Bolsa cai 2,28%, aos 116 mil pontos, com IR e bancos; dólar fica estável a R$ 5,18
Investidores digerem os últimos dados econômicos e os novos acontecimentos no cenário político e fiscal
A Bolsa fechou em forte queda nesta quinta-feira, 2, puxada pelos bancos que, por sua vez, refletiram o resultado da votação e aprovação da reforma do Imposto de Renda na Câmara, no fim da tarde de hoje. O mercado também passou o dia analisando os dados do setor industrial, que caíram mais que o esperado e recebendo o impacto negativo do exterior com recuo dos preços do minério de ferro. O Ibovespa caiu 2,28%, perdendo o patamar dos 117 mil pontos - 116.677,08.
Após a aprovação do texto base, que ocorreu na noite anterior, com apoio da oposição e do Governo - uma surpresa para o mercado -, a Câmara aprovou a reforma de IR, permitindo a cobrança de 15% sobre lucros e dividendos e reduzindo os impostos para pessoa física. O projeto segue agora para o Senado.
Com a reforma do IR no radar, os bancões - responsáveis por cerca de 17% da carteira teórica da B3 - recuaram forte neste pregão. As ações do Itaú, Bradesco e Santander tiveram queda de 3,61%, 3,59% e 5,23%, na sequência.
De acordo com Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, a baixa acentuada dos bancos na Bolsa são explicadas, principalmente, por dois pontos aprovados pelos deputados na reforma: o fim do Juros de Capital Próprio (JCP) e o corte menor do que o esperado da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Esse corte será de 1 ponto percentual, indo para 8%.
Ainda no cenário político, o Governo sofreu dois reveses na véspera no Senado. O mais duro foi a aprovação nos planos de saúde das estatais, que pode inviabilizar a privatização dos Correios, além da rejeição de uma medida provisória que fazia uma reforma trabalhista.
Durante a manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a produção industrial de julho caiu 1,3% ante o mês anterior, o que ajudou a azedar ainda mais o humor do mercado.
O resultado veio bem abaixo das expectativas dos analistas, que estimavam uma mediana de redução de 0,5%. Esse é o segundo resultado negativo consecutivo acumulado pelo setor, totalizando perda de 1,5%.
Já em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve alta de 1,2%, 11ª taxa positiva ininterrupta nessa comparação. No ano, a indústria acumula alta de 11,0% e de 7,0% em doze meses.
Reforma IR
Na noite do dia anterior, o presidente da Câmara, Arthur Lira, conseguiu a aprovação do texto-base da reforma que altera o Imposto de Renda para pessoas físicas, empresas e investimentos.
Para atender os partidos de oposição, o relator do projeto, deputado Celso Sabino, propôs o fim da restrição ao uso do desconto simplificado na tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). Os contribuintes que optam pela simplificada podem abater 20% de Imposto de Renda sobre a soma dos rendimentos tributados.
Além disso, o desconto simplificado na declaração do IR estaria limitado a R$ 8 mil pelo texto enviado pelo governo à Câmara. Esse limite da dedução passou para R$ 10 mil.
Outra alteração é a ampliação da faixa de isenção da tabela do IR, que passa a ser para todos os contribuintes que ganham até R$ 2,5 mil (hoje, é R$ 1,9 mil). Os valores das demais faixas do IR também serão reajustados, em menor proporção.
Sem dar detalhes, Sabino informou que manteve a taxação sobre a distribuição de lucros e dividendos como estava no seu parecer, em 20%. Atualmente, não é cobrado imposto sobre esse tipo de remuneração a acionistas. Durante à tarde, a Câmara aprovou a tributação de 15% para os proventos.
Sabino também manteve o fim do chamado Juros de Capital Próprio (JCP), mecanismo usado pelas grandes empresas para remunerar os seus acionistas com a possibilidade de deduzir essa despesa do imposto a pagar. Essa era também uma bandeira da oposição, mas que já estava no último parecer.
Sobe e desce da B3
Na mesma toada de desvalorização que os bancos e ajudando a derrubar a Bolsa, as mineradoras e siderúrgicas refletiram, ao longo do dia, a baixa no preço do minério de ferro na China. As ações da Vale, CSN, Usiminas e Gerdau tiveram perdas de 0,31%, 1,89%, 4,53% e 2,70%. A Petrobras também fechou no vermelho, com baixa de 1,63%.
Refletindo os últimos dados econômicos do País, o pregão também foi negativo para as varejistas, que registraram algumas das maiores baixas do dia. Lojas Americanas e Via caíram 5,86% e 6,13%, respectivamente.
Em dia de estreia no pregão da B3, a Vittia colheu ganhos. Os papéis da companhia saltaram 16,86%, negociados a R$ 10,05. A companhia, especializada em defensivos biológicos e fertilizantes, movimentou R$ 359 milhões com o IPO. O preço fixado por ação foi de R$ 8,60 em oferta restrita.
Após o ministro da Economia, Paulo Guedes admitir que a privatização da Eletrobras foi aprovada com algumas "tartaruguinhas" acrescentadas pelos parlamentares, as ações da estatal do setor elétrico desvalorizaram 4,99%.
A Pague Menos também viveu um dia de queda em suas ações, após anunciar que pretende abrir 200 novas lojas até o fim de 2022. A empresa reportou baixa de 1,54% no pregão da B3.
A Omega Energia fechou no vermelho na Bolsa com a notícia do acordo fechado com o Grupo Heineken para a implementação de ativos de geração renovável no Nordeste. Os papéis da companhia recuaram 0,89%.
