Mercado Financeiro

Mercado ao vivo: Bolsa descola do exterior e opera em queda; dólar sobe

Investidores digerem dados econômicos locais e externos e estão atentos ao cenário fiscal brasileiro

Data de publicação:14/10/2021 às 10:39 - Atualizado 2 anos atrás
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Após um pregão marcado por forte apetite ao risco da véspera, a Bolsa começou suas atividades nesta quinta-feira, 14, operando em queda, descolando do tom positivo dos mercados internacionais.

Às 14h46, o Ibovespa registrava recuo de 0,28%, aos 113.133 pontos. Após abrir em queda, o dólar mudou o sinal e aponta leve alta – 0,07% - cotado a R$ 5,513.

Sede da Bolsa de Valores em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

A divulgação de novos dados econômicos, tanto externos quanto locais, mantém a atenção dos investidores voltada para acompanhar possíveis sinais de retomada ou retração econômica mundial.

Lá fora, os destaques são a divulgação do Índice de Preços ao Produtor (PPI, em inglês) - inflação ao produtor - um dia após o CPI, que mede a inflação ao consumidor.

Segundo os dados comunicados durante a manhã, o PPI registrou alta de 0,5% em setembro frente a agosto e acumula avanço de 8,6% em 12 meses. O resultado veio levemente abaixo do esperado pelos analistas, que projetavam uma alta mensal de 0,6% e de 8,7% em 12 meses.

Também nos EUA, o Departamento do Trabalho anunciou que os pedidos de auxílio-desemprego no país somaram 326 mil solicitações na semana encerrada em 9 de outubro – os analistas estimavam o montante de 319 mil pedidos.

Ambos os números podem reforçar os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), principalmente no que diz respeito ao tapering – retirada de estímulos da economia. Segundo a ata da última reunião do Fomc (Copom americano) divulgada na véspera, a autoridade monetária deve iniciar o processo de forma gradual já no próximo mês, o que já era esperado pelo mercado.

Mais cedo, foi a vez do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês) da China apresentar o PPI de setembro do país, que subiu 10,7% na comparação com o mesmo mês do ano passado e veio acima do previsto pelo mercado, que esperava uma aceleração de 10,4%.

Nos nove primeiros meses do ano, os preços ao produtor no país acumulam alta de 6,7%, de acordo com o NBS. Em base anual, os preços de produtos de mineração subiram 49,4%, enquanto os da indústria de materiais brutos tiveram alta de 20,4%.

Os preços persistentemente altos no setor produtivo chinês elevaram o temor de uma possível estagflação na China, que ocorre quando os preços continuam subindo mesmo em períodos de menor crescimento econômico.

O vigor de crescimento da economia chinesa diminuiu nos últimos meses, refletindo um crescimento mais lento do crédito e de regulações mais restritivas impostas a alguns setores.

Já no cenário local, o destaque do período foi o dado sobre o crescimento de 0,5% do volume de serviços prestados no País em setembro ante o mês anterior, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O dado veio em linha com as expectativas dos analistas – alta de 0,4%. Porém, se associado com os números da indústria divulgados na semana anterior – que apresentaram queda na atividade - ainda colocam o mercado em posição de cautela sobre um crescimento mais parrudo do Brasil em 2021.

Juros futuros

Os juros futuros curtos rondam a estabilidade nesta quinta-feira, 14, com viés de baixa. Os médios e longos apresentam leve baixa, em sintonia com o dólar.

De acordo com um trader, a aprovação da redução do ICMS pela Câmara para os combustíveis ajuda a dar algum alívio na curva.

Às 9h29 desta quinta, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 marcava 9,04%, de 9,06% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2025 exibia taxa de 9,97%, de 10,01%, e o para janeiro de 2027 recuava 10,37%, de 10,43% no ajuste de quarta-feira, 13.

Sobe e desce da B3

Nesta quinta-feira, o preço do petróleo sobe firme, após a Agência Internacional de Energia elevar a previsão da demanda global. Às 14h36, as ações da Petrobras - que também refletem a aprovação da proposta mudança da cobrança de ICMS sobre os combustíveis na Câmara - subiam 0,64%.

Vale lembrar que a Petrobras tem um peso de quase 10% na cesta de ativos do Ibovespa. Porém, a alta de seus papéis não está sendo suficiente para sustentar o principal índice da B3 no azul.

Ainda em commodities, tema que vem sendo acompanhado pelos investidores, as ações das mineradoras e siderúrgicas avançam com a elevação de cerca de 1% no preço do minério de ferro na China, que atualmente vive um período de pressões por parte do governo para reduzir a produção por conta da crise energética do país. No mesmo horário, as ações da Vale valorizavam 0,30%.

Após a divulgação de suas prévias operacionais do terceiro trimestre, com resultados que sinalizam um reaquecimento do setor de construção civil, as construtoras vivem um dia positivo no pregão. Às 14h35, as ações da Cury subiam 1,42%. No caminho oposto, os papéis da Cyrela, Even e Moura Dubeax desvalorizavam acentuadamente 3,08%, 4,29% e 3,14%, na sequência.

Cenário fiscal indefinido

O comportamento do dólar, de acordo com especialistas, reflete a preocupação dos investidores com a indefinição de várias questões pendentes no Congresso, que geram dúvidas sobre o controle das contas públicas.

Permanecem sem solução a forma de pagamento dos precatórios, a reforma do imposto de renda e a fonte de recursos para o pagamento de programas sociais do governo, como Auxílio Brasil.

