Mercado: investidores estão na expectativa com a nova Selic e balanços
Nesta 3ª feira, investidores devem ajustar posições à decisão do Copom para o rumo dos juros
O mercado financeiro recuperou o clima de aparente serenidade, após o forte estresse que derrubou a Bolsa de Valores e impulsionou o dólar na última sexta-feira, 30, que coincidiu também com o fechamento de julho.
A primeira semana de agosto começou na véspera, em ambiente de recuperação do mercado de ações e correção das cotações do dólar. A B3 fechou o pregão com valorização de 0,59%, após uma queda de 3,08% na sexta-feira, e o dólar em baixa de 0,86%, após um esticão de 2,57% na sexta.
O bom humor voltou aos mercados com as notícias de fim de semana que sinalizam para um rearranjo na fonte de recursos de que o governo precisa para bancar o novo Bolsa Família, com valor mais alto, sem o risco de furar o teto de gastos.
Com a preocupação suavizada em relação ao cenário fiscal e a CPI da Covid, que retomou os trabalhos sem depoimentos de grande impacto, investidores e gestores de mercado voltaram com atenção total à temporada de balanços trimestrais, que continua a todo vapor nesta semana.
Para hoje está prevista a divulgação de resultados de quatro empresas, dos quais o de maior destaque é o de Bradesco. Completam o dia, os números da Minerva, Cielo e Ômega Geração.
Nova Selic atrai atenção do mercado
Para especialistas, o mercado financeiro tocará os negócios desta terça-feira ajustando as posições à possível decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa básica de juros, a Selic. O colegiado do Banco Central (BC) se reúne a partir de hoje e anuncia na quarta-feira, após o fechamento do mercado financeiro, a nova Selic.
Embora o BC tenha adiantado, no fim da reunião de junho, nova elevação de 0,75 ponto porcentual em agosto, o que faria a Selic subir desta vez para 5,00% ao ano, houve uma reviravolta nos prognósticos do mercado.
Uma corrente majoritária de economistas e analistas passou a apostar, em uma revisão reforçada nos últimos dias, em uma alta maior, de um ponto porcentual, o que alçaria o juro básico para 5,25% ao ano.
Se confirmado, seria o maior ajuste da Selic desde fevereiro de 2003 e seu impacto mais significativo, avaliam especialistas, poderia ser sentido pelo câmbio.
A expectativa é que a ampla diferença entre os juros domésticos e os perto de zero no exterior atraia o capital estrangeiro para aplicações de renda fixa, que ganharia maior atratividade, um fluxo de recursos para o País que tenderia a deprimir o preço do dólar.
Um efeito que auxiliaria também o controle da inflação, já que parte da pressão sobre os preços é derivada da valorização da moeda americana.
NY: futuros mistos
Nos Estados Unidos, os futuros negociados nas bolsas de Nova York operam sem direção única com o mercado no aguardo dos dados sobre geração de empregos (payroll) no país, que serão divulgados na próxima sexta-feira, 6, para avaliar a recuperação e monitorar o impacto das pressões de preços desencadeadas ao longo de toda a pandemia
Na véspera, Christopher Waller, diretor do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), atrelou a redução dos estímulos monetários ao desempenho do mercado de trabalho americano. Segundo ele, se o payroll de julho e o de agosto mostrarem melhora do emprego no país, a instituição pode começar a reduzir as compras de ativos (tapering) em outubro.
Na véspera, os juros dos Treasuries renovaram mínimas intraday sucessivas e chegaram ao menor nível em 6 meses, em meio ao debate sobre o teto da dívida, regra fiscal que voltou a vigorar nos EUA devido a um impasse entre a Casa Branca e o Congresso.
Em comunicado após o fechamento do mercado, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, informou que o governo adotou "medidas emergenciais" para cumprir o teto.
Na avaliação da Oxford Economics, contudo, esses recursos devem se esgotar no final de setembro. "Nesse ponto, o Tesouro precisaria fazer cortes drásticos nos tamanhos dos leilões de títulos, o que seria perturbador para os mercados", avalia a economista Nancy Vanden Houten.
Durante a semana, o mercado acompanhará o avanço do pacote de infraestrutura bipartidário, que pode ser aprovado nos próximos dias no Senado, e novos resultados trimestrais de empresas.
"Lucros fortes têm sido um fator importante para o desempenho do mercado de ações deste ano e a temporada de balanços do segundo trimestre tem sido, em sua maior parte, muito encorajadora", dizem analistas da LPL Financia
CPI da Covid: Bolsonaro
Nesta terça-feira, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid retoma os trabalhos no Senado.
No último final de semana, o senador Otto Alencar, integrante da comissão, cobrou neste, a responsabilização do presidente Jair Bolsonaro pelo apoio do tratamento precoce ao longo da pandemia.
A cloroquina e outros remédios defendidos pelo presidente não têm respaldo científico contra o novo coronavírus. O parlamentar se manifestou com base em estudo da consultoria LLYC, que aponta que Bolsonaro foi o principal influenciador no apoio ao kit covid nas redes sociais no primeiro ano da crise sanitária.
Bolsas asiáticas fecham em baixa
Os mercados acionários da Ásia tiveram uma terça-feira negativa. Temores com a variante delta da covid-19 e seus impactos na atividade afetaram os negócios, bem como uma ameaça de um regulador da China a fabricantes de microchips.
Na China, a Bolsa de Xangai fechou em baixa de 0,47%, aos 3.447,99 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, caiu 0,53%, aos 2.536,31 pontos.
Os setores de commodities e automotivo estiveram entre as principais baixas. Fabricantes de chips automotivos registraram quedas consideráveis, após um regulador afirmar que pretende combater manipulação de preços e o armazenamento indevido desses componentes.
Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei teve queda de 0,50%, aos 27.641,83 pontos, em meio a preocupações com o avanço da covid-19 e sua variante delta, mais contagiosa, na China e em outras partes da Ásia, o que assusta investidores, segundo a Oanda.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng caiu 0,16%, aos 26.194,82 pontos. Desenvolvedoras de games estiveram entre as maiores baixas, após reportagem da imprensa estatal destacar prejuízos dos jogos para os mais jovens.
Na Coreia do Sul, o índice Kospi foi na contramão da maioria e subiu 0,44% na Bolsa de Seul, aos 3.237,14 pontos.
Ações de tecnologia, montadoras e do setor financeiro puxaram a alta, com otimismo sobre a recuperação do país e ainda após dados positivos da balança comercial sul-coreana em julho. Em Taiwan, o índice Taiex também avançou, fechando com ganho de 0,29%, aos 17.553,76 pontos.
Na Oceania, na Bolsa da Austrália o índice S&P/ASX 200 encerrou em baixa de 0,23%, em 7.474,50 pontos. Ações de bancos e as ligadas a commodities puxaram o movimento, com as mineradoras exibindo baixas entre 0,6% e 1,6%. / com Júlia Zillig e Agência Estado