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clima
Economia

Lucro versus clima: Qual o trade-off

Redução de emissão de CO2 tem de acontecer em nível global

Data de publicação:08/11/2021 às 07:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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COP26 ou qualquer outra versão da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática é sempre colocada como a última chance de se salvar o planeta. O futuro do clima está em jogo.

Durante o evento, não são poucas as divergências apresentadas pelos seus inúmeros participantes, sejam eles representantes de governos, instituições financeiras ou ativistas. 

A lucratividade anda na mesma direção da redução de emissões - Foto: Pixnio

Porém, independentemente do lado em que se está, uma pergunta sempre domina as discussões: pode haver crescimento sem que se comprometa o bem-estar das futuras gerações?

Combustíveis fósseis afetam o clima

O capitalismo se desenvolveu ao longo dos séculos por meio do uso de combustíveis fósseis.  Historicamente falando, o crescimento necessariamente esteve atrelado ao aumento de emissões de gases e, consequentemente, maiores níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.

Visando reverter essa dinâmica para os tempos atuais, Yoichi Kaya, um economista japonês especializado em energia, chegou à seguinte fórmula:

CO2 = população X (PIB/Capita) X (Energia/PIB) X (CO2/Energia)

De acordo com ela, para que haja menos emissões, é preciso que se reduza um ou mais dos seus componentes, sendo que até o momento foi dada maior ênfase aos dois últimos: a relação Energia/PIB, mais relacionada a ganhos de eficiência em processos produtivos, e a relação CO2/Energia, diretamente ligada às metas de descarbonização.

Considerando as variáveis restantes, reduzir o tamanho da população para que haja menos poluição não é algo que está no escopo das políticas públicas.  Portanto, para qualquer meta mais ambiciosa em relação ao clima, o foco seria uma melhor relação PIB/Capita. 

Isso quer dizer que qualquer crescimento precisa vir acompanhado de mais eficiência energética das fontes menos poluentes, combinando inovação com mais investimentos.

Motor do crescimento

O ritmo do crescimento mundial depende em grande parte da Ásia, responsável pelo consumo de 75% do estoque mundial de carvão.  Nada indica que isso será revertido via acordos em Glasgow.  Entre as usinas de carvão em planejamento ou em construção, 86% estão ali.

O motivo não poderia ser outro.  Boa parte do cimento e do aço fornecido no mercado internacional é produzido pelas suas indústrias, gerando empregos para milhares de pessoas.  Sendo tão relevantes, não é de se espantar que a maioria da população local ache que a crise climática não lhe diz respeito.

Mas, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), a Ásia já representa 49% do total de emissões do planeta.  Com dados tão ruins, os governantes não tiveram outra opção além de tentar melhorar a imagem.  Para a China, o ano para se alcançar a neutralidade em carbono (“net-zero”) é 2060.

Planejamento

Se tem alguma coisa que o governo chinês sabe fazer bem é planejar.  Para chegar nesse resultado, o país conta com 19 institutos de pesquisa e um plano.  Usinas alimentadas por fontes renováveis e nuclear substituiriam as usinas a carvão até o ano de 2050, sendo então complementadas por tecnologias para se sequestrar o carbono.

Isso exigiria algo em torno de quatro vezes o parque mundial de energia solar e três vezes o parque mundial de energia eólica, uma ordem de grandeza na qual a China está acostumada dado que investe muito.  Ainda assim, pouco se sabe sobre a capacidade do resto da região em acompanhar o mesmo ritmo.

Para se chegar ao que foi estipulado no Acordo de Paris (restringir o aumento de temperatura a 1,5º C quando comparado ao período pré-industrial), as emissões teriam que se limitar a 20% do que determinam as regras atuais, em países com pouca vontade política para tal.

Benefícios

A Índia mostra bem a dificuldade de se mudar o status quo.  O carvão transportado pelas ferrovias do país subsidia o valor das mais de 8 bilhões de viagens de trem que os indianos fazem anualmente.

Além disso, muitas das minas de carvão estão localizadas em estados com pouca diversificação econômica.  Ao se ordenar o fechamento delas, quais alternativas teriam sem um apoio financeiro previamente definido (seja ele local ou internacional) e programas de recapacitação?     

Financiamento

Seria então o caso de se cortar o financiamento para projetos estruturantes altamente poluentes?  Grandes bancos de fomento de países desenvolvidos, semelhantes ao nosso BNDES, já deixaram de financiar tais iniciativas.

Portanto, usinas de energia geradas a carvão já são menos viáveis economicamente, favorecendo fontes mais limpas. 

GFANZ

É com base nesse raciocínio, onde a lucratividade anda na mesma direção da redução de emissões que a comunidade financeira internacional pretende atuar.  Isso explica um dos destaques da COP26, a Aliança Financeira de Glasgow por Emissões Líquidas Zero (GFANZ) da ONU, que inclui bancos, seguradoras e investidores para financiar a transição energética. 

Entretanto, agir concretamente para reduzir as emissões poderá se mostrar mais desafiador do que colocar uma grande quantidade de funding em tecnologias promissoras.  Isso se deve ao fato de as maiores poluidoras do mundo serem estatais, o que muda a forma como se financiam e investem.

Uma outra dificuldade é o tipo de regulamentação que essas instituições financeiras terão que seguir.  Como mensurar a pegada de carbono de uma carteira de investimentos sem incorrer em dupla contagem, por exemplo? 

Como se pode perceber, financiar a transição energética não é simplesmente trocar Petrobras por Tesla.

Conclusão

As lideranças globais estão cientes da necessidade de se negociar conjuntamente a questão do clima.  Porém, não basta que alguns países sejam mais ambiciosos nos seus esforços se a redução não for em nível global.

A forma de se chegar ao “net-zero” envolve países com recursos e interesses distintos.  Por conta disso, por mais que as nações desenvolvidas possam dar escala a novas tecnologias, é preciso que a Ásia mude a forma como funciona.

Questões geopolíticas à parte, a resposta pode estar com a iniciativa privada.  Não com um grupo de bilionários, mas por meio de agentes do setor financeiro com diretrizes claras.  O desenvolvimento desse tipo de financiamento, entretanto, não virá sem os desafios de se criar algo do zero, a começar por um arcabouço regulatório próprio. 

Como exposto aqui, não se trata de uma questão de lucro versus clima, mas da elaboração de um plano para uma nova economia, mesmo que ele tenha que ser relembrado a cada conferência.   

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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