ICMS sobre combustíveis

No cenário doméstico, o impasse da tributação dos combustíveis ganhou um novo capítulo. Na noite anterior, a Câmara aprovou, por 392 votos a 71, o projeto que muda a incidência de ICMS sobre combustíveis e estabelece um valor fixo por litro para o imposto.

O próximo passo agora é a apreciação dos destaques – sugestões de mudança que podem alterar o teor do texto. A proposta seguiu para  o Senado, onde, de acordo com especialistas, tem poucas chances de avançar em razão da resistência dos Estados, que temem perder arrecadação. A perda estimada é de R$ 24 bilhões para as finanças estaduais e de R$ 6 bilhões para os municípios.

Pelo texto aprovado, a cobrança passará a ser "ad rem", ou seja, um valor fixo por litro - a exemplo de impostos federais PIS, Cofins e Cide. O modelo substituirá a cobrança atual, que é "ad valorem", ou seja, um porcentual sobre o valor o preço de venda.

O ICMS hoje incide sobre o preço médio ponderado ao consumidor final, que é atualizado a cada 15 dias. Por isso, quando a Petrobras aumenta o preço do combustível, a arrecadação dos Estados também cresce, mesmo que as alíquotas permaneçam inalteradas.

A proposta é uma tentativa de dar freio ao aumento dos combustíveis e do gás de cozinha, que tem pressionado o bolso dos consumidores. A desvalorização do real frente ao dólar e o aumento do preço do barril de petróleo são as principais causas do aumento dos preços.

Wall Street e o mundo

Nos Estados Unidos, mesmo com a preocupação sobre a inflação ainda se manter entre os investidores, o clima segue positivo e com forte apetite ao risco, com o mercado refletindo sobre os novos dados econômicos e analisando a ata da última reunião do Fomc divulgada na véspera.

Além disso, o mercado acompanha o início da temporada de divulgação de balanços trimestrais iniciada na véspera, que começou trazendo números acima do esperado, como os resultados de gigantes como JP Morgan – que registrou um lucro líquido de US$ 11,7 bilhões, alta de 24% ante o mesmo período de 2020, e lucro por ação de US$ 3,74 – e da BlackRock, que surpreendeu o mercado ao comunicar um lucro líquido de US$ 1,681 bilhão (ou US$ 10,89 por ação), montante 23% do que o obtido na mesma base de comparação do ano passado – US$ 1,364 bilhão.

Nesta quinta-feira, o mercado já ficou por dentro dos dados do terceiro trimestre do Bank of America (BofA). Segundo o banco, o lucro líquido no período foi 58% maior sobre o mesmo período de 2020, acumulando um ganho de US$ 7,7 bilhões – ou US$ 0,85 por ação. O número veio acima do aguardado pelos analistas, que apostavam em US$ 0,71 por papel.

O Citigroup também apresentou seus números do período, seguindo a safra de resultados positivos e acima das expectativas do mercado. De acordo com balanço do banco, o lucro líquido obtido no terceiro trimestre foi de US$ 4,6 bilhões, um salto de 48% sobre o mesmo intervalo de 2020. O resultado equivale a um ganho de US$ 2,15 por ação, bem acima do consenso de US$ 1,71 esperado pelos analistas.

O banco informou ainda que registrou receita de US$ 17,2 bilhões no período, também superando a projeção do mercado, de US$ 16,9 bilhões.

De acordo com Jerson Zanlorenzi, chefe da mesa de renda variável do BTG, os balanços são um importante termômetro para medir o avanço da economia americana e como está a geração de valor das companhias por lá.

Além disso, Zanlorenzi destacou que esses resultados geralmente refletem na temporada de balanços corporativos do Brasil e no mercado de derivativos.

Do outro lado do mundo, as bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em alta nesta quinta-feira, seguindo o comportamento de Wall Street na véspera. Porém, o salto recorde da inflação ao produtor (PPI) da China pesou no mercado de Xangai.

O índice japonês Nikkei subiu 1,46% em Tóquio, aos 28.550,93 pontos, enquanto o sul-coreano Kospi avançou 1,50% em Seul, aos 2.988,64 pontos, e o Taiex se valorizou 0,24% em Taiwan, aos 16.387,28 pontos. Em Hong Kong, não houve negócios devido a um feriado.

Já na China continental, o Xangai Composto caiu 0,10%, aos 3.558,28 pontos, após dados mostrarem que o PPI anual chinês atingiu o patamar inédito de 10,7% em setembro, ampliando riscos de estagflação na segunda maior economia do mundo. O menos abrangente Shenzhen Composto, por outro lado, teve alta de 0,20%, aos 2.399,26 pontos.

Na Oceania, a bolsa australiana seguiu o tom predominante da Ásia e ficou no azul, interrompendo uma sequência de três dias de perdas. O S&P/ASX 200 avançou 0,54% em Sydney, aos 7.311,70 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado

Sobre o autor
Julia ZilligA Mais Retorno é um portal completo sobre o mercado financeiro, com notícias diárias sobre tudo o que acontece na economia, nos investimentos e no mundo. Além de produzir colunas semanais, termos sobre o mercado e disponibilizar uma ferramenta exclusiva sobre os fundos de investimentos, com mais de 35 mil opções é possível realizar analises detalhadas através de índices, indicadores, rentabilidade histórica, composição do fundo, quantidade de cotistas e muito mais!