Bolsa opera em baixa como novas projeções econômicas do Ministério da Economia a alta da inflação no exterior
Confira as principais notícias do pregão desta quarta-feira, 17
A Bolsa de Valores brasileira, a B3, opera com bastante volatilidade nesta quarta-feira, 17, acompanhando os mercados internacionais, que repercutem novos dados econômicos da inflação global. Às 14h10, o Ibovespa registrava baixa de 0,67%, marcando 103.705 pontos, puxada pelas empresas do setor doméstico. No sentido oposto, o dólar registrava alta residual de 0,18%, cotado a R$ 5,51, no mesmo período.
Além da agenda de indicadores do exterior, no radar do mercado também está o cenário fiscal do País, com os novos capítulos da PEC dos Precatórios. Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que pretende reajustar o salário dos servidores públicos com parte do espaço que a PEC vai abrir no Orçamento da União. Ajuda a azedar o humor dos investidores, ainda, as novas projeções macroeconômicas do Ministério da Economia.
Mais cedo, o Ministério divulgou suas novas expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021. A pasta revisou o indicador, que reflete a inflação oficial do País, de 7,90% para 9,70% em 2021 e de 3,75% para 4,70% para 2022. Vale lembrar que a meta de inflação para este ano era de 3,75%, enquanto para o próximo ano o centro da meta é de 3,50%.
O Ministério revisou, ainda, suas projeções para o crescimento econômico do País. A pasta espera que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça 5,10% em 2021, de 5,30% anteriormente. Para 2022, a alta passou de 2,50% para 2,10%.
Durante a manhã, os investidores conheceram, também, os dados do Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) da segunda quadrissemana de novembro. O Índice acelerou em quatro das sete capitais pesquisadas, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A alta acumulada em 12 meses é de 9,63%, maior do que os 9,59% ocorridos no período até a primeira quadrissemana.
A economista da CM Capital, Ariane Benedito, considera que a Bolsa deve permanecer no vermelho ao longo do dia, na esteira dos novos dados econômicos e, principalmente, repercutindo as discussões em torno da PEC dos Precatórios.
Sobe e desce na Bolsa
Com as sinalizações de uma deterioração da economia brasileira, com a escalada da inflação, os juros subindo e o crescimento econômico desacelerando, as empresas varejistas, que dependem do consumo doméstico, são algumas das mais impactadas. Às 14h10, Magazine Luiza, Grupo Natura e Grupo Soma caíam 3,18%, 336% e 2,95%, respectivamente.
Outras empresas bastante impactas por esse cenário são as que tem forte atuação em tecnologia. Especialistas explicam que essas companhias tendem a precisar mais de empréstimos para investir em seu crescimento do que outras. Assim, ações como as do Banco Inter e Locaweb registram forte queda no pregão. Às 14h11, os papéis operavam em forte baixa de 6,89% e 3,68%, na sequência.
No setor de commodities, a Petrobras caía 0,11% no mesmo horário, acompanhando a desvalorização no preço do petróleo nos mercados internacionais. Analistas do BTG Pactual explicam que a queda está relacionada à notícia de que a China e os Estados Unidos devem trabalhar juntos para tentar o reduzir o avanço do preço do petróleo pelo mundo.
O minério de ferro também registra queda no exterior, mas o impacto ainda não foi sentido pela Vale neste pregão. A mineradora, que corresponde a cerca de 14% da carteira teórica da B3, operava em leve alta de 0,14%, às 14h13, enquanto as siderúrgicas CSN subiam 0,14% e a Gerdau caminhava no zero a zero.
Uma das maiores quedas do pregão, até aqui, fica por conta dos papéis da Eletrobras, que reportavam forte queda de 5,27% às 14h14. A companhia divulgou seus resultados do terceiro trimestre na véspera e reportou queda de 65,72% em seu lucro líquido na comparação anual, registrando R$ 964,561 milhões.
PEC dos Precatórios: reajuste de salários dos servidores públicos
Nesta quarta, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, na chegada ao Palácio do Planalto, que considera a possibilidade de o governo federal conceder aumento a servidores se houver espaço fiscal. "Se houver espaço fiscal dentro do orçamento, o presidente pode conceder algum tipo de aumento. Mas é assunto entre ele e o ministro da Economia Paulo Guedes", afirmou ele.
Na véspera, a declaração do presidente Jair Bolsonaro de que pretende conceder reajuste salarial aos servidores públicos com parte do espaço fiscal que a PEC dos Precatórios deve abrir - de R$ 91,6 bilhões - pegou a todos de surpresa, inclusive o relator geral do Orçamento, deputado Hugo Leal.
Ariane destaca que, em entrevista à imprensa, Leal disse não ver espaço para reajuste pretendido pelo presidente. Segundo o deputado, os cálculos feitos pela comissão de orçamento mista levam em conta somente um reajuste de aposentadoria pela inflação. "Contudo, Bolsonaro disse que está tratando com o Ministro da Economia Paulo Guedes formas de acomodar o reajuste na folga fiscal", comenta a economista.
Durante uma visita ao Bahrein em sua passagem pelo Oriente Médio, o presidente disse que, por conta da inflação, que chegou a dois dígitos, a PEC "tem que ter um pequeno espaço para dar algum reajuste. Não é o que eles merecem, mas é o que nós podemos dar. A todos os servidores federais, sem exceção".
Outro parlamentar a se manifestar contra a medida pretendida por Bolsonaro foi João Roma. De acordo com o deputado federal, reajustar os salários de servidores "não está no elenco" de ações pretendidas pelo governo a partir do espaço fiscal que será aberto com a PEC dos precatórios, que altera o cálculo do teto de gastos (regra que limita o avanço das despesas à inflação) e adia o pagamento de dívidas judiciais.
Roma foi exonerado hoje do cargo de ministro da Cidadania, a pedido, para reassumir seu mandato de deputado federal e voltar à Câmara para apresentar emendas ao Orçamento de 2022. O deputado deve retornar à chefia do ministério depois dessa passagem pela Câmara.
"Isso (aumento para servidores) não está no nosso elenco. A PEC, o recurso dessa PEC está sendo destinado para a área social do governo. Ela estabelece justamente a viabilização do pagamento de R$ 400 (no) mínimo para cada beneficiário do Auxílio Brasil", afirmou Roma a jornalistas no Senado.
Senadores já resistentes à versão atual da PEC têm cobrado que o governo não use a folga fiscal aberta com a proposta para patrocinar outras benesses. Nesta terça-feira, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) salientou que qualquer reajuste ao funcionalismo deveria ser compensado por um corte nas despesas discricionárias (que incluem custeio e investimentos), em vez de consumir o espaço gerado pela PEC.
No Senado, Roma disse que pediu a Pacheco prioridade na votação da PEC, que deve ser apreciada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na semana que vem. "Pedi toda prioridade. Expliquei a gravidade da situação. Que precisamos aprovar no espaço mais curto possível", disse, frisando que a data cabe ao Congresso Nacional. "Nós precisamos que seja aprovado o quanto antes, de preferência ainda no mês de novembro."
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), não descarta que a apreciação em plenário fique para a semana do "esforço concentrado", de 29 de novembro a 3 de dezembro. Roma, porém, evitou comentar os riscos desse cenário.
Cenário político
O ano eleitoral se aproxima e Jair Bolsonaro continua, até o momento, sem um partido para tentar a reeleição. Enquanto a filiação do presidente ao PL está sob dúvidas no mundo político, os dirigentes estaduais da legenda vão se reunir hoje, às 15 horas, em Brasília, com o líder da sigla, Valdemar Costa Neto. O PL chegou a marcar o ato de filiação de Bolsonaro para o dia 22, mas cancelou o evento em meio a tensões entre a cúpula do partido e o presidente.
De um lado, o chefe do Executivo pede controle maior do partido, especialmente do diretório paulista, que firmou acordo para apoiar o candidato do PSDB ao governo estadual, Rodrigo Garcia, nas eleições de 2022. Liderados pelo governador João Doria, que almeja disputar a presidência da República, os tucanos de São Paulo são inimigos políticos do Palácio do Planalto.
Do outro lado da moeda, Costa Neto resiste a entregar a máquina no seu curral eleitoral à família presidencial e quer dar liberdade aos diretórios locais para formar alianças que atendam às necessidades regionais.
Cenário externo: inflação
A inflação não é preocupação apenas no Brasil. Nesta quarta, as bolsas europeias operam majoritariamente em baixa, refletindo a divulgação de novos dados econômicos no continente.
Na zona do euro, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) avançou 0,8% em outubro, na comparação com setembro, informou nesta quarta-feira a Eurostat, agência oficial de estatísticas do bloco. Na comparação anual, houve alta de 4,1%, na leitura final do dado. Os números vieram em linha com a previsão dos economistas consultados pelo Wall Street Journal.
O núcleo do CPI, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, subiu 0,3% na comparação mensal e 2,0% na anual, segundo a Eurostat. O resultado mensal neste caso também veio em linha com o esperado, mas a expectativa para a leitura anual era de avanço um pouco maior, de 2,1%.
Já no Reino Unido, o índice avançou 1,1% em outubro ante o mês anterior, ide acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês). Analistas consultados pelo Wall Street Journal previam alta menor, de 0,9%. Na comparação anual, o CPI subiu 4,2% em outubro, ante expectativa de avanço de 4,0%.
O núcleo do CPI subiu 0,7% no mês e 3,4% na comparação anual em outubro. Os números também superaram as previsões de altas de 0,5% e 3,2%, respectivamente.
De acordo com analistas do BTG Pactual, o avanço da inflação global ajuda a azedar o humor dos investidores porque aumenta as expectativas de que os bancos centrais devem começar a elevar as taxas de juros, sobretudo dos países desenvolvidos, antes do previsto, o que favorece a renda fixa e prejudica ativos de risco, como o mercado de ações, principalmente em países emergentes, como o Brasil.
O mercado também está atento à agenda de indicadores dos Estados Unidos. Ao longo do dia, serão divulgados o dado mensal de construção de casas novas e os dados de variação semanal de estoques de petróleo EIA. Além disso, os investidores também estão atentos aos discursos de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que devem acontecer ao longo do dia.
Os índices S&P 500 e Dow Jones caíam 0,16% e 0,50%, às 14h15, enquanto o Nasdaq 100 apresentava alta de 0,30%.
Para Álvaro Frasson, economista do BTG, a expectativa do mercado gira em torno de quando a instituição vai começar o processo de retirada de estímulos - o tapering. "Quanto antes o Fed retirar os estímulos, antes o mercado começa a precificar a alta dos juros nos Estados Unidos, o que mexe também com toda a estrutura de juros no Brasil", explica.
Ainda nos EUA, o presidente Joe Biden afirmou, na véspera, que espera ter uma decisão final sobre o comando do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em quatro dias.
Questionado por repórteres, o democrata indicou que a definição sobre uma potencial recondução de Jerome Powell à presidência do Fed ou da atual diretora da autoridade monetária Lael Brainard para o cargo deve ocorrer ainda nesta semana. Ambos foram entrevistados por Biden para o posto.
Do outro lado do mundo
Os mercados acionários da Ásia não tiveram direção única, nesta quarta-feira, 17. Entre as maiores bolsas, Tóquio registrou queda, após ganhos recentes, mas Xangai exibiu ganhos.
No Japão, o índice Nikkei fechou em baixa de 0,40% em Tóquio, em 29.688,33 pontos. Um possível movimento de realização de lucros ocorreu, após quatro sessões seguidas de ganhos. Companhias de diversos setores caíram hoje, com Recruit Holdings em baixa de 4,6%, Toshiba de 3,8% e Dentsu Group, de 3,7%.
Já Inpex, ligada ao petróleo, avançou 1,9%, após o Ministério da Indústria japonês dizer que estuda uma medida temporária para mitigar os preços elevados de gasolina, por meio de subsídios a refinarias, o que tenderia a conter preços no atacado.
Já na China, a Bolsa de Xangai terminou com ganho de 0,44%, em 3.537,37 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, subiu 1,11%, a 2.592,04 pontos. Papéis ligados à produção de lítio e a energias renováveis se saíram bem e a reunião virtual desta semana entre os líderes de China e Estados Unidos apoiava o quadro geral.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng terminou em baixa de 0,25%, em 25.650,08 pontos. A realização de lucros pode ter pesado também neste caso, após sequência de seis altas seguidas.
Ações de exportadoras puxaram as baixas, depois de ganhos fortes recentes. Entre papéis em foco, Sunny Optical caiu 4,4% e Shenzhou International, 1,5%. Incorporadoras também recuaram, depois de ganhos recentes em meio a especulações sobre eventual ajuda do governo de Pequim ao setor.
Em Taiwan, o índice Taiex fechou em alta de 0,40%, em 17.764,04 pontos.
Na Coreia do Sul, o índice Kospi registrou queda de 1,16%, para 2.062,42 pontos. Papéis de companhias aéreas e dos setores de energia e biotecnologia estiveram entre as baixas e o avanço recente dos casos da covid-19 no país impôs certa cautela a investidores.
Na Oceania, na Bolsa de Sydney o índice S&P/ASX 200 fechou em baixa de 0,68%, em 7.369,90 pontos. Commonwealth Bank of Australia caiu 8,1%, após alertar sobre sua margem, em ambiente de forte concorrência e juros baixos, o que levou o setor financeiro em geral para o vermelho. Mineradoras também recuaram. / com Agência Estado