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Musk sabia da queda das vendas de carros elétricos quando vendeu suas ações da Tesla em dezembro?

Movimento passou a ser suspeito porque mercado não tinha as mesmas informações que Musk, o dono da empresa

Data de publicação:20/01/2023 às 07:21 - Atualizado 2 anos atrás
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No final de 2022, um movimento feito por Elon Musk chamou a atenção dos mercados: em meio a uma onda de notícias sobre a queda na venda de veículos elétricos de sua empresa, a Tesla, o empresário vendeu quase US$ 3,6 bilhões de suas ações, antes que elas despencassem em janeiro, segundo informações do Wall Street Journal.

Em 2 de janeiro, a Tesla divulgou os números da empresa, com as vendas no quarto trimestre muito abaixo do esperado pelos investidores, e a informação fez o preço das ações despencar, na abertura do pregão do dia seguinte. 

Preço das ações despencou em janeiro quando dados da Tesla foram conhecidos

A questão que se coloca, apurou o jornal, é se Musk já sabia que os negócios haviam desacelarado quando vendeu suas ações. Um dado que não era de conhecimento do mercado, uma vez que a empresa não atualizava os números de vendas havia quase dois meses.

De acordo com a reportagem, o professor de direito de valores mobiliários da Duke University, James Cox, disse que "Isso deve ser de grande interesse para a SEC”, ao testemunhar perante o Congresso sobre informações privilegiadas. “A questão aqui é: o que ele sabia e o que o mercado esperava quando ele vendeu? Esse é um momento crítico.”

Procurados, nem Musk nem a Tesla responderam aos pedidos de comentários do jornal. Tão pouco a SEC, a Comissão de Valores Mobiliários local.

Entenda os números

A dança dos números: Musk vendeu quase 22 milhões de ações de 12 a 14 de dezembro a um preço médio de cerca de US$ 163 por ação, de acordo com um documento regulatório, a que o jornal teve acesso. Em 3 de janeiro, as ações fecharam em pouco mais de US$ 108, com queda de US$ 1,2 bilhão no total de ações vendidas por Musk no mês anterior. Atualmente, elas estão em torno de US$ 127.

Em geral, as regras da SEC proíbem os insiders corporativos de negociar os valores mobiliários de suas empresas enquanto estiverem cientes de informações materiais não públicas. Exceções não faltam.

Por exemplo, executivos e diretores podem evitar a violação das regras quando compram ou vendem de acordo com um cronograma ou plano de negociação predefinido. Musk já negociou sob tais planos antes, incluindo um que terminou em dezembro de 2021. No entanto, o formulário de divulgação que ele arquivou na SEC para as vendas de ações mais recentes não dizia que ele estava se valendo desse expediente para essas negociações. De acordo com as regras da SEC na época, ele não precisava divulgar no formulário se estava usando tal plano.

Musk vendeu mais de US$ 39 bilhões em ações da Tesla desde o pico das ações em novembro de 2021, incluindo quase US$ 23 bilhões no ano passado, em parte para financiar sua compra de US$ 44 bilhões do Twitter em 2022, segundo dados compilados pela Refinitiv, mas apenas 16% do valor em dólar, refletindo a forte queda da ação no ano passado, quando caiu 65%.

Se Musk estava ciente em meados de dezembro de que as entregas ficariam aquém das estimativas, sinais de queda na demanda por veículos da Tesla eram conhecidos há semanas. Em 24 de outubro, as notícias deram conta que a Tesla havia reduzido os preços na China. Em 1º de dezembro, que houve redução dos preços dos veículos nos EUA.

Em 5 de dezembro, a Bloomberg News informou que a Tesla planejava reduzir a produção na China. Três dias depois, a Bloomberg informou que a Tesla planejava encurtar os turnos de trabalho em sua fábrica em Xangai. Em 22 de dezembro, oito dias após o término das vendas de Musk, as notícias diziam que a Tesla cortou os preços novamente nos Estados Unidos e começou a oferecer 16 mil quilômetros de recarga grátis para veículos entregues em dezembro.

A Tesla emitiu a orientação para as entregas do quarto trimestre em 19 de outubro durante uma teleconferência para discutir os resultados do terceiro trimestre. O diretor financeiro da Tesla, Zach Kirkhorn, disse aos investidores na teleconferência que a Tesla espera que o crescimento anual nas entregas de 2022 seja “pouco menos de 50%”.

Embora a Tesla não tenha fornecido um número mais preciso, um aumento de 45% nas entregas anuais teria totalizado quase 449 mil entregas durante o quarto trimestre. Quando a Tesla informou as entregas em 2 de janeiro, a estimativa média dos analistas consultados pela Bloomberg havia caído para 420.760 veículos. A Tesla perdeu a estimativa reduzida, relatando entregas de apenas 405.278 veículos.

Se a desaceleração das vendas apareceu em números internos em meados de dezembro e se Musk viu esses números, tudo isso deve ser considerado para determinar se ele violou, ou não, as regras de informações privilegiadas.

“É suspeito? Sim. É inteiramente possível que existam outras explicações? É claro. Mas é disso que se trata o processo de execução”, disse Donald Langevoort, professor de direito de valores mobiliários da Universidade de Georgetown e autor de um tratado sobre informações privilegiadas.

Musk e a SEC brigam há anos. Em 2018, Musk e Tesla concordaram em pagar US$ 20 milhões cada um para resolver um processo da SEC por causa de um tweet no qual ele escreveu que tinha “financiamento garantido” para tornar a Tesla privada a um preço premium. A SEC disse que Musk nunca discutiu tal acordo com nenhum financiador em potencial e que sua declaração, que fez as ações da Tesla dispararem, constitui fraude.

Segundo o Wall Street Journal, um julgamento sobre o mesmo episódio começou esta semana em uma ação coletiva movida por investidores contra Tesla e Musk, na qual Musk deve testemunhar. Desde seu acordo com a SEC, a Tesla acusou o regulador de assediar a empresa e Musk ao lançar repetidamente novas investigações. Uma porta-voz da SEC se recusou a comentar.

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