Fundos de Investimentos

Fundos de renda fixa sem crédito privado não impressionam e alguns até perdem para a poupança

Rendimento do fundo de renda fixa tem desconto de taxa de administração e imposto de renda, o da poupança, não

Data de publicação:23/09/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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Sem títulos de crédito privado corporativo na carteira, os fundos de renda fixa não são o que parecem, um bicho-papão em rentabilidade, nesta temporada de juros altos. E tampouco um páreo tão peso-pesado em competitividade comparado com a poupança, pintada como o patinho feio da renda fixa.

É o que mostra o levantamento feito na base de dados da Mais Retorno. Os cinco fundos de renda fixa tradicionais mais rentáveis em 12 meses, sem a mescla do portfólio com papeis de crédito privado, entregam um rendimento entre 11,27% e 10,49%, sem considerar o IR. O rendimento da poupança está em 7,13%, isenta de imposto de renda.

No levantamento, 38 fundos de renda fixa perdem ou empatam com a poupança - Foto: Reprodução

Considerando um universo de 134 fundos de renda fixa sem crédito privado, 38 perdem ou empatam com a poupança. Três deles estão negativos e dois com remuneração zero.

Os dados evidenciam que a performance dos fundos de renda fixa que não apimentam a carteira com esses títulos privados perdem competitividade. Parte da rentabilidade do fundo fica com o gestor, como taxa de administração. E outra parcela é entregue ao Leão, com o desconto de imposto de renda sobre o rendimento.

A poupança, com a Selic em 13,75%, rende variação da TR (Taxa Referencial)mais 0,5% de juros ao mês, ou 6,17% ao ano. Sem nenhuma margem de manobra ou estratégia para aumentar o ganho, uma flexibilidade maior coloca os fundos em vantagem, com carteiras de ativos mais diversificadas.

Margem de manobra para os fundos de renda fixa

Os gestores dos fundos de renda fixa podem alocar o portfólio em títulos públicos, papeis de crédito privado financeiros, como CDBs, e corporativos, emitidos por empresas, como debêntures. Ocupam espaço de destaque as debêntures incentivadas, isentas de imposto.

Quando incluem o crédito corporativo, o rendimento de um fundo de renda fixa é bem superior, acima de 20% em um ano, mas associado a um risco também maior, de inadimplência.

Os fundos que compõem a base de levantamento da Mais Retorno, neste ranking dos fundos de renda fixa mais rentáveis, têm à frente gestores que alocam a carteira basicamente em títulos públicos. Mas nem todos.

O líder do ranking, o XP Termo FIC FI, emprega até 75% dos recursos do portfólio em estratégias com ações no mercado de derivativos. A parcela restante da carteira é investida em títulos públicos, como Letras Financeiras do Tesouro (LFT).

FundoRend. 12 mesesRend. em 2022
XP Termo FIC FI11,27%8,52%
TG Liquidez11,03%8,20%
Vitreo Selic10,54%7,94%
FIC FI Caixa Indexa T. Selic10,51%7,99%
Órama DI Simples10,49%7,93
Fonte: Mais Retorno

A estratégia do líder de rentabilidade

O gestor de renda fixa da XP Asset, Danilo Gabriel, explica que, embora com estratégia fincada em bolsa, o fundo não faz nenhum tipo de operações com ações. “O que o fundo faz é financiar o investidor que faz uma operação a termo, compra a ação à vista para pagar tempo depois”.

O investidor que quiser comprar ação e pagar depois, como estratégia ou porque está sem recursos, pode conseguir dinheiro com financiamento do fundo, por meio de corretoras parceiras da XP.

“O fundo aloca de 65% a 75% dos recursos do patrimônio nesse tipo de operação e os demais 25% em LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), sem risco de crédito e sem risco de mercado”, afirma Gabriel.

Se atua na bolsa de valores, mas não faz operação com ações, de onde vem a performance do XP Termo? O gestor explica que, quando faz a operação futura, o investidor trava o preço, “mas quando a volatilidade aumenta na bolsa ocorrem muitas antecipações de contratos”.

