Mercado pode passar por uma acomodação até PEC dos Precatórios ser votada no Senado
Segundo analistas, período afasta noticiário político do radar dos mercados
O mercado financeiro pode passar por um período de acomodação. A aprovação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara já era esperada e a expectativa se volta agora para a votação no Senado, onde, segundo analistas, a proposta que parcela o pagamento de precatórios para abrir espaço fiscal para o governo bancar o Auxílio Brasil pode encontrar maior resistência.
Até lá, contudo, o mercado deve tocar os negócios sem grandes novidades ou sobressaltos, pelo menos no cenário doméstico, afirmam especialistas. O relator da PEC no Senado, senador Fernando Bezerra, prevê que o relatório seja apreciado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ainda este mês e votado pelo plenário da Casa até 2 de dezembro.
Até mesmo a inflação de 1,25% em outubro, acima das estimativas do mercado, divulgada pelo IBGE na véspera foi recebida sem maiores impactos nos mercados. Inflação em alta, juros em alta e ritmo de atividade em marcha lenta formam um cenário que parece ter sido absorvido, pelo menos por ora, por investidores e gestores do mercado.
Mercado reagiu bem à aprovação da PEC
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, chegou a dar sinais de animação com a aprovação da PEC em um primeiro momento, bateu em 107.407 pontos (alta de 1,77% sobre o fechamento da véspera), até na contramão de trajetória das bolsas americanas, mas perdeu fôlego. O Ibovespa (Índice Bovespa) fechou com a alta diluída a 0,41%, em 105.967 pontos.
O dólar também transitou o dia entre altas e baixas e chegou ao fim dos negócios com valorização de 0,10%, cotado por R$ 5,50.
As bolsas americanas encerraram o dia em baixa pelo segundo pregão consecutivo, como reação à alta da inflação ao consumidor e dos juros dos Treasuries, títulos de dez anos do Tesouro americano, que impacta sobretudo as ações de empresas do setor de tecnologia.
O índice Dow Jones recuou 0,66%, para 36.079 pontos; o S&P 500 caiu 0,82%, para 4.646 pontos, e o Nasdaq recuou 1,66%, para 15.662 pontos.
O intervalo entre a aprovação em segunda rodada da PEC dos Precatórios na Câmara e o início da votação da proposta pelo Senado, onde terá de passar também por duas votações, afasta um pouco o noticiário político do radar dos mercados.
Confiança na aprovação da PEC
Após a Câmara dos Deputados aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios em segundo turno, o ministro da Cidadania, João Roma, demonstrou confiança no aval ao texto no Senado. Roma também disse esperar que os senadores mantenham o atual texto.
Medida para viabilizar o pagamento de R$ 400 no Auxílio Brasil até dezembro de 2022, ano eleitoral, a PEC dos precatórios foi aprovada ontem na Câmara por 323 a 172 votos. Na visão do ministro, a aprovação foi "expressiva".
"Isso nos deixa muito confiantes que o Senado também poderá agir com toda diligência. Assim como o presidente Rodrigo Pacheco, depois de conhecer toda a matéria, mostrou sua sensibilidade e disse que iria empenhar esforços para inclusive sensibilizar os pares senadores", afirmou Roma a jornalistas depois de participar de um evento com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Roma insistiu que a PEC deve ser aprovada o mais rápido possível. "Se essa tramitação se estender até o próximo mês, irá inviabilizar que o benefício de R$ 400 chegue aos brasileiros em dezembro. Para funcionar, precisamos finalizar as tratativas até novembro, que não é apenas a aprovação da PEC, tem todo um bastidor para viabilizar", explicou o ministro. "Cabe ao Senado Federal ter sensibilidade e somar esforços."
O ministro ainda defendeu que a matéria já foi amplamente discutida no Congresso e, por isso, espera manutenção do texto no Senado. "O que esperamos é que não (haja mudanças), queremos é aprovação no mais curto espaço possível", afirmou.
Lá fora
No ambiente internacional, os futuros nas bolsas americanas operam no terreno positivo com o avanço da inflação no radar e à medida que os investidores vão digerindo os documentos que mostram que o diretor presidente da Tesla, Elon Musk está descarregando US$ 5 bilhões em ações da fabricante de carros elétricos.
As preocupações com as pressões sobre os preços anteciparam as expectativas de aumento das taxas de juros. Os rendimentos dos Treasuries dispararam, com o rendimento de 10 anos subindo mais de 10 pontos base.
O argumento de que as pressões de preços são temporárias devido a distorções relacionadas à pandemia está finalmente sob pressão. De acordo com Filipe Teixeira, sócio da Wisir Research, os investidores estão contemplando a perspectiva do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) aumentar as taxas assim que concluir a redução gradual das compras de títulos até meados do próximo ano.
Segundo o presidente Joe Biden, o pacote bipartidário de infraestrutura de cerca de US$ 1 trilhão, aprovado no Congresso, irá reduzir os preços para consumidores e negócios e levar as pessoas de volta ao mercado de trabalho. A Casa Branca informou que o presidente deve assinar a lei na próxima segunda-feira, 15.
"Pandemias e casos extremos de clima irão nos atingir. Precisamos estar prontos", disse o líder. Até o momento, neste ano, foram cerca de US$ 99 bilhões perdidos por conta de tempestades, informou Biden.
O presidente disse que os EUA costumavam ocupar o primeiro lugar em infraestrutura do mundo e, atualmente, estão na 13ª posição. É nesse cenário, com gargalos de oferta e maior demanda de produtos pela população, que se dá a aprovação do pacote trilionário de infraestrutura.
Uma perspectiva mais dura da inflação é um risco para a as ações globais, que permanecem perto de seus níveis recordes.
Enquanto isso, o membro do Conselho do Banco Central Europeu (BCE), Robert Holzmann, disse que a autoridade monetária poderá interromper a compra de títulos já em dezembro próximo se a inflação parecer ter retornado de forma sustentável à meta oficial.
A inflação na zona do euro – moderada nos anos que se seguiram à crise financeira global =- segundo Teixeira, está duas vezes acima da meta oficial de médio prazo.
No continente asiático, os mercados acionários fecharam o pregão desta quinta-feira sem direção única. Incorporadoras da China estiveram em foco e subiram, com investidores especulando sobre a possibilidade de que possa haver apoio de Pequim ao setor, enquanto em Tóquio o setor financeiro avançou.
Na China, a Bolsa de Xangai fechou em alta de 1,15%, em 3.532,79 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, subiu 1,14%, aos 2.571,87 pontos.
Incorporadoras reagiram, diante de sinais de que Pequim poderia relaxar sua política para o setor. Além disso, a Evergrande fez uma série de pagamentos de bônus de última hora, a fim de evitar um default. Poly Developments, Seazen Holdings, China Merchants Shekou Industrial Zone e Gemdale subiram todas 10%. China Vanke teve alta de 9,5%.
Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei subiu 0,59%, aos 29.277,86 pontos. O setor financeiro se destacou, diante da perspectiva de juros mais altos após a inflação acima do esperado nos Estados Unidos.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng registrou ganho de 1,01%, aos 25.247,99 pontos. A sessão local foi volátil, com o índice se recuperando de uma queda que chegou a ocorrer em parte do dia. Em Taiwan, o índice Taiex foi na contramão e recuou 0,61%, aos 17.452,52 pontos.
Na Coreia do Sul, o índice Kospi terminou em baixa de 0,18% em Seul, aos 2.924,92 pontos. Temores com a inflação pesaram no mercado local. Entre os setores, eletrônicos, companhias aéreas e montadoras lideraram as quedas.
Na Oceania, na Bolsa de Sydney o índice S&P/ASX 200 teve queda de 0,57%, para 7.381,90 pontos. Trata-se da quarta queda consecutiva, após o desemprego na Austrália subir mais que o previsto, a 5,2% em outubro. / com Júlia Zillig e Agência Estado