Dólar em queda
O dólar fechou praticamente estável, sob influência de baixa predominantemente no exterior, frente outras moedas emergentes ligadas a commodities, como peso mexicano, lira turca e rand sul africano.
A moeda americana registrou leve queda de 0,02%, cotada a R$ 5,184.
Além disso, segundo operadores do mercado, os ajustes refletem cautela fiscal e com a política institucional, após a Câmara aprovar a reforma do Imposto de Renda (IR), a mudança nos planos de saúde das estatais, que pode inviabilizar a privatização dos Correios, e a rejeição da a medida provisória da reforma trabalhista.
Saúde nas estatais
Após rejeitar uma medida provisória que fazia uma reforma trabalhista, o Senado impôs a segunda derrota do dia ao governo e revogou uma proposta que desmonta as regras que estabeleceram limites para os gastos de estatais com planos de saúde para empregados. A proposta pode inviabilizar a privatização dos Correios, uma das prioridades da agenda do governo Jair Bolsonaro.
O texto, já aprovado pela Câmara, foi aprovado pelos senadores em votação simbólica e segue agora para promulgação - ou seja, não pode ser vetado pelo presidente Jair Bolsonaro. Agora, ele será transformado em lei.
Na prática, o projeto revoga uma regra criada no governo do ex-presidente Michel Temer e que foi fundamental para reverter uma trajetória de prejuízos bilionários dos próprios Correios, quando a empresa caminhava para se tornar uma estatal dependente - ou seja, que precisa de recursos do Orçamento para bancar salários e despesas correntes.
O texto derruba a validade da resolução 23 da Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União (CGPAR), editada em janeiro de 2018.
Antes da edição da resolução, era comum que estatais bancassem mais de 90% dos custos, sem qualquer coparticipação - hoje, o limite é de 50%.
Fake news e manifestações
O presidente Jair Bolsonaro sancionou com vetos nesta quinta-feira, 2, a Lei nº 14.197/2021 que revoga a Lei de Segurança Nacional (LSN), remanescente da ditadura militar.
Criada em 1983 e pouco aplicada após a Constituição de 1988, a LSN voltou a ser usada com maior frequência pelo atual governo. Ao todo, foram 77 inquéritos abertos pela Polícia Federal com base na legislação entre 2019 e 2020 - aumento de 285% em relação aos governos anteriores.
Além de revogar a LSN, a proposta aprovada pelos parlamentares acrescenta artigos ao Código Penal para definir crimes contra o Estado Democrático de Direito.
Bolsonaro vetou integralmente o capítulo relativo aos crimes contra a cidadania e dois artigos do capítulo relativo a crimes contra o funcionamento das instituições democráticas no processo eleitoral.
Com isso, foram vetados os dispositivos que criminalizam a comunicação enganosa em massa e o atentado ao direito de manifestação.
Wall Street: bolsas mistas
Nos Estados Unidos, os contratos negociados nas bolsas de Nova York fecharam majoritariamente em alta, com os investidores repercutindo os últimos dados econômicos, informações atualizadas sobre os pedidos de auxílio desemprego da semana anterior e no aguardo do payroll.
Os índices S&P 500 e Dow Jones subiram 0,28% e 0,37%, respectivamente. Já o Nasdaq 100 trafegou no sentido oposto, com queda residual de 0,05%.
O déficit comercial dos Estados Unidos diminuiu 4,3% em julho ante junho, a US$ 70,05 bilhões, segundo dados publicados nesta quinta-feira, pelo Departamento do Comércio americano. O resultado veio um pouco abaixo da expectativa de analistas, que previam déficit de US$ 70,9 bilhões.
Já o saldo negativo da balança comercial de junho foi revisado para baixo, de US$ 75,75 bilhões para US$ 73,23 bilhões. As exportações dos EUA somaram US$ 212,8 bilhões em julho, alta de US$ 2,8 bilhões ante junho, e as importações totalizaram US$ 282,9 bilhões no mês, representando queda de US$ 400 milhões.
Segundo o Departamento de Trabalho do país, o número de pedidos de auxílio-desemprego somou 340 mil solicitações, levemente abaixo da previsão dos analistas, que esperava algo em torno de 345 mil pedidos.
Economista sênior da Capital Economics, Andrew Hunter observa que a desaceleração do crescimento de empregos privados nos últimos meses foi impulsionada pelos setores de lazer e hospedagem, educação, saúde e outros serviços, o que sugere que os temores em relação ao avanço da cepa delta do coronavírus estão pesando na decisão dos consumidores de realizar atividades que exijam muito contato.
Para Hunter, ainda que o crescimento do emprego permaneça relativamente forte em agosto, a suspeita é de que não seja suficiente a ponto de o Federal Reserve (Fed) anunciar a redução
Bolsas asiáticas fecham mistas
As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam sem direção única nesta quinta-feir, com investidores na expectativa para dados do mercado de trabalho dos EUA.
O índice acionário japonês Nikkei subiu 0,33% em Tóquio, aos 28.543,51 pontos, e o Hang Seng avançou 0,24% em Hong Kong, aos 26.090,43 pontos.
Na China continental, o Xangai Composto teve alta de 0,84%, aos 3.597,04 pontos, em seu quinto pregão consecutivo de ganhos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,41%, aos 2.427,77 pontos.
Por outro lado, o sul-coreano Kospi caiu 0,97% em Seul, aos 3.175,85 pontos, e o Taiex recuou 0,88% em Taiwan, aos 17.319,76 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana ficou no vermelho, à medida que ações de grandes empresas locais foram negociadas ex-dividendos. O S&P/ASX 200 caiu 0,55% em Sydney, aos 7.485,70 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado