Mercado Financeiro

Bolsa cai 1,09%, aos 117 mil pontos, com riscos externos e tensão política no País; dólar também cai

Investidores estão atentos ao exterior e ao cenário político e fiscal local

Data de publicação:17/08/2021 às 10:55 - Atualizado 2 anos atrás
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A Bolsa viveu um dia pesado nesta terça-feira, 17, acompanhando o movimento do exterior, e puxada especialmente pela desvalorização das ações das siderúrgicas e dos bancos, com os investidores também apreensivos em relação ao tenso cenário político e fiscal do País. O Ibovespa chegou a cair mais de 2%, mas no final dos negócios amenizou a queda e fechou no negativo em 1,09%, mesmo assim, em níveis mais baixos desde maio, aos 117 mil pontos (117.879,14).

Uma onda de mau humor atingiu os mercados internacionais, iniciada na China, passando pela Europa e chegando em Wall Street. É a variante Delta que amedronta, e coloca em cheque a tão esperada retomada econômica em nível mundial. O que ajudou e melhorar um pouco o clima, segundo Rafael Ribeiro, da Clear Corretora, foi a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que tranquilizou os mercados ao afirmar que o impacto da variante sobre a economia ainda "não está claro".

Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Ao mesmo tempo, Powell disse que a pandemia ainda está presente e deve seguir desta forma por mais tempo, alertando para a necessidade de vacinação e o processo de retomada gradual da economia. O pronunciamento ajudou o Ibovespa a resgatar rapidamente mil pontos, o entendimento foi o de que o presidente do Fed segue cauteloso sobre a recuperação econômica e não deve forçar a retirada de estímulos como vinha sendo precificado.

Como explica o analista da Clear, os números mais fracos do varejo americano, que recuaram 1,1% em julho, frustraram o mercado, que esperava por estabilidade nos indicadores.

E além disso, a perspectiva de alta da inflação no mundo como efeito dos estímulos monetários em muitos países, a ingerência do governo chinês nas empresas de tecnologia e o caos no Afeganistão foram fatores negativos para os mercados.

Mercado doméstico

Por aqui, nem as ações da Petrobras, que têm uma participação significativa na cesta de ativos da B3, e abriram em alta encontraram sustentação, com o peso do mercado. No fechamento os papéis da petroleira tiveram queda de 0,33%.

Vale e siderúrgicas apresentaram perdas no pregão e ajudaram a derrubar a Bolsa. No fechamento, as ações da Vale, CSN, Usiminas e Gerdau caíam 1,91%, 3,04%, 4,84% e 2,68%, respectivamente.

Os bancos, que respondem por cerca de 17% dessa cesta de ativos da Bolsa, também viram seus papéis fechar em queda. O Índice Financeiro (IFNC) da Bolsa, que engloba o desempenho dessas empresas, terminou o dia em queda de 1,16%. Papeis do Itaú, Bradesco e Santander também registraram perdas de 0,46%, 0,78% e 0,69%, na sequência, no fim do pregão.

Balanços

Ainda com a temporada de balanços trimestrais em andamento - mas chegando quase ao final - companhias como IRB Brasil e Gafisa o reportaram baixa em seus papéis. No término dos negócios, as ações das empresas registraram queda de 4,40%, 1,32%, respectivamente.

No caminho contrário, a Cemig apresentou valorização de 2,81%, assim a Mosaico que subiu 6,26%, após a divulgação de seus números do segundo trimestre.

Dólar em queda

O dólar viveu um dia de oscilações: depois de operar em queda pela manhã, inverteu o sinal com alta no início da tarde para voltar a cair. No fechamento do dia, a moeda registrou queda de 0,20% a R$ 5,270.

O fortalecimento do índice DXY do dólar ante seis moedas principais ocorre após a divulgação dos dados sobre o desempenho do varejo americano, que vieram bem aquém do esperado.

Antes do dado americano, o DXY já subia, adicionando pressão de baixa às commodities, que sofrem também impacto de temores com o impacto da variante delta da covid-19 na retomada econômica mundial.

Cenário fiscal e político: tensão

No ambiente local, os investidores estão acompanhando a movimentação sobre a votação da reforma do Imposto de Renda, que pode acontecer nesta semana na Câmara dos Deputados, apesar de ainda não ter um acordo selado entre os parlamentares.

A tensão que marca o cenário fiscal e político ganhou um novo capítulo em meio à notícia dada pelo presidente Jair Bolsonaro de que vai vetar o fundo eleitoral, o “Fundão”, na íntegra caso seja impedido de cortar o que exceder a lei de 2017 de reajuste ao projeto.

De acordo com o chefe do Executivo, a ordem dada por ele foi vetar tudo o que extrapolar aquilo previsto em 2017, uma vez que não quer gerar atritos com a Câmara dos Deputados ou o Senado. "Mas vamos supor que não seja possível porque está em um artigo só, então vete tudo", declarou em entrevista.

A preocupação dos investidores também se estende ao pagamento dos precatórios devidos pela União, despesas originadas de decisão judicial em caráter definitivo. Teme-se que o pagamento desse compromisso venha a estourar o teto de gastos.

O governo é obrigado a quitar essa dívida, mas, sem recursos, pensa parcelar o pagamento, o que também é malvisto pelo mercado financeiro.

Inflação

A preocupação com o avanço insistente da inflação traz cautela aos mercados. Durante a manhã, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que o Índice Geral de Preços 10 (IGP-10) de agosto subiu 1,18% ante avanço de 0,18% no mês anterior.

