Mercado ao vivo: Bolsa sobe, mesmo com projeções econômicas desfavoráveis; PEC dos Precatórios segue no radar
Projeções que apontam uma deterioração no cenário econômico não tiram o bom humor do Ibovespa
Após fechar a semana anterior com avanço de 2,78% - e atingir a maior alta em 18 meses, de 3,66% - a Bolsa mantém o viés positivo nesta segunda-feira, 6, mesmo com projeções econômicas que apontam uma inflação persistente e PIB mais fraco no curto, médio e longo prazo, o que aumenta ainda mais a atenção do mercado sobre a reunião do Copom, que acontece na próxima quarta-feira, 8, que apresentará a nova Selic, taxa básica de juros do País.
Além disso, algumas incertezas rondam o mercado, os próximos passos da PEC dos Precatórios, que passa a tramitar na Câmara. No radar, estão também os desdobramentos da fala do presidente Jair Bolsonaro a respeito da redução do preço dos combustíveis pela Petrobras. Às 14h03, o Ibovespa subia 1,99% e alcançava o patamar dos 107 mil pontos - 107.234. O dólar valorizava 0,31%, cotado a R$ 5,698.
Na contramão das incertezas, a performance favorável das ações de empresas que têm um forte peso na cesta de ativos do Ibovespa ajuda a manter o indicador em curva ascendente, como as da Petrobras - que sobem quase 1%, após resposta da petroleira negando a redução dos preços dos combustíveis - e as da Vale, que avançam quase 4%, refletindo a elevação do preço do minério de ferro na China.
Soma-se a esse bloco os papéis dos bancos. Às 14h19, o IFNC, indicador da B3 que engloba os gigantes financeiros, subia 2,50%.
Durante a manhã, o Banco Central divulgou a nova edição do Boletim Focus, que traz as estimativas dos economistas do mercado para os índices econômicos mais relevantes do País. Entre os destaques, o avanço das projeções da inflação não somente neste ano, mas também em horizontes mais longos, como 2023 e 2024.
Em 2021, eles mantiveram a trajetória ascendente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em dois dígitos: 10,15% para 10,18%. Em 2022, de 5,00% para 5,02%. E em 2023, de 3,42% para 3,50%.
A Selic foi mantida em 9,25%, o que reforça as apostas dos analistas de um ajuste de 1,5 ponto porcentual na próxima reunião do Copom, que acontece nesta quarta-feira, 8.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do País, os especialistas seguem apostando em um crescimento menos expressivo em 2021, 2022 e também em 2023. Para este ano, as estimativas para o indicador caíram de 4,78% para 4,71%; no ano seguinte, de 0,58% para 0,51%. E em 2023, de 2,00% para 1,95%.
De acordo com os analistas do BTG Pactual, o Copom se reúne na próxima quarta-feira, 8, em um ambiente de persistência da inflação global, resultante da extensão da pandemia que tem alongado o choque de oferta, e da aceleração das expectativas da inflação.
“Se o Banco Central correr com mais juros, o PIB de 2022 tende a se consolidar no campo negativo. Se ficar no mesmo tom, as expectativas podem desancorar ainda mais e corroer a autonomia da autoridade monetária”, avalia o BTG.
Com “tudo na mesa”, o banco espera uma elevação de tom do BC: além dos consensuais 1,50 ponto porcentual de dezembro, uma indicação de 1,5% na reunião de fevereiro de 2020.
Juros futuros
Os juros futuros operam mistos nesta segunda-feira. As declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre redução de preços de combustíveis acabam não fazendo preço, segundo o sócio-diretor da Wagner Investimentos, José Raymundo Faria Júnior.
"Isso já estava precificado no mercado, não será nenhuma novidade o anúncio da Petrobras. E os juros caíram muito nos últimos dias, subindo um pouco com alta das Treasuries e antes do Copom", explica a fonte.
Por volta das 12h20, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subia a 11,35%, de 11,30% na abertura. O DI para janeiro de 2025 caía a 10,82%, ante 10,96%. E o de janeiro de 2027 recuava 10,84%, ante 10,95%.
Sobe e desce da Bolsa
Nesta segunda-feira, a alta no preço do minério de ferro favorece não somente a alta da Vale, mas também das demais siderúrgicas. Às 14h19, a CSN, Usiminas e Gerdau subiam 3,31%, 2,81% e 2,84%, respectivamente.
Na esteira de altas, a CCR se destaca no pregão - alta de 4,86%, às 14h21. Segundo reportagem do jornal O Globo, pode ocorrer um possível fechamento de capital da companhia. O fundo canadense CDPQ contratou duas instituições financeiras para assessorá-lo na compra da participação da Andrade Gutierrez na empresa. A notícia afirma ainda que o objetivo do fundo pode ser de fechar o capital da empresa.
As indústrias de proteína também vivem um dia favorável na Bolsa. A BRF, Marfrig e Minerva valorizavam 5,66%, 1,29 , 1,29% e 1,86%, nesta ordem, no mesmo período.
Após passar a fazer parte da cobertura de ativos do Credit Suisse, os papéis da atacadista Assaí avançavam 3,08%, às 14h17.
Entre as baixas mais acentuadas da Bolsa estão as ações das empresas Méliuz, Rede D'Or, Rumo, Cosan e Telefônica - recuos de 9,65%, 2,60%, 1,66%, 1,30% e 1,14%, nesta sequência.
Petrobras: resposta ao anúncio de Bolsonaro
Em resposta à fala do presidente Jair Bolsonaro sobre a decisão de redução dos preços dos combustíveis pela Petrobras, a petroleira enviou um comunicado ao mercado nesta segunda-feira dizendo que não há nenhuma decisão tomada sobre qualquer alteração nos preços.
“A Petrobras reitera seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato das volatilidades externas e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais”.
Além disso reiterou que “não antecipa decisões de reajuste e reforça que não há nenhuma decisão tomada por seu Grupo Executivo de Mercado e Preços (GEMP) que ainda não tenha sido anunciada ao mercado”.
A declaração de Bolsonaro sobre a redução nos preços dos combustíveis foi feita após o chefe do Executivo apresentar críticas sobre o aumento nos preços e falar até em privatizar a estatal.
A possibilidade de redução nos preços foi citada pelo presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, durante audiência pública no Senado no último dia 23. Pressionado por senadores, Silva e Luna afirmou na ocasião que a empresa estava há 30 dias sem reajustar os preços e que analisava se faria uma redução.
No exterior: EUA e Ásia
No mercado internacional, as bolsas americanas operam em alta, com a atenção dos investidores voltadas para o indicador de preços ao consumidor americano (CPI, na sigla em inglês), que será publicado ao longo da semana e que deve mostrar o avanço anual em décadas, segundo Filipe Teixeira, sócio da Wisir Research, mantendo a pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para fornecer um aperto de política monetária mais ágil.
No entanto, segundo ele, é improvável que essa avaliação mude depois que os empregos nos EUA tiveram o menor ganho neste ano. Na semana passada, o presidente do Fed, Jerome Powell, já retirou a palavra "transitória" em seu discurso sobre a inflação do País, que mostra sinais de forte subida.
O avanço da variante ômicron do coronavírus também segue no radar das mesas de operações. Durante o último fim de semana, as autoridades de saúde do governo sul-africano informaram que a nova cepa não está gerando um aumento nas hospitalizações.
Além disso, o consultor médico dos Estados Unidos, Anthony Fauci, disse que parece não haver “um grande grau de gravidade para o ômicron”, embora tenha alertado que ainda é muito cedo para se ter certeza disso.
Por outro lado, o presidente da farmacêutica Moderna, Stephen Hoge, voltou a dizer que há um risco de que as vacinas da covid-19 sejam menos eficazes contra a nova cepa, embora seja muito cedo para estimar o quanto.
No continente asiático, as bolsas fecharam majoritariamente em queda nesta segunda-feira, com o retorno das preocupações quanto à solvência do mercado imobiliário chinês, depois que a Evergrande alertou que pode não ter dinheiro suficiente para pagar uma nova rodada de dívidas.
Em comunicado, a incorporadora chinesa informou que não há garantia de que tem recursos em caixa parar honrar obrigações financeiras, após ter sido chamada a pagar US$ 260 milhões em títulos de dívida em dólar.
Os prospectos de um possível calote levaram a ação da empresa a desabar 19,56% em Hong Kong, ao menor nível desde 2010. Com isso, o índice Hang Seng, referência na bolsa do território semiautônomo chinês, encerrou o pregão em baixa de 1,76%, aos 23.348 pontos.
O papel da Alibaba recuou 5,61%, após a gigante de tecnologia anunciar reestruturação e trocar o comando de sua equipe financeira. Companhias chinesas listadas em Nova York seguiram sob pressão, depois que a Didi Global anunciou que deixaria Wall Street, em meio ao cerco de Pequim.
Na China continental, o Shangai cedeu 0,50%, aos 3.589 pontos, enquanto Shenzhen, de menor abrangência, perdeu 1,22% aos 2.495 pontos. Em Taiwan, o Taiex caiu 0,05%, aos 17.688,21 pontos.
No Japão, o índice Nikkei baixou 0,36%, aos 27.927pontos. O SoftBank, que tem exposição considerável a empresas como Alibaba e Didi, despencou 8,20%.
Na contramão, o Kospi subiu 0,17%, aos 2.973 pontos, em Seul. Os ganhos no setor de eletrônicos ofuscaram os temores quanto à variante Ômicron do coronavírus, que foi confirmada na Coreia do Sul e levou o país a endurecer restrições de viagens.
Já na Oceania, o S&P/ASX 200, de Sydney, registrou leve alta de 0,05%, aos 7.245,10 pontos. Ações de energia e indústria subiram 0,6% e 0,7%, respectivamente, enquanto o setor de bens de consumo básicos avançou 1,9% e os serviços públicos ganharam 2,0%. O setor de tecnologia foi o maior entrave do índice, com queda de 2,2%. / com Tom Morooka e Agência Estado