Mercado está atento aos balanços trimestrais de empresas americanas e evolução das commodities nesta quinta-feira
No cenário interno, preocupam os investidores questões pendentes para votação no Congresso
O mercado financeiro continua monitorando o ambiente doméstico, enquanto dirige um olhar mais atento a eventos e expectativas no cenário internacional, especialmente aos Estados Unidos, embora nem sempre o mercado de ações local ande no mesmo compasso das bolsas americanas.
Nesta quinta-feira, 14, a atenção deverá estar centrada na segunda rodada de divulgação de balanços trimestrais de empresas americanas. Ainda nesta semana devem ser conhecidos os dados de balanços de gigantes como Bank of America (BofA), Goldman Sachs, Citigroup, Morgan Stanley, entre outros bancos.
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, encerrou o pregão da véspera, na volta do feriado, com valorização de 1,14%, aos 113.455,92 pontos. No pico de alta do dia, no entanto, o Índice Bovespa (Ibovespa) chegou a 114.158,88 pontos (avanço de 1,76% sobre a véspera), que não se sustentou até o fechamento.
O dólar recuou 0,51%, para R$ 5,51, no fim do dia, mas no início da tarde alcançou o patamar de R$ 5,57. A escalada de preço foi abortada por um leilão no qual o Banco Central vendeu US$ 1 bilhão de contratos de swap cambial, títulos equivalentes à venda futura de dólar.
Nos EUA, na bolsa de Nova York, o índice Dow Jones transitou em baixa ao longo de quase todo o pregão e fechou em estabilidade; o S&P 500 subiu 0,30% e o Nasdaq avançou 0,73%.
Controle das contas públicas
O comportamento do dólar, de acordo com especialistas, reflete a preocupação dos investidores com a indefinição de várias questões pendentes no Congresso, que geram dúvidas sobre o controle das contas públicas. Permanecem sem solução a forma de pagamento dos precatórios, a reforma do imposto de renda e a fonte de recursos para o pagamento de programas sociais do governo, como Auxílio Brasil.
A tendência da Bolsa, para analistas de mercado, permanece atrelada à dança de preços internacionais das commodities, que por sua vez dependem das condições econômicas e de medidas do governo chinês. Um ponto de expectativa é a possível volta do setor imobiliário da China ao radar de risco dos investidores, diante de sinais de que mais empresas, além da Evergrande, podem ter dificuldades para pagar dívidas.
ICMS sobre combustíveis
No cenário doméstico, o impasse da tributação dos combustíveis ganhou um novo capítulo. Na noite anterior, a Câmara aprovou, por 392 votos a 71, o projeto que muda a incidência de ICMS sobre combustíveis e estabelece um valor fixo por litro para o imposto.
O próximo passo agora é a apreciação dos destaques – sugestões de mudança que podem alterar o teor do texto. Em seguida, a proposta deve seguir para o Senado, onde tem poucas chances de avançar em razão da resistência dos Estados, que temem perder arrecadação. A perda estimada é de R$ 24 bilhões para as finanças estaduais e de R$ 6 bilhões para os municípios.
Pelo texto aprovado, a cobrança passará a ser "ad rem", ou seja, um valor fixo por litro - a exemplo de impostos federais PIS, Cofins e Cide. O modelo substituirá a cobrança atual, que é "ad valorem", ou seja, um porcentual sobre o valor o preço de venda.
O ICMS hoje incide sobre o preço médio ponderado ao consumidor final, que é atualizado a cada 15 dias. Por isso, quando a Petrobras aumenta o preço do combustível, a arrecadação dos Estados também cresce, mesmo que as alíquotas permaneçam inalteradas.
A proposta é uma tentativa de dar freio ao aumento dos combustíveis e do gás de cozinha, que tem pressionado o bolso dos consumidores. A desvalorização do real frente ao dólar e o aumento do preço do barril de petróleo são as principais causas do aumento dos preços.
Wall Street e o mundo
Nos Estados Unidos, os investidores e analistas seguem refletindo os principais pontos da ata da última reunião de política monetária do Fomc (Copom americano) divulgada no dia anterior pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Nas bolsas de Nova York, os futuros operam em alta.
Para a Pantheon, o documento deixa claro que o Fed deve anunciar o tapering – retirada de estímulos da economia - no encontro de novembro.
Já o CIBC estima que o término da redução das compras em meados de 2022, como estimado pelo Fed, abre caminho para uma elevação dos juros em setembro de 2022. De fato, alguns dirigentes do BC americano citaram a possibilidade de aumentar as taxas no ano que vem, como mostrou a ata.
Além disso, o mercado acompanha a temporada de divulgação de balanços trimestrais iniciada após o feriado, com os resultados de gigantes como JP Morgan – que registrou um lucro líquido de US$ 11,7 bilhões, alta de 24% ante o mesmo período de 2020, e lucro por ação de US$ 3,74 – e da BlackRock, que surpreendeu o mercado ao comunicar um lucro líquido de US$ 1,681 bilhão (ou US$ 10,89 por ação), montante 23% do que o obtido na mesma base de comparação do ano passado – US$ 1,364 bilhão.
A dívida fiscal americana, apesar de ter recebido um “remédio temporário” com a elevação do teto até dezembro, não deve sair tão cedo do olhar dos investidores, principalmente porque o assunto deve voltar a ser tema de discussões nos Estados Unidos em breve, como indica o movimento dos rendimentos dos Treasuries de longo prazo.
Do outro lado do mundo, as bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em alta nesta quinta-feira, seguindo o comportamento de Wall Street na véspera. Porém, um salto recorde da inflação ao produtor (PPI) da China pesou no mercado de Xangai.
O índice japonês Nikkei subiu 1,46% em Tóquio, aos 28.550,93 pontos, enquanto o sul-coreano Kospi avançou 1,50% em Seul, aos 2.988,64 pontos, e o Taiex se valorizou 0,24% em Taiwan, aos 16.387,28 pontos. Em Hong Kong, não houve negócios devido a um feriado.
Já na China continental, o Xangai Composto caiu 0,10%, aos 3.558,28 pontos, após dados mostrarem que o PPI anual chinês atingiu o patamar inédito de 10,7% em setembro, ampliando riscos de estagflação na segunda maior economia do mundo. O menos abrangente Shenzhen Composto, por outro lado, teve alta de 0,20%, aos 2.399,26 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana seguiu o tom predominante da Ásia e ficou no azul, interrompendo uma sequência de três dias de perdas. O S&P/ASX 200 avançou 0,54% em Sydney, aos 7.311,70 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado