Em dia de alta generalizada, confira as ações que mais contribuíram para a recuperação da Bolsa na véspera
Setores das siderúrgicas, aéreas, da construção civil e do varejo estiveram entre os destaques
Depois de uma sequência de pregões que levaram o Ibovespa aos menores patamares desde abril, nesta terça-feira, 24, o principal índice da Bolsa de Valores brasileira, a B3, fechou em alta e recuperou os 120 mil pontos, seguindo o bom-humor no cenário externo. A recuperação no preço das commodities pelo mundo impactou as ações da Vale, Petrobras e siderúrgicas por aqui, que fecharam o dia no azul e com valorizações expressivas.
A alta na B3 foi generalizada e alguns setores que estavam sendo penalizados nos últimos dias, principalmente construção civil e consumo, se beneficiaram desse movimento. Ao longo do pregão, os investidores se mostraram animados com novos dados da China, a aprovação definitiva da vacina da Pfizer nos Estados Unidos e algumas falas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, a respeito do cenário fiscal do Brasil.
Para os próximos dias, Vitor Santos, especialista da Valor Investimentos, destaca que o mercado deve ficar volátil na espera do Simpósio de Jackson Hole, evento anual do Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) de Kansas, que acontece na próxima sexta-feira, 27. Os investidores estão na expectativa de que as falas dos dirigentes da entidade tragam alguma sinalização sobre a política monetária e manutenção, ou não, dos estímulos econômicos nos EUA, diz Santos.
Empresas ligadas à commodities brilham no pregão
Na China, há sinais de arrefecimento de covid-19 com a diminuição no número de casos e mortes. Com esse quadro e tendo em perspectiva uma retomada econômica mais acelerada no país asiático, o que aumenta a demanda por produtos, o preço das commodities disparou nesta terça-feira. Como consequência, Vale (VALE3), que compõe cerca de 13% da carteira teórica da Bolsa, fechou o dia em alta expressiva de 3,65%.
As siderúrgicas também embarcaram na mesma tendência de valorização. As ações da CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) subiram 5,35% e 3,73%. Já a Usiminas (USIM5) saltou 7,10%, estando entre as 10 maiores altas da Bolsa no pregão.
"Em um contexto geral, o contrato futuro do minério de ferro, que tem entrega em janeiro de 2022 saltou mais de 6%, e o principal motivo foi o alívio em relação a um surto de covid-19 na China", explica Vitor Santos. "O mercado estava um pouco receoso de como isso poderia impactar na demanda, sem contar que o minério vem de uma queda muito forte, de mais de 30% no último mês", explica Vitor Santos.
Petrobras (PETR4) e PetroRio (PRIO3) avançaram 2,07% e 2,14%, na sequência, seguindo o movimento de subida na cotação do petróleo.
Risco fiscal e queda na taxa de juros ajudam a bolsa
Em palestra concedida a um evento realizado pela XP Investimentos, Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, fez uma defesa enfática sobre o teto de gastos e disse que não haverá rompimento da responsabilidade fiscal. "Não vamos praticar irresponsabilidade fiscal", disse. "O Congresso não deu uma vírgula de possibilidade de que nós fôssemos romper o teto de gastos."
Lira afirmou ainda que a Reforma do IR não será votada nesta semana. "Vamos mudar a estratégia, o governo vai entrar, ficou ratificado que uma convergência é necessária", disse. Ele ressaltou que está conversando com quem tem interesse em aprovar dividendos no Brasil e que também irá fazer mais uma rodada de conversa com líderes da Câmara.
Junto às falas do parlamentar, o Tesouro voltou a antecipar a divulgação da oferta de NTN-B – títulos atrelados à inflação - para o leilão que aconteceu hoje, com lote reduzido. Iniciativa que ajudou a curva de juros a cair durante o pregão.
A antecipação do anúncio da oferta, com lotes baixos, é considerada positiva por profissionais de mercado, já que evita adicionar mais volatilidade aos negócios diante de desconforto dos investidores com incertezas nos cenários fiscal e político do País.
"Com o cenário externo tranquilo e as perspectiva de redução de risco fiscal, pelo menos no curtíssimo prazo, os ativos negociados em Bolsa que mais sofrem com o aumento na taxa de juros, viveram neste pregão um movimento contrário, através de uma forte recuperação", afirma André Querne, sócio da Rio Gestão. Para ele, construção civil e varejo são os setores mais impactados pelo sobe e desce na curva de juros.
Varejo e construção civil sobem com cenário interno
Na lista das 10 maiores altas da B3 nesta terça-feira, três empresas são do setor de construção e duas de varejo, acompanhando a redução na curva de juros e as melhores perspectivas em relação ao risco fiscal.
De acordo com Querne, as empresas de construção civil sofrem com o aumento de juros no longo prazo pelo encarecimento do financiamento imobiliário. O especialista ressalta ainda que as ações das empresas do setor estão bastante descontadas, com muitas quedas recentes. Dessa forma, quando há um alívio na curva de juros, qualquer avanço se torna mais acentuado.
Liderando as altas do dia vem a Cyrela (CYRE3), que disparou 12,32% no pregão. Pedro Palmezani, analista CNPI da CM Capital destaca ainda que a companhia e o setor de construção como um todo se beneficiaram após o Bradesco Investimentos reforçar a recomendação de compra das ações da Cyrela.
Na mesma onda surfaram os papéis da Eztec (EZTC3) e MRV (MRVE3), que recuperaram as perdas dos últimos dias e avançaram 10,60% e 6,64%, respectivamente.
Helder Wakabayashi, especialista de investimentos da Toro, considera que essas empresas podem estar sentindo o efeito positivo da divulgação de seus resultados trimestrais. Com o cenário instável das últimas semanas, não houve tanto espaço para a apreciação desses papéis após o desempenho positivo apresentado pelas companhias. No entanto, o ambiente mais tranquilo desta terça abriu espaço para uma valorização dos papeis.
Também em movimento de correção para cima e acompanhando a redução da curva de juros estão as empresas ligadas ao consumo. No último pregão, os papéis da Lojas Americanas (LAME4) e Americanas (AMER3), que vêm de um mês marcado por quedas expressivas, saltaram 11,80% e 9,69%, recuperando parte das perdas.
Outras companhias do setor viram suas ações registrarem forte avanço. Magalu (MGLU3) e Via Varejo (VIIA3) subiram 6,12% e 4,62%, na sequência.
Vacinação favorece companhias aéreas e a bolsa
A Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, a Anvisa norte-americana) anunciou, pela primeira vez, a aprovação integral - não mais apenas emergencial - da aplicação da vacina contra a covid-19 em maiores de 16 anos. O imunizante produzido pela Pfizer, em parceria com a BioNTech, recebeu a concessão.
Com a notícia do órgão regulador e as próprias informações de avanço da vacinação pelo mundo, as empresas de aviação e turismo viveram um pregão de forte valorização na Bolsa de Valores brasileira. Helder Wakabayashi ressalta ainda a informação vinda da Espanha, de que o país europeu vai abrir as fronteiras para turistas vacinados com a Coronavac.
Nesse caldo, as aéreas e empresa ligada a turismo encabeçaram quatro das 10 maiores altas do dia na Bolsa. Gol (GOLL4) subiu 10,96%; Embraer (EMBR3), 8,12%; Azul (AZUL4),729%; e CVC (CVCB3), 6,37%.