precisou apertar a sua política monetária e iniciou um processo de alta na Taxa Selic, a taxa básica de juros do Brasil. Com isso, o cenário voltou a ser atrativo para o "rentismo" — nome dado ao perfil de renda fixa no mercado financeiro.

Por outro lado, a elevação dos juros também traz um cenário adverso para o consumo, pois os empréstimos e financiamentos ficam mais caros. Neste cenário de elevação da inflação e alto custo para tomar dívida, como investir para proteção patrimonial? É o que veremos no artigo de hoje.

Por que a Taxa Selic está alta?

Para começar a entender o panorama econômico do Brasil, o primeiro passo é avaliar o contexto que levou ao ciclo de alta na taxa de juros.

Muito desse cenário se deve à pandemia. Com a necessidade de isolamento social, o ambiente se tornou muito desafiador para o varejo brasileiro. Evitando uma catástrofe maior, o governo passou a injetar dinheiro na economia por meio do Auxílio Emergencial. A estratégia levou a um consumo importante, mas também gerou uma pressão inflacionária.

Como já é comum no contexto econômico, a política monetária do Banco Central exige o aumento das taxas de juros como ferramenta de combate à inflação elevada. E, como não houve uma redução significativa do IPCA, principal índice inflacionário do país, o aumento da Taxa Selic seguiu.

Até onde vai a Taxa Selic?

Na quarta-feira, dia 03 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) definiu a nova Taxa Selic em 13,75% ao ano. Houve também uma sinalização de que o ciclo de alta pode estar próximo do fim, mas esse processo depende diretamente de uma melhora nos resultados de inflação do país.

Desta forma, embora seja provável um novo aumento na próxima reunião, podemos dizer que estamos perto de encerrar o aumento da taxa básica de juros. É provável que a Taxa Selic seja mantida sem ajustes por um período de ao menos um ano antes de iniciar um movimento de redução.

No entanto, tudo isso é apenas uma expectativa geral do mercado. Caso a inflação volte a pressionar a meta do Banco Central ou mesmo verifique-se uma evolução do risco fiscal (vale lembrar, é ano eleitoral e os dois principais candidatos ao cargo presidencial possuem um perfil populista), então pode ser necessário seguir com o aumento dos juros.

Como investir em um cenário de alta das taxas de juros?

Neste contexto de elevação da Taxa Selic, como investir no Brasil? É hora de sair da renda variável e ficar na renda fixa? Posso resgatar todos os meus ativos e comprar um título público pós-fixados? Essas são algumas dúvidas comuns dos investidores diante do cenário de alta das taxas de juros.

A seguir, vamos compartilhar um panorama geral e a nossa visão para as principais classes de ativos no Brasil.

Renda fixa (pós-fixados)

A bola da vez são os títulos pós-fixados e, de fato, eles possuem rendimentos bem atrativos. Como acompanham as taxas de juros, todo e qualquer movimento de alta da Taxa Selic aumenta a remuneração do Tesouro Selic ou de títulos bancários atrelados ao CDI, por exemplo.

Isso significa que é hora de vender toda a sua posição e investir com força nessa classe de ativos? Não! A Taxa Selic alta é temporária e, como sempre, em algum momento vai baixar. Se você ficar buscando mudar o seu portfólio conforme as definições de juros feitas pelo Banco Central, provavelmente tomará decisões equivocadas.

O ideal é montar um plano estratégico e, eventualmente, aumentar a sua exposição aos títulos pós-fixados, mas sem abrir mão das demais classes de ativos. Quanto o mercado virar, esse tipo de posicionamento diversificado poderá produzir resultados poderosos.

Outro ponto para ficar de olho são os títulos prefixados. Eles são ideais em momentos de pico da Taxa Selic, permitindo ao investidor garantir uma remuneração fixa maior mesmo durante a queda da nossa taxa básica de juros. Esse momento parece próximo, mas não se preocupe tanto com o acerto — e sim na avaliação da relação entre risco e retorno.

Inflação

Dentro dos investimentos de renda fixa, nós temos também os títulos atrelados à inflação — geralmente utilizado o IPCA como indexador. Para esses títulos, é preciso ter cautela.

A pressão inflacionária recente fez com que os títulos de inflação apresentassem forte valorização. No entanto, com a Taxa Selic elevada, a tendência é de queda no IPCA. Portanto, os investimentos nessa classe de ativos devem perder atratividade.

Ainda assim, algumas oportunidades fazem sentido. O Tesouro IPCA, por exemplo, vem pagando o IPCA + 6,0% ao ano. Garantir juros reais anuais nesse patamar é bastante atrativo para qualquer perfil de investidor. Vale avaliar, mas cuidado com investimentos que focam apenas na variação do índice.

Fundos multimercados

Para quem prefere terceirizar as decisões financeiras, um caminho possível está em buscar por fundos de investimentos. E, principalmente, pelos produtos classificados como multimercados.

Como esse perfil de fundo pode trabalhar com diversas classes de ativos, os gestores podem se posicionar de forma estratégica, alternando renda fixa e renda variável de acordo com as melhores oportunidades.

Renda variável

E a renda variável? Como fica em um contexto de juros elevados? De um modo geral, o efeito é negativo. Com o financiamento mais caro, as empresas tendem a sofrer. Além disso, é comum uma fuga dos investidores, que vendem as suas ações para voltar aos ganhos "garantidos" da renda fixa.

No entanto, esse é justamente o melhor momento para investir em renda variável. Pode ser contra-intuitivo, mas você está diante de um cenário no qual ninguém que comprar essa classe de ativos. Portanto, os preços de ações e fundos imobiliários se tornam bem atrativos e descontados.

Quem tem orientação para o longo prazo tem, em suma, uma grande oportunidade de se associar a ótimas empresas e imóveis, pagando barato por ativos com excelente potencial. Contudo, apenas recomendamos essa prática para investidores que possuem um perfil mais arrojado, suportando alguns meses de mercado lateralizado — ou até em queda.

Invista para o longo prazo

Como vimos ao longo do artigo, portanto, o cenário de alta da Taxa Selic acaba beneficiando a renda fixa e prejudicando a renda variável. Apesar disso, continuamos recomendando que você siga uma estratégia de longo prazo, orientada para a construção de uma carteira diversificada e balanceada.

Vale mencionar que o curto prazo deve seguir desafiador para os ativos de renda variável. Com os juros subindo também nos Estados Unidos — mercado mais seguro e referência global para a economia —, investir em renda fixa global também se torna mais atrativo do que tomar risco.

Por fim, caso opte por algum ajuste em relação ao seu portfólio, realize esse processo de forma gradual. Se você tem ações, por exemplo, esse é um momento ruim para vender as suas posições. Tente dar prioridade para os novos aportes ou então faça os ajustes aos poucos, evitando assim um impacto negativo relevante para o seu patrimônio.

Sobre o autor
Stéfano BozzaFormado em Administração pela PUC-SP. Trabalhou em empresas do segmento financeiro (Itaú BBA) e varejo (BRMALLS) até 2016, quando iniciou a jornada de produção de conteúdo para a internet com foco em finanças.