IBC-Br de agosto retrai e leva à redução na expectativa do PIB de 2021 e 2022; entenda os motivos
Queda no indicador foi de 0,15% no período, abaixo do esperado pelos analistas
Considerado uma prévia do PIB e um termômetro sobre o ritmo da atividade econômica do país ao longo dos meses, o Índice de Atividade (IBC-Br) do Banco Central (BC) retraiu 0,15% em agosto ante julho, período em que o indicador avançou 0,23%. No comparativo anual, o IBC-Br subiu 4,7% ante 5,4% na mesma base de comparação.
Os dados, divulgados pela autoridade monetária nesta sexta-feira, 15, vieram bem aquém do esperado, dado que as apostas do mercado chegavam próximo a uma alta de 0,6%. Isso tem levando os especialistas do mercado a repensarem suas projeções de crescimento do País (PIB) para 2021 e 2022.
De julho para agosto, o índice de atividade calculado pelo BC passou de 139,44 pontos para 139,23 pontos na série dessazonalizada. Este é o menor patamar desde junho deste ano (139,12 pontos).
Necton
De acordo com o economistas-chefe da corretora Necton, André Perfeito, o que chama a atenção nos resultados é o formato da curva do indicador. “Desde o início da crise, eu dizia que viveríamos uma recuperação em Raiz Quadrada, ou seja, após uma recuperação aos antigos patamares o PIB e atividade iriam andar de lado. De fato isso está ocorrendo”.
Perfeito ressalta que não acredita que haja espaço para avanços econômicos mais significativos, diante do patamar atual dos juros e da perspectiva de novas elevações da Selic, somando-se ainda a combinação de um processo inflacionário elevado com a queda na renda do consumidor.
“Mantemos a projeção do PIB para 2021 em 5% e para o ano que vem estimamos alta de 1,8%”, prevê o economista.
XP Investimentos
Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, estimava alta de 0,1% para o IBC-Br de agosto, o que não se cumpriu. Para o mês de setembro, de acordo com o especialista, a projeção da casa para o índice é de queda de 0,3% sobre o resultado de agosto, e aumento de 1,8% sobre o mesmo período de 2020.
O economista da XP destaca que se a estimativa para o IBC-Br no período estiver de acordo, “o indicador mostrará estabilidade no terceiro trimestre deste ano em comparação a igual período de 2020”.
A aposta da casa de investimentos é que o PIB do terceiro trimestre, que será divulgado no início de dezembro, suba 0,3% em relação aos três meses imediatamente anteriores. “Nossa estimativa estava em 0,7% há um mês”, destacou o especialista, referindo-se à revisão das estimativas.
Com isso, a projeção do PIB para 2021 – de 5,3% - tem viés de baixa, segundo Margato. “Para o PIB de 2022, mantemos a expectativa de crescimento de 1,3%”, complementou
Bank of America (BofA)
De acordo com os analistas do Bank of America (BofA), os dados do IBC-Br de agosto apontam uma acomodação da atividade econômica, em linha com outros dados de atividade que sinalizaram quedas na margem, com exceção do volume de serviços.
Os especialistas destacam que a desaceleração da atividade começou mais cedo do que o esperado, mostrando que recuperação pode não ser tão robusta quanto aguarda o mercado. Entre os riscos, o BofA aponta o ambiente político, a alta da inflação e a interrupção da cadeia de suprimentos, sendo este último já sentido pelo varejo e na produção industrial.
“Ainda vemos nossa projeção de crescimento do PIB para 2021 de 5,2% como apropriada, pois está praticamente em linha com o carry-over (estatística) do IBC-Br de 4,96%. Para 2022, esperamos crescimento do PIB de 2,1%”, conclui.
Original e Modalmais
Os bancos Original e Modalmais reduziram a projeção do crescimento do PIB do terceiro trimestre em relação ao segundo, de 0,7% para 0,3%. Como resultado, cortaram de 5,3% para 4,8% a previsão de expansão da atividade em 2021.
No relatório do Original, os economistas Marco Caruso, Lisandra Barbero e Eduardo Vilarim atribuem a revisão a surpresas negativas com a indústria e o varejo no mês. Os analistas citam ainda a perspectiva de pressão da escassez de insumos e da inflação elevada sobre a recuperação dos setores nos próximos meses.
"Para 2022, a expectativa de desemprego ainda elevado e a antecipação do ajuste monetário neste ano devem pesar negativamente sobre os investimentos e sobre a recuperação da economia, apontam os analistas do banco, que também apontam como "riscos negativos" as incertezas tanto no suprimento de energia, com a crise hídrica, quando de insumos importados com as interrupções nas cadeias de produtos globais.
Para o Modalmais, a expectativa de crescimento para 2021 leva em consideração os impactos positivos gerados pela reabertura da economia, possível após o caminhar da vacinação. No entanto, o quarto trimestre carrega um cenário de incertezas, considerando o aumento de juros e, novamente, falta de suprimento nas cadeias produtivas.