Economia

Gestores renovam previsões para inflação e Selic após desancoragem de expectativas para o IPCA

Algumas instituições, como o Itaú e a ASA Investments acrescentaram de 20 a 30 pontos base (0,20% a 0,30%) em suas projeções para a inflação

Data de publicação:25/01/2023 às 07:00 - Atualizado 2 anos atrás
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A alta de 0,55% do IPCA-15 - indicador tido como a prévia da inflação oficial e que fechou a primeira leitura do ano acima do esperado -,  associada ao reajuste dos preços dos combustíveis anunciado na terça-feira, 24, pela Petrobras fizeram os gestores de fundos de investimento abrirem as suas planilhas para atualizar as previsões tanto do IPCA, quanta da Selic em 2023.

Algumas instituições, como os bancos Itaú e Santander, além da ASA Investments, a gestora de Alberto Safra, acrescentaram de 20 a 30 pontos base (0,20% a 0,30%) em suas projeções para a inflação.  

Esse dado limita os cenários de corte da Selic, que segundo as casas deve mesmo fechar o ano no mínimo em 13%, bem acima dos 10,25% do último relatório Focus, organizado pelo Banco Central.

Na prática, essa desancoragem de expectativas impacta diretamente na estratégia de alocação dos gestores. Eles precisam recalibrar o portfólio para se apropriar da alta do IPCA e de uma Selic continuamente alta.

ASA Investments

Na ASA Investments, que em 2022 fez barulho com seu fundo ASA Hedge, com rentabilidade de 39,40% em 12 meses, a economista Andressa Durão conta que já foram acrescentados 20 pontos base na taxa de inflação do ano, que subiu de 5,8% para 6,0% em 2023.

Para Durão, o aumento da expectativa reflete também a surpresa com o licenciamento e emplacamento de veículos no IPCA-15, acima do esperado. "O IPVA mais alto repete esta variação o ano todo", diz.

Inflação surpreendeu na primeira prévia do ano - FOTO: Agência Brasil


A Selic, por sua vez, diante da contínua deterioração das expectativas, que leva em consideração o risco fiscal, a expectativa é que a autoridade monetária mantenha a Selic em 13,75%, no patamar atual.

Garde

Na gestora do multimercado Garde Porthos, o economista Luis Menon elevou a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo de 5,40% para 5,80% em 2023.

Para ele, o dado do IPCA-15 não é o responsável pela piora recente vista nas expectativas de inflação da pesquisa Focus. “Está muito mais na esteira da discussão de mudança de meta e da dúvida em relação à credibilidade da política econômica como um todo”, diz.

Alphatree Capital

A Alphatree Capital tem uma projeção ainda mais alta que a mediana do mercado, com o IPCA encerrando 2023 em 6,5%. Raone Costa, economista-chefe da Alphatree, afirmou que essa projeção tem passado por uma constante de altas.

Costa aponta que a Alphatree vê uma pressão de preços no setor de serviços, com uma retomada forte do mercado de trabalho, juntamente com os problemas de renda e assistência social.  

Para ele, uma taxa Selic de 13% ao final de 2023 não é algo impossível de acontecer. Ele ressalta que o cenário ao final do ano está em aberto, mas que o cenário fiscal do País não dialoga com a possibilidade de corte de juros pelo BC.

Itaú-Unibanco

O time de macroeconomia do banco Itaú, que desenha os cenários para todo o banco, inclusive para o departamento de distribuição de produtos de investimento e Previdência (onde fica, por exemplo, o Íon), elevou a expectativa de inflação que estava em 5,8% em aproximadamente 0,15 pontos porcentuais, para perto de 6%.

"Outro viés de alta é o reajuste do preço da gasolina na refinaria anunciado hoje pela Petrobras, o que adiciona impacto de cerca de 0,20 p.p. na nossa projeção de fevereiro", diz, em nota, a instituição.

Santander

O Santander Brasil soltou um relário ontem apontando "risco de aumento da estimativa" do IPCA dos atuais 5,6% para até 5,9%.

"O nosso tracking de 5,6% para o IPCA de 2023 está sob revisão, com um viés de cerca de 0,3 ponto porcentual vindo da surpresa com emplacamento e licença (que repete a variação de janeiro ao longo de todo o ano) e de 0,15 ponto com o ajuste na inflação de gasolina", escrevem os economistas do banco Daniel Karp e Felipe Kotinda, em relatório.

"Sobre 2024, vemos riscos claramente altistas para nossa projeçaõ de 3,5%, relacionados às discussões fiscais e à deterioração das expectativas em pesquisas", comentam os analistas.

Bank of America

Já o Bank of America (BofA) abandonou uma projeção que durava 10 meses, para uma taxa Selic de 10,5% no fim de 2023.

O banco americano, agora, prevê juros de 11,75% neste ano. A revisão se deve ao aumento das expectativas de inflação do mercado, que deve exigir do BC a manutenção dos juros estáveis no nível de 13,75% por um período mais longo.

"O anúncio da PEC da Transição, que aumentou o teto de gastos em R$ 145 bilhões, junto com um ruído político persistente, ajudou a desancorar as expectativas de inflação ainda mais", afirma o relatório assinado pelo chefe de Economia para Brasil e estratégia para América Latina do BofA, David Beker.

"Ainda esperamos que o IPCA desacelere durante o ano, mas agora antecipamos que a política monetária ficará parada por mais tempo do que o anteriormente previsto."/ COM MARI GALVÃO E AGÊNCIA ESTADO

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Sobre o autor
Renato JakitasEditor-chefe do Portal Mais Retorno.