Inflação americana entra no radar, em meio à dúvidas sobre reforma tributária
Expectativa é de que haja uma desaceleração dos preços na economia americana
O mercado financeiro teve um início de semana bastante positivo, embalado por um movimento de recuperação e ajuste ao bom desempenho dos mercados internacionais na última sexta-feira, 9, quando os negócios ficaram parados na B3, com o feriado no Estado de São Paulo.
Dessa forma, os negócios localmente incorporaram os números lá de fora no dia anterior.
Em uma sessão que não contou com grandes destaques da agenda econômica, especialistas afirmam que os investidores devem reagir mais diretamente a fatores que afetam os mercados a partir desta terça-feira, dia 13. Um deles é o Índice de Preços ao Consumidor (Consumer Price Index – CPI, na sigla em inglês), que será divulgado hoje nos EUA.
O índice mede a evolução de preços de uma cesta de bens e serviços – gastos com transporte, educação, lazer, dentre outros – consumidos pelos americanos em junho, excluídas as despesas com itens essenciais, como alimentos e energia elétrica.
O CPI ocupa lugar de destaque no radar dos investidores porque sua variação pode influenciar a orientação de política monetária do Fed (Federal Reserve, banco central americano) e as deliberações sobre eventual alteração nas taxas de juro.
Inflação pode desacelerar
A equipe de analistas da Guide Investimentos estima que o índice de preços ao consumidor americano deverá passar por nova desaceleração, de uma alta de 0,60%, em maio, para 0,50%, em junho, “refletindo a transitoriedade dos atuais choques de oferta, intensificados pela expansão da demanda proporcionada pela reabertura da economia”.
A previsão é que, no acumulado dos últimos 12 meses, o índice registre níveis historicamente elevados, acima de 4%.
A inflação ao consumidor nos EUA divide a atenção dos investidores com os dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) chinês que serão conhecidos na próxima quarta-feira, 14.
O interesse mais aguçado pelos indicadores econômicos na China, segundo analistas, está relacionado a fato de que o ritmo de atividade chinesa tem dado sinais mais tímidos de expansão e decepcionado o mercado.
A semana teve início com o cenário doméstico acenando perspectivas positivas em relação a possíveis alterações no texto original da proposta de reforma tributária.
Uma delas seria a volta da isenção de tributação sobre os dividendos pagos pelos fundos imobiliários. Estaria na pauta de negociações entre o Congresso e a equipe econômica de governo ainda a redução de alíquotas de imposto de renda sobre as empresas.
O que pode pesar no mercado
A proposta de mudança nas regras de imposto de renda de pessoa jurídica, incluindo a tributação de dividendos, é um dos fatores que vêm causando mal-estar nos mercados. A Bolsa vem reagindo negativamente e o dólar emendou oito valorizações consecutivas, até interromper essa trajetória na véspera.
Outra informação que parece animar o mercado financeiro e ficou refletido no boletim Focus divulgado nesta segunda-feira é a impressão de que a inflação passou a desacelerar, como resposta ao ajuste mais agressivo da taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central (BC).
A expectativa de inflação para 2022, que o BC mira para calibrar a Selic, recuou pela segunda vez seguida, embora discretamente, de 3,77% para 3,75%.
Embora o cenário de inflação para o próximo ano esteja sendo visto com pouco mais de otimismo, os analistas econômicos continuam projetando inflação em alta para 2021.
Isso é consequência de pressões adicionais sobre os preços nos próximos meses, derivadas de reajustes recentes nas cotações do petróleo e nas tarifas de energia elétrica, por causa da crise hídrica.
Essa perspectiva, combinada com a visão de que a esperada reabertura da economia e a expansão do consumo venham a adicionar pressão sobre os preços - levando o BC a endurecer ainda mais a política monetária - tem levado a revisões na taxa Selic projetada para o fim deste ano. A Itaú Asset passou a estimar uma taxa Selic de 7,25% para o fechamento do ano.
A ideia que parece passar a permear os agentes econômicos é que um ajuste mais forte da Selic este ano levaria a uma inflação mais comportada em 2022, quando o BC poderia promover reduções graduais do juro básico sem causar prejuízo ao crescimento econômico do próximo ano.
Reforma tributária: lucros e dividendos
Segundo negociações entre o relator do texto da reforma tributária, deputado Celso Sabino e a área econômica do governo, o relatório deve manter a taxação sobre a distribuição de lucros e dividendos a acionistas, mas dar um alívio maior às empresas. O parecer deve ser apresentado hoje aos líderes partidários.
Em entrevista, o chefe do Centro de Estudos Tributários da Receita Federal, Claudemir Malaquias, disse que a retomada da tributação de lucros e dividendos é um “caminho sem volta”. Extinta em 1996, a taxação está no centro da polêmica que envolve a proposta apresentada pelo governo ao Congresso.
Mais de duas semanas depois da apresentação do projeto, apenas na véspera a Receita abriu os números sobre o impacto da proposta na arrecadação e apontou uma revisão das estimativas, após a pressão do setor privado e de parlamentares para o governo apresentar os detalhes das projeções.
Os críticos apontam, porém, distorções com a volta da taxação de dividendos e o risco de aumento da carga tributária. O relator do texto prometeu que, com as mudanças em relação à versão original do governo, haverá uma redução da carga em R$ 20 bilhões para enfrentar as resistências das lideranças empresariais.
As críticas e a mobilização dos empresários deixaram o presidente Jair Bolsonaro desconfortável com o projeto num momento de tensão política com os avanços da CPI da Covid uma queda da sua população. Bolsonaro cobrou ajustes para atender pontos específicos, entre eles, manter a isenção dos Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs).
NY: futuros estáveis
No cenário externo, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam estáveis, com os investidores no aguardo da divulgação do índice de preços ao consumidor de junho que acontece logo mais, além do início da nova temporada de balanços corporativos.
Na véspera, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq renovaram o recorde de fechamento. O Dow Jones avançou 0,36%, aos 34.996,18 pontos, o S&P 500 subiu 0,35%, aos 4.384,63 pontos, e o Nasdaq teve alta de 0,21%, aos 14.733,24 pontos.
Tendo em vista os balanços, o Bank of America (BofA) destaca como "temas chave" inflação, China e a covid-19. "Esperamos que o impulso contínuo dos lucros reabasteça a confiança dos investidores na recuperação e conduza a rotação", projeta. No entanto, nem sempre lucros fortes "significam um mercado forte", pondera.
O CPI nos EUA deverá movimentar o mercado, em grande parte pela observação das potenciais reações do Fed. Segundo alguns analistas, deve haver uma desaceleração para uma alta mensal de 0,5%, e um novo avanço de 5,0% na comparação anual.
No dia anterior, o dirigente da distrital de Nova York, John Williams, afirmou que a instituição ainda não atingiu as condições para o "tapering", como é chamado o processo de redução gradual das compras de ativos. Segundo Williams, a "alta incerteza" ainda domina as perspectivas econômicas do país.
CPI da Covid: novos depoimentos
Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado seguem sendo acompanhados pelos investidores. Nesta terça-feira, o colegiado ouve a diretora técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades.
Porém, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, atendeu parcialmente um pedido da diretora para ficar em silêncio em relação a fatos que a incriminem durante o depoimento.
Fux também determinou que a responsável técnica da Precisa não seja submetida ao compromisso de dizer a verdade, mas negou o pedido para que ela tivesse o direito de não comparecer à oitiva.
A empresa atuou como intermediária entre o laboratório indiano Bharat Biotech e o Ministério da Saúde na venda de doses da Covaxin - e teria pedido inclusive um adiantamento dos pagamentos, o que não é usual.
O nome de Medrades aparece em vários momentos nas trocas de e-mails entre a empresa e o Ministério da Saúde. Os sigilos telefônico e telemático (mensagens) dela já foram quebrados pela CPI.
Os depoimentos seguintes são sobre a suposta tentativa de venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca pela Davati. Na quarta-feira, fala o reverendo Amilton Gomes de Paula, um religioso do Distrito Federal que teria facilitado o acesso do representante da Davati ao Ministério.
Na quinta, está marcado o depoimento do coronel da reserva do Exército Marcelo Blanco. Ele participou do jantar no qual um servidor do Ministério da Saúde teria pedido propina ao suposto vendedor de vacinas da Davati, o cabo da PM de Minas Luiz Paulo Dominghetti Pereira.
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas asiáticas fecharam em alta nesta terça-feira, após mais um dia de recordes em Wall Street e com o desempenho bem melhor do que o esperado das exportações chinesas no último mês.
O índice acionário japonês Nikkei subiu 0,52% em Tóquio hoje, aos 28.718,24 pontos, enquanto o Hang Seng avançou 1,63% em Hong Kong, aos 27.963,41 pontos.
O sul-coreano Kospi valorizou 0,77% em Seul, aos 3.271,38 pontos, e o Taiex registrou ganho de 0,19% em Taiwan, aos 17.847,52 pontos.
Na China continental, o Xangai Composto avançou 0,53%, aos 3.566,52 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto subiu 0,27%, aos 2.491,97 pontos.
A China surpreendeu com um salto anual de 32,2% nas exportações de junho, maior do que o acréscimo de 27,9% de maio e também bem acima das expectativas.
As importações chinesas igualmente subiram mais do que se previa no mês passado, mas em ritmo consideravelmente menor do que em maio.
Os sólidos dados da balança comercial chinesa chegam em um momento de dúvidas sobre o grau de recuperação da segunda maior economia do mundo, após os choques da pandemia de covid-19.
Na Oceania, a bolsa australiana fechou praticamente estável, com baixa marginal de 0,02% do S&P/ASX 200, aos 7.332,10 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado