Adiamento da reforma do IR pode ter efeito negativo nos mercados nesta 4ª feira
Tema influencia a condução das contas públicas e preocupações aumentam como equilíbrio fiscal
A retirada da proposta de reforma do Imposto de ]Renda da pauta da Câmara na noite anterior tende a reforçar o mau humor dos investidores e pesar nos mercados nesta quarta-feira, 18.
O adiamento do debate e da definição de um tema que influencia a condução das contas públicas adiciona mais incerteza às preocupações do mercado financeiro com o equilíbrio fiscal, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Para Camila, o tema é relevante porque tem ligação com programas sociais como a criação do Auxílio Brasil, com valor superior ao do Bolsa Família, no qual o governo tem o desafio de deixar claro que novas despesas não vão desrespeitar as metas de responsabilidade fiscal.
O risco de descontrole fiscal pelo estouro do teto de gastos é um dos principais fatores de inquietação de investidores e gestores de mercado.
A indisciplina fiscal tenderia a gerar mais inflação, que persiste em alta e leva o mercado a fazer seguidas revisões para cima também da taxa básica de juros, a Selic.
À medida que sobem a inflação e os juros, aumenta a pressão também sobre os juros futuros, que nos contratos mais longos de 10 anos estão acima de 10% ao ano, afirma Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.
Dados econômicos americanos
Essa aceleração dos juros futuros, segundo o gestor da Galapagos, “acaba tirando um pouco o apetite pela Bolsa e levando o investidor da renda variável para a renda fixa onde, com menor volatilidade, fica travado nesse retorno pelos próximos dez anos”.
Outro fator de volatilidade nesta quarta-feira, fora os que provocaram forte turbulência no mercado financeiro ontem, pode ser a divulgação do índice de preços ao consumidor americano de julho.
A estimativa consensual do mercado é de uma elevação de 0,50%, na comparação com junho, e um resultado acima dessa projeção, de acordo com analistas, poderia acirrar o debate em relação à antecipação da alta dos juros ou a mudanças na política de estímulos monetários.
Expectativas de mudança na política monetária americana provocam instabilidade nos mercados, em geral com pressão de baixa sobre a Bolsa de Valores e de alta sobre o dólar.
Reforma do IR: novo adiamento
Pela segunda vez, a reforma do Imposto de Renda foi retirada do debate do plenário da Câmara, após mobilização de líderes de centro, oposição e até do governo preocupados com o impacto fiscal do texto do deputado Celso Sabino para Estados e municípios. Um pedido de retirada de pauta foi aprovado por 399 a favor do adiamento contra 99.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, voltou a dizer que é impossível se chegar a um consenso sobre o tema e que queria votar o texto principal da reforma ainda no dia anterior e deixar os destaques - pedidos de alteração ao texto - para depois.
CPI da Covid
Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado seguem sendo monitorados pelo mercado. Na véspera, o colegiado ouviu o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Marques.
Marques assumiu a autoria de um documento interno apontando suposta supernotificação de mortes por covid-19 no Brasil, usado pelo presidente Jair Bolsonaro para questionar o número de óbitos. Ele admitiu que as informações não eram oficiais e que não apontavam para conclusões sustentadas.
O auditor relatou que seu pai, Ricardo Silva Marques, foi quem encaminhou o levantamento ao presidente. Além disso, o depoente indicou que o documento foi adulterado antes de ser usado por Bolsonaro.
Para integrantes da CPI, o chefe do Planalto cometeu crime ao usar o documento modificado atribuindo falsamente um caráter oficial ao levantamento paralelo.
NY: futuros estáveis
Nos Estados Unidos, os contratos futuros das bolsas de Nova York operam próximos da estabilidade com os investidores em compasso de espera sobre a divulgação da ata da última reunião do Fomc (Copom americano) que acontece ao longo do dia e dos novos dados econômicos.
O documento deve trazer indícios de quando o BC americano poderá começar a reduzir compras de ativos e a considerar a hipótese de elevar juros, depois de estimular a economia agressivamente em reação à pandemia de covid-19.
Na véspera, durante sessão de perguntas e respostas, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, afirmou que ainda é incerto o impacto da variante delta do coronavírus sobre a atividade, e disse que não será possível "simplesmente retornar" à economia do período pré-pandemia.
Segundo Powell, a covid-19 ainda afeta a produtividade do país e deve continuar a fazê-lo "por algum tempo".
Para a BMO Capital Markets, a ata da reunião de julho do Fomc virá com certo atraso, dada à incerteza recente provocada pelo recrudescimento da pandemia de covid-19, em meio à disseminação global da cepa delta, inclusive nos EUA.
De qualquer forma, "investidores estarão procurando detalhes sobre o ritmo da redução gradual das compras de ativos e a data de início do tapering, que suspeitamos não estar iminente", conclui a casa.
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas asiáticas fecharam em alta, recuperando-se de perdas da véspera, com investidores à espera de uma atualização do Fed sobre possíveis planos de reduzir estímulos monetários.
O índice acionário japonês Nikkei subiu 0,59% em Tóquio hoje, aos 27.585,91 pontos, beneficiado pela fraqueza do iene frente ao dólar durante a madrugada, enquanto o Hang Seng avançou 0,47% em Hong Kong, aos 25.867,01 pontos.
O sul-coreano Kospi valorizou 0,50% em Seul, aos 3.158,93 pontos, e o Taiex registrou ganho de 0,99% em Taiwan, aos 16.826,27 pontos.
Na China continental, o Xangai Composto teve alta de 1,11%, aos 3.485,29 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,84%, aos 2.412,49 pontos.
Bