Mercado Financeiro

Bolsa cai com crise hídrica e reajuste de energia; dólar sobe

Investidores seguem digerindo os pontos delicados do texto da reforma tributária

Data de publicação:29/06/2021 às 10:55 - Atualizado 3 anos atrás
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A Bolsa fechou em queda nesta terça-feira, 29, afetada pela perspectiva de alta da inflação mais acentuada e consequente elevação dos juros acima do esperado, por conta do ajuste de 52% da bandeira vermelha no consumo de energia. Medida resultante da crise hídrica por que passa o País. O Ibovespa, que chegou a cair mais de 0,5%, fechou com uma queda residual de 0,08%, aos 127.327,44 pontos.

O dólar voltou a se valorizar e fechou o pregão em alta de 0,28%, cotado a R$ 4,942.

Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Segundo Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos, o desempenho negativo do Ibovespa também é resultado da desvalorização nos papéis do setor bancário e de shoppings, impactados durante o dia por pontos delicados no texto da reforma tributária enviada ao Congresso na última sexta-feira, 25, como a tributação de dividendos e fim dos Juros sobre Capital Próprio (JCP).

Itaú, Bradesco e Santander registraram quedas de 1,38%, 0,88% e 0,77%, respectivamente.

Já as ações do Iguatemi e Multiplan, ambos do setor de shoppings, caíram 3,71% e 2,82%

Além disso, o pregão também foi marcado por temores do mercado externo sobre o avanço da variante delta da covid-19. A disseminação dessa variante traz preocupação e já está levando alguns países a adotar medidas restritivas em alguns lugares da Ásia e Oceania. A Austrália decretou lockdown em várias grandes cidades, incluindo Sydney, por causa de surtos dessa cepa.

O efeito disso já atingiu os mercados asiáticos, que fecharam o pregão de hoje em queda.

Inflação interna e externa

A atenção dos investidores sobre a inflação segue na pauta, tanto no mercado externo quanto interno.

No cenário local, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou o Índice Geral de Preços - Médio (IGP-M), considerado a inflação do aluguel, de junho. O indicador desacelerou forte no período: despencou de 4,10%, em maio, para 0,60% no mês seguinte.

Os resultados vieram abaixo das expectativas do mercado, que esperavam uma alta de 1,00%. Porém, para o investidor não se pode dizer que onda de queda surfada pelo IGP-M em junho represente uma boa notícia, pois o índice acumula alta de 15,08% somente neste ano.

A inflação alta empurra o Banco Central a aumentar a taxa de juros do País, o que reduz a atratividade da renda variável em comparação à renda fixa.

Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, o responsável pela queda no IGP-M foi a deflação no IPA, que envolve as commoditites. “Esta é uma boa notícia no dia em que devemos ver um aumento na bandeira vermelha da energia elétrica e pode reverter em parte o mau humor na curva de juros”, ressalta.

Já no mercado externo, a agenda de divulgação de indicadores faz com que os investidores estejam atentos aos sinais de retomada econômica e, em sua esteira, a indesejável alta da inflação, que por, tabela remete à elevação das taxas de juros.

Para especialistas, um número forte, acima das previsões, seria uma indicação de que a economia americana estaria com mais tração no processo de retomada, o que mais cedo do que tarde poderia levar a uma revisão da política de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano).

Na Europa, a Comissão Europeia, que integra a União Europeia, divulgou nesta terça-feira que o índice de sentimento econômico da zona do euro, que mede a confiança de setores corporativos e dos consumidores, subiu de 114,5 pontos em maio para 117,9 pontos em junho, atingido o maior patamar em 21 anos.

O índice deste mês veio acima da expectativa dos analistas, que previam alta do indicador a 116,5 pontos.

Sobe e desce da B3

Nesta terça-feira, os papéis das mineradoras e siderúrgicas viveram um dia de lucros na Bolsa, apesar da queda nos preços do minério de ferro na China. As ações da Vale, CSN e Usiminas avançaram 1,66%, 4,03% e 1,53%, respectivamente, e Gerdau em sentido inverso caiu 1,14%.

Petrobras fechou bem perto da estabilidade, com alta de 0,14%.

Ações da Sabesp despencaram durante o pregão com o anúncio do aumento da tarifa de energia. Os papéis da companhia fecharam com desvalorização de 3%.

No terreno negativo, Ambev registrou queda de 0,91% após o Bank of America (Bofa) reduzir o preço-alvo das ações da companhia em 14%.

Dólar em alta

O dólar fechou em alta nesta terça-feira, reagindo à abertura do Global 2050 em nova emissão do Tesouro no exterior. A moeda americana à vista teve elevação de 0,28% e é comercializada a R$ 4,942.

