FIDCs: fundos de crédito podem render acima da média da renda fixa; confira
Os fundos remuneram com raxa de juros, pré ou pós-fixada, e mais um prêmio sobre a Selic ou o CDI
O atual ciclo de elevação da Selic favorece também um tipo de fundo de renda fixa não tão popular, seu nome mais parece uma sopa de letras, mas os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) vêm conquistando maior espaço no mercado, e atraindo investidores por retornos diferenciados.
Como outros fundos do mercado que investem em crédito privado, o FIDC remunera o investidor com uma taxa de juros, prefixada ou pós-fixada, e uma rentabilidade adicional, o chamado prêmio, sobre a Selic ou CDI.
“Os FIDCs oferecem uma rentabilidade acima da média do mercado e financiam, ao comprar os ativos de direito creditório ou recebíveis, as empresas que não têm acesso ao crédito bancário”, explica Flávio de Oliveira, head de Renda Variável da Zahl Investimentos.
Grande parte dos recursos do portfólio são investidos em direitos creditórios, que os gestores compram com deságio. Ativos como crédito imobiliário, crédito para pessoas física e jurídica, financiamento de veículos, duplicatas, prestação de serviços ao público e entidades privadas, recebíveis do agronegócio e educacionais.
“Uma escola ou universidade particular pode vender mensalidades para o fundo, que antecipa os recursos que só chegariam ao caixa mais à frente”, diz Carlos Eduardo Benitez, CEO da BMP Money Plus.
Sobrenome dos FIDCs
As cotas dos FIDCs têm dois formatos, do tipo condomínio aberto, destinado a qualquer público ou investidor, e do tipo fechado, para atender os investidores que procuram alavancagem no mercado.
Os fundos são divididos também em duas modalidades de cota, a cota sênior e a cota subordinada. “O investidor da cota sênior já tem uma precificação de quanto vai ter de rendimento, mas a cota subordinada proporciona remuneração melhor ao cotista”, explica Benitez.
Rendimentos distintos têm razão de existir nesses fundos e estão relacionados com o risco que oferecem. Oliveira, head de Renda Variável da Zahl Investimentos, afirma que as emissoras de recebíveis são, em geral, empresas menores, portanto com mais risco de crédito e de inadimplência. “Se houver um calote, o cotista fica no prejuízo, porque a garantia é a empresa, não existe FGC (Fundo Garantidor de Crédito)”.
Esse risco é de certa forma minimizado pela fórmula de cotas, as mesmas que definem a rentabilidade ao investidor. “A cota sênior oferece menos riscos, porque tem preferência na amortização e ainda recebe proteção da subordinada”, avalia Benitez.
“A cota sênior é a cota mais resiliente, quem estiver nela será o último a sofrer os efeitos de eventual calote”, reforça Oliveira. “É a subordinada que vai pagar a conta em caso de calote.” A cota subordinada funciona como proteção aos investidores da sênior, que só passam a sofrer perdas apenas quando os recursos da cota subordinada se tornarem insuficientes para oferecer cobertura.
Aumento da remuneração e dos riscos
O interesse pelos FIDCs segue uma trajetória parecida com o de outros produtos que passaram a atrair os investidores, no processo de diversificação da carteira, quando a Selic despencou e os juros dos investimentos ficaram negativos. A rentabilidade acima da média do mercado deu atratividade aos FIDCs, que, com o ciclo de elevação dos juros, tende a continuar conquistando novos investidores e a flexibilizar as estruturas de crédito, engessadas pela grande concentração bancária, acredita Benitez.
O CEO da BMP Money Plus diz que em 2019 foram fechados R$ 8,5 bilhões em negócios com FIDCs, volume que saltou e praticamente dobrou para R$ 16,9 bilhões em 2020.
A elevação dos juros, no rastro de alta da Selic que está em 10,75% e pode ultrapassar 12%, deve fortalecer o apelo dos FIDCs, mas elevar igualmente o risco de inadimplência ou calote das empresas nesses fundos, alertam especialistas, à medida que aumenta também o custo de crédito para as tomadoras, especialmente para as de menor porte.
Um dos cuidados que o investidor precisa ter é conhecer os ativos que formam a carteira, que em geral embute risco maior que outros produtos de renda fixa, aponta Oliveira, da Zahl Investimentos.
“E importante olhar o histórico do fundo, o tipo de ativos do portfólio e a proteção na forma de porcentual que a subordinada oferece”, acrescenta Benitez. Outro ponto que merece atenção, destaca, “é uma rentabilidade mais estável, já que uma cota que não oscila muito tem mais qualidade”.