O número veio em linha com as projeções dos analistas, que apostavam em uma mediana positiva de 1,29%. Essa aceleração dá ainda mais fôlego para a revisão das projeções dos economistas, que esperam não somente um IPCA - índice que mede a inflação - mais alto, mas também a Selic, taxa básica de juros ainda maior.

A estimativa de inflação para 2021 de analistas e economistas do mercado estampada no Relatório Focus desta semana passou de 6,88% para 7,05%, o que levou também para um reestimativa da Selic de 7,25% para 7,50%.

Inflação mais alta, que consome a renda, e juro mais elevado, que inibe a procura por crédito e a demanda, são fatores que limitam a retomada.

CPI da Covid: TCU

A continuidade dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid no Senado segue sendo acompanhada pelo mercado. Nesta terça-feira o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Marques, presta depoimento ao colegiado.

Marques produziu um documento que dizia haver supernotificação nos números oficiais de mortes por coronavírus. O documento, que não encontra respaldo no TCU e nem qualquer outra comprovação, foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro para minimizar os efeitos da pandemia.

NY: bolsas em queda

No cenário externo, as bolsas americanas operam no vermelho, com os investidores digerindo os últimos dados econômicos divulgados durante a manhã e estão no aguardo do discurso do presidente do (Federal Reserve, o banco central americano) que acontece hoje, que pode trazer mais pistas sobre a inflação e a retirada de estímulos.

No fim do dia, o índice S&P 500 registrou queda de 0,71%, com Dow Jones e Nasdaq 100 na mesma esteira, com desvalorização de 0,79% e 1,13% respectivamente.

As vendas no varejo dos Estados Unidos tiveram queda de 1,1% em julho na comparação com o mês anterior, a US$ 617,7 bilhões, segundo dados ajustados divulgados pelo Departamento do Comércio. Analistas ouvidos projetavam recuo menor, de 0,3%.

Na comparação anual, as vendas no varejo de julho tiveram crescimento de 13,3%. Excluindo-se automóveis, houve queda de 0,4% no mês, quando a expectativa era de avanço de 0,2%. Já em junho, a alta mensal de 0,6% nos vendas no varejo antes informada foi revisada para um avanço maior ante maio, de 0,7%.

Já a produção industrial dos Estados Unidos cresceu 0,9% em julho ante junho, informou o Fed. O resultado veio acima do esperado pelos analistas, que previam crescimento mensal de 0,5%.

A produção industrial de maio foi revisada para baixo ante ao mês anterior, de uma alta de 0,4% para um avanço de 0,2%, afirmou o Fed. A taxa de utilização da capacidade instalada, por sua vez, teve crescimento, de 75,4% em junho para 76,1% em julho.

De acordo com o Fed, a taxa é 3,5 pontos porcentuais abaixo de sua média de longo prazo, entre 1972 e 2020. O dado ficou acima dos 75,7% previstos pelos analistas.

Além disso, os investidores acompanham os reflexos políticos da tomada do Afeganistão pelo grupo terrorista Talibã. Na véspera, o presidente Joe Biden disse que o retorno do grupo, após a retirada das tropas americanas do país, veio com uma rapidez inesperada.

Alvo de várias críticas, Biden disse que sua gestão não tem responsabilidade sobre as cenas divulgadas pela mídia mostrando o desesperado das pessoas em tentar fugir do país pelo aeroporto de Cabul.

Bolsas asiáticas fecham em baixa

Os mercados acionários asiáticos registraram queda nesta terça-feira. Papéis ligados ao consumo de serviços estiveram entre os mais pressionados em Xangai, enquanto Tóquio chegou a avançar, mas sucumbiu ao tom negativo geral.

Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei terminou em baixa de 0,36%, aos 27.424,47 pontos, na mínima do dia. O mercado japonês chegou a subir, mas perdeu fôlego ao longo do dia, com investidores à espera de notícias de hoje dos Estados Unidos, como o dado de vendas no varejo e evento com o presidente do Fed.

Na China, a Bolsa de Xangai fechou em queda de 2,00%, aos 3.446,98 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, caiu 2,52%, aos 2.503,35 pontos. Papéis ligados ao consumo de serviços estiveram entre os mais penalizados, como agências de turismo e vendedoras de bebidas e alimentos. Além disso, os dados abaixo do esperado da economia chinesa continuaram a repercutir.

Em Hong Kong, o índice Hang Seng teve baixa de 1,66%, aos 25.745,87 pontos. Na Bolsa de Taiwan, o índice Taiex caiu 1,17%, aos 16.661,36 pontos.

Na Coreia do Sul, o índice Kospi fechou em queda de 0,89%, aos 3.143,09 pontos. Ações ligadas a viagens estiveram sob pressão, ao lado daquelas de empresas de transportes de mercadorias por via marítima. Estrangeiros continuaram a vender papéis na bolsa sul-coreana, com os riscos da covid-19 sobre a atividade também em foco.

Na Oceania, o índice S&P/ASX 200 terminou em baixa de 0,94%, aos 7.511,00 pontos, na Bolsa de Sydney. Após recordes recentes, o mercado australiano teve jornada negativa para algumas de suas maiores empresas, com o setor financeiro entre as maiores baixas. / com Tom Morooka e Agência Estado

Sobre o autor
Julia ZilligA Mais Retorno é um portal completo sobre o mercado financeiro, com notícias diárias sobre tudo o que acontece na economia, nos investimentos e no mundo. Além de produzir colunas semanais, termos sobre o mercado e disponibilizar uma ferramenta exclusiva sobre os fundos de investimentos, com mais de 35 mil opções é possível realizar analises detalhadas através de índices, indicadores, rentabilidade histórica, composição do fundo, quantidade de cotistas e muito mais!