Ainda que os recursos dessa emissão soberana não passem pelo mercado, pois devem ser internalizados diretamente para o caixa do Tesouro, é mais um sinal do bom momento do Brasil no exterior.

Além disso, a moeda está sob pressão do exterior e de interesses técnicos de investidores comprados em contratos cambiais visando fortalecer antecipadamente a Ptax, nesta véspera de definição da taxa referencial do fim de junho e do primeiro semestre.

Também contribuiu para o avanço da moeda americana frente ao real, uma afirmação feita por Paulo Guedes no período da manhã. O Ministro da Economia disse que a intenção é transferir um aumento permanente de impostos para empresa. Às 11h, o dólar alcançou o pico do dia, avançando 0,85%, comercializado a R$ 4,970.

NY: bolsas no azul

No cenário externo as bolsas de Nova York fecharam em alta, mas próximos da estabilidade, com o mercado refletindo a preocupação sobre o avanço da nova variante delta do coronavírus no mundo, o que pode comprometer a recuperação econômica.

O índice S&P 500 apontou leve avanço de 0,02%; Dow Jones com ganhos de 0,03%; e Nasdaq 100, teve alta de 0,33%.

A apreensão sobre a divulgação de dados importantes da economia americana - como o payroll, na próxima sexta-feira, 2 - também faz parte da pauta do mercado financeiro.

As ações "continuarão a ter um desempenho de alta se os gestores mantiverem a confiança de que o estouro da inflação vai diminuir, o que tende a manter os rendimentos dos títulos em níveis relativamente baixos", avalia Edward Park, diretor de investimentos da Brooks Macdonald.

"Os investidores que aplicam terão a alternativa de perder dinheiro no mercado de títulos com a inflação ... ou colocá-lo em ativos de risco", a fim de não ter os ganhos corroídos pela alta nos preços, descreve o analista.

CPI da Covid: Amazonas

No cenário doméstico, o andamento dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado segue na pauta de atenção dos investidores, com os últimos acontecimentos criando uma certa tensão no mercado.

Nesta terça-feira, o colegiado ouve o deputado estadual Fausto Vieira dos Santos Junior. O parlamentar foi relator da CPI da Saúde realizada pela Assembleia Legislativa do Amazonas no ano passado.

Junior deve ser questionado sobre detalhes das investigações de atos administrativos ilícitos durante a crise sanitária, como supostas fraudes na compra de equipamentos.

O requerimento de convocação é de autoria de Marcos Rogério. Ele afirma que, desde 2020, o governo do Amazonas é alvo de investigações coordenadas pela Polícia Federal referentes a fraudes em aquisições emergenciais e desvio de recursos públicos destinados ao enfrentamento da pandemia. 

Na véspera, os senadores Randolfe Rodrigues, Fabiano Contarato e Jorge Kajuru enviaram uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a abertura de inquérito para investigar se o presidente Jair Bolsonaro cometeu crime de prevaricação.

A investida vem na esteira da denúncia do deputado federal Luis Miranda e do irmão do parlamentar, Luis Ricardo Miranda, que é chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, sobre as negociações para compra da vacina indiana Covaxin.

De acordo com os irmãos Miranda, que prestaram depoimento na CPI da Covid, o presidente teria ignorado alertas a respeito de suspeitas de irregularidades para aquisição do imunizante.

Diante da nova frente de investigação, o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues, apresentou um requerimento para prorrogar os trabalhos da CPI por mais 90 dias.

Bolsas asiáticas fecham em baixa

As bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em baixa nesta terça-feira, à medida que a variante delta do coronavírus se espalha pelo mundo e pode puxar o freio da recuperação econômica.

O índice acionário japonês Nikkei caiu 0,81% em Tóquio hoje, aos 28.812,61 pontos, enquanto o Hang Seng recuou 0,94% em Hong Kong, aos 28.994,10 pontos, e o sul-coreano Kospi se desvalorizou 0,46% em Seul, aos 3.286,68 pontos.

Na China continental, o dia também foi de perdas: o Xangai Composto cedeu 0,92%, aos 3.573,18 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto registrou queda de 0,91%, aos 2.441,26 pontos. Exceção na Ásia, o Taiex garantiu alta marginal de 0,04% em Taiwan, aos 17.598,19 pontos.

Vários países da região asiática e do Pacífico enfrentam novos surtos de covid-19, com destaque para a disseminação da altamente contagiosa variante delta, que tem origem na Índia.

Investidores também estão na expectativa para novos dados de atividade manufatureira (PMIs) da China e do Japão, que serão divulgados entre hoje e quarta-feira,30.

Na Oceania, a bolsa de Sydney ficou praticamente estável pelo segundo dia consecutivo, em meio à adoção na Austrália de lockdowns motivados pela covid-19. O S&P/ASX 200 recuou 0,08% hoje, aos 7.301,20 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado

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