É nesse processo dinâmico de saída antecipada de operações a termo que o fundo tem sua fonte de rentabilidade. Ainda que tenha firmado contrato de prazo mais longo, com uma taxa de remuneração implícita, o investidor que liquida antecipadamente terá de pagar o valor total combinado.

Na prática, se o investidor faz uma operação a termo de seis meses e liquida em três, é como se essa antecipação estivesse carreando para o fundo o dobro da remuneração prevista, explica o gestor. 

É uma estratégia relativamente recente, iniciada em meados de 2021, que “consegue fazer com que o fundo entregue como remuneração, de forma bem consistente, 105% a 110% do CDI e tem sido o grande diferencial do fundo”, explica Gabriel.

Com aproximadamente R$ 80 milhões de patrimônio, o fundo cobra taxa de administração de 0,5% ao ano e taxa de performance de 10% sobre o que exceder o CDI.

Em prazo pouco mais elástico, de 14 meses, quando todos os fundos já se encontravam em operação, é possível verificar que caminham muito próximos, a curva é a mesma dos juros.

Fonte: Comparador de Ativos da Mais Retorno

Saiba o que tem nos outros fundos

Veja onde estão alocados os recursos da carteira de outros fundos de renda fixa, de acordo com a análise de Victor Zucchi Meneghel, especialista em renda fixa da Valor Investimentos.

TG Liquidez

O TG Liquidez I FI RF é um fundo que tem como meta de rentabilidade superar 110% do CDI, explica Diego Siqueira, CEO da Trinus Co, holding da gestora de fundos TG Core Asset. A estratégia, com gestão conservadora, está montada para a “construção de uma carteira diversificada, a aplicação de recursos em ativos de renda fixa, títulos públicos, títulos de crédito privado e fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCS).

Embora o regulamento possibilite a formatação de portfólio com esse tipo de perfil, no atual cenário econômico, “a carteira é composta preponderantemente por ativos relacionados ao mercado doméstico de taxas de juro pós-fixadas”, afirma Siqueira.

Ele diz que, “baseado na expertise da TG Core Asset no mercado imobiliário, a maior exposição a crédito privado dá-se indiretamente via FIDC TG Real, composto por recebíveis imobiliários pulverizados”. Com rentabilidade-alvo de CDI mais 4% ao ano, o FIDC TG Real Classe Mezanino “tem sido o maior responsável pela geração de excesso de geração de retorno sobre o benchmark (alpha)”.

A posição em títulos públicos é quase totalmente formada por papeis pós-fixados, com reduzida volatilidade e ampla liquidez.

Vítreo Selic

O Vítreo Selic FI RF Simples, que rende 10,54% em 12 meses, investe os recursos da carteira também basicamente em títulos públicos: cerca de 45% em NTNs-B, títulos atrelados à inflação, e o restante em LFTs.  Títulos indexados à inflação e papeis atrelados à Selic, ainda muito alta, rentabilizam bem os cotistas desse fundo.

Caixa Indexa Tesouro

Outro fundo que investe preponderantemente em títulos públicos é o FIC FI Caixa Indexa Tesouro Selic RF LP, que apresenta valorização de 10,51% em 12 meses. Os recursos da carteira são distribuídos entre LTNs, títulos com juros prefixados, e LFTs.

Órama DI Simples

O Órama DI FI RF Simples aloca quase a totalidade dos recursos também em títulos públicos: a maior parcela em LFTs e o restante em NTNs-B, atrelados ao IPCA.

“É um fundo que investe só em títulos públicos, ativos seguros de renda fixa, com liquidez imediata”, explica Mariana Rocha, head de gestão da Órama Gestão de Recursos. Como o investidor recebe o dinheiro no mesmo dia do pedido de resgate, “é um fundo ideal para aplicação de reserva de emergência”, com rendimento superior ao da poupança.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.