Juros na zona do euro sobem acima das projeções do mercado e euro avança
Essa foi a primeira alta na taxa básica de juros do bloco em 11 anos
Na manhã desta quinta-feira, 21, o Banco Central Europeu (BCE) surpreendeu analistas e investidores ao anunciar um aumento de meio ponto percentual (p.p.) a taxa básica de juros da zona do euro, que subiu de -0,5% para 0% ao ano. As expectativas do mercado apontavam para uma alta menos expressiva, de 0,25 p.p., já que a instituição não tem um histórico de trabalhar com juros maiores.
A decisão do BCE vem em um momento em que a inflação na zona do euro já é a maior da história: em junho, o índice de preços ao consumidor chegou a 8,6% no acumulado em 12 meses. No entanto, especialistas consideram que a medida veio tarde. "A Europa está muito atrasada em relação à alta de juros, vemos o euro quase perdendo paridade com o dólar", afirma Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed.
Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, explica que o mercado não esperava uma postura tão dura do BCE em relação aos juros porque a economia da Europa, principalmente na zona do euro, já está bastante fragilizada, com baixo crescimento e uma série de incertezas causadas pela guerra da Rússia na Ucrânia.
Inflação, juros e crescimento na zona do euro
Economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, destaca que a inflação na zona do euro, hoje em 8,6%, era de 1,9% há um ano. Os preços de energia, que dispararam mais de 40% nos últimos 12 meses, principalmente em decorrência do conflito no leste europeu (já que a Rússia é a principal fornecedora de energia para o continente), são a principal contribuição para a pressão inflacionária persistente.
"A autoridade monetária enfrenta um dilema: fazer os preços convergirem para a meta, sem que isso desacelere demais a economia da zona do euro. Esta, que não tem apresentado um crescimento tão robusto como, por exemplo, os Estados Unidos. Inflação alta, possibilidade de recessão, a própria demora em elevar as taxas de juros pelo BCE, os efeitos da guerra na Ucrânia e problemas de fornecimento de energia, são todos fatores que aumentaram as incertezas em relação ao bloco."
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research
Em comunicado divulgado mais cedo, o BCE já indicou que novas altas nos juros devem acontecer nas próximas reuniões da autoridade monetária. Christine Lagarde, presidente da instituição, reforçou que a autoridade monetária não prevê uma recessão na zona do euro neste ano ou no próximo em seu cenário-base, apesar da persistência da guerra e do aperto nas condições para conter a inflação.
Lagarde afirmou, no entanto, que a economia da zona do euro está em desaceleração, diante da contínua pressão exercida pelo conflito na Ucrânia. "A guerra também pode pressionar a confiança e agravar gargalos de oferta, ao mesmo tempo em que os custos de energia e alimentos podem ficar persistentemente mais altos do que o esperado", disse.
Impactos da alta nos juros da zona do euro no mercado financeiro
Neste contexto de alta acima das projeções, os mercados ao redor do mundo vivem um dia de bastante volatilidade, oscilando entre altas e baixas. O euro avança frente outras divisas e, em relação ao real, subia 0,94%, cotado a R$ 5,61, às 15h05, enquanto valorizava 0,10% ante o dólar, vendido a US$ 1,02.
Como o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou seu ciclo de altas nos juros antes, as taxas dos títulos americanas oferecem retornos mais atrativos ao investidor. Com a decisão de hoje, entretanto, Oliveira explica que é natural que o dólar se enfraqueça, com as perspectivas de que o BCE vai continuar elevando os juros na zona do euro até que consiga combater a inflação
Já em relação aos principais índices acionários, as bolsas europeias fecharam sem direção única, com os investidores repercutindo a decisão da instituição e seus impactos em cada país.
"Essa alta, apesar de positiva no sentido de combater a inflação, machuca muito alguns países. Vemos os títulos da dívida italiana em colapso. E vai piorar a situação porque a Europa está muito fragilizada e os países não estão acostumados com cenário de juros mais altos."
Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed
Fechamento das bolsas europeias
- Stoxx 600 (Europa): alta de 0,44%
- FTSE 100 (Inglaterra): alta de 0,09%
- DAX (Alemanha): baixa de 0,27%
- CAC 40 (França): alta de 0,27%
- FTSE MIB (Itália): baixa de 0,71%
- Ibex (Espanha): baixa de 0,20%
- PSI 20 (Portugal): baixa de 0,94%
Com Agência Estado
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