Fundos de ações: entre os três maiores em patrimônio só um supera o Ibovespa no ano
Ibovespa tem avanço de 4,66% até dia 17 de novembro, e apenas o Real Investor supera com desempenho de 5,72% até a mesma data
O tamanho do patrimônio não é condição suficiente nem garantia de que um fundo de investimento entregará retorno atraente ao cotista. Ainda mais em épocas de cenários desafiadores como este ano. Entre os fundos de ações, dos três maiores selecionados em levantamento feito pela Mais Retorno, um rende acima do Ibovespa no ano, outro rende abaixo e o terceiro acumula rentabilidade negativa em 2022.
Quando a comparação é feita em um pouco mais de seis anos, desde setembro de 2016, dois dos fundos superam a média de mercado medida pelo Ibovespa, somente o Itaú Private Multi Ações fica abaixo do referencial.
Rendimento dos 3 fundos de ações no ano
Fundo | Patrimônio em R$ bilhão | Rend.2022 | Cotistas |
---|---|---|---|
Itaú Ações Dunamis FIC FI | 1,954 | 3,61% | 22.657 |
Itaú Private Multi Ações | 1,903 | -7,54% | 3.893 |
Real Investor FIC FIA BDR Nível I | 1,442 | 5,72% | 26.770 |
O campeão em retorno no ano é um fundo cujo gestor está baseado fora do eixo Rio-São Paulo. Localizado em Londrina, Estado do Paraná, o Real Investor FIC FIA BDR Nível I é, do trio de maiores fundos do ranking, o único que rende mais que o Ibovespa no ano.
Com patrimônio de R$ 1,442 bilhão, o terceiro do ranking nesse quesito, mas com o maior número de cotistas, com 26.770 participantes, o Real Investor entrega um rendimento de 5,71% neste ano, até 17 de novembro. É o único do trio dos maiores que supera em rentabilidade o Ibovespa, o benchmark dessa classe, que sobe 4,66% em 2022.
Outro fundo que sustenta desempenho positivo no ano, mas perde para o Ibovespa, é o Itaú Ações Dunamis FIC FI. O mais avantajado em musculatura patrimonial do ranking, com R$ 1,954 bilhão, e o segundo em cotistas, com 22.657, o fundo sob gestão do Itaú Asset rende 3,61%, portanto abaixo dos 4,66% do Ibovespa.
O segundo colocado em patrimônio no grupo dos maiores, o Itaú Private Multi Ações FIC FI, trafega no vermelho em rentabilidade. Com R$ 1,903 bilhão sob gestão e 3.893 cotistas, o fundo entrega no ano um retorno negativo de 7,54% no ano, até 17 de novembro.
Desempenho em seis anos
Embora nem todos os três fundos tenham superado o desempenho da bolsa -- o Itaú Private ficou abaixo --, os três superam com larga vantagem a inflação do período, que ficou em 35,84% medida pelo IPCA.
Onde estão alocados os maiores patrimônios
O Itaú Ações Dunamis FIC FI, o de maior patrimônio dentre os fundos de ações pesquisados na base da Mais Retorno, aloca os recursos na compra direta de ações e também por meio de fundos de investimento.
Pela carteira de julho, a última com acesso disponível, as maiores alocações, de um total de R$ 1,870 bilhão em ações, estavam em Rumo (RAIL3), Cosan (CSAN3), Eletrobras (ELET3), Vibra Energia (VBBR3), Suzano (SUZB3), Itaú Unibanco Holding (ITUB4), Engie Brasil Energia (EGIE3), Totvs (TOTS3), Lojas Renner (LREN3), além de outras empresas. O valor investido em ativos no exterior somava R$ 304,258 milhões.
O cenário de incertezas relacionadas à questão fiscal, que afetou a Bolsa, bateu forte no Itaú Private Multi Ações FIC FI, analisa Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos. O fundo segue uma estratégia de diversificação pela alocação de carteira em outros fundos de ações, “são de 13 a 14 fundos de investimento dentro dele”, explica Meira.
“Uma das maiores posições é em Multiplan (MULT3) em um dos fundos, mas o fundo está bem posicionado também em Alpargatas e Natura”, comenta. São segmentos e empresas que, afirma o especialista, sofreram com o agravamento do ambiente de incertezas político-econômicas. “Especialmente com as dúvidas sobre o controle de gastos e a sustentação das contas públicas por meio de uma âncora fiscal consistente.”
O fundo de ações do trio de maior patrimônio campeão do ano, até o momento, está sediado fora do eixo financeiro Rio-São Paulo. O Real Investor FIC FIA Nível I, da Real Investor Gestão de Recursos, está baseado em Londrina, onde fica toda a gestão do fundo, explica Lorena Mancini, sócia na área de Sales & IR.
Estar fora do principal circuito econômico-financeiro do País não traz desvantagem ao fundo. Pelo contrário. “O retorno do fundo vem de um time bem disciplinado, com pouco contato com outras casas, pouca troca de figurinhas”, comenta Lorena. “A gente gosta dessa independência e isso acaba refletindo na carteira, nossos papeis acabam sendo bem diferentes das teses de outras gestoras.”
Lorena diz que o foco do fundo é o investimento em ações no Brasil, mas com opção de investir também no mercado internacional. É o que explica a presença da sigla BDR (Brazilian Depositary Receipt) no nome, ativo em que o fundo pode investir pelo regulamento.
“É a opção que temos de investir no exterior, caso o cenário no Brasil se agrave”, diz Lorena. “Todos os colaboradores e sócios têm investido parte relevante do patrimônio no fundo, então vemos essa possibilidade, mas hoje a parte investida fora é pouca, em torno de 3% do portfólio”, explica.
Trabalham hoje na gestora 45 pessoas, “uma equipe muito robusta, com profissionais qualificados, que têm um horizonte de investimento de médio e longo prazo”. É um trabalho de muita consistência, cujo retorno não dá susto aos cotistas, afirma Lorena.
O fundo não faz alavancagem, consegue ter um portfólio bem diversificado, alocado em geral entre 15 e 20 papeis, explica. “Hoje temos pouco mais, porque estamos em um cenário maior de volatilidade. Nesse ambiente mais incerto, preferimos ter exposição a vários fatores de risco, para que tenham um resultado bem consistente. “A consistência do retorno é um dos fatores que têm atraído os cotistas para o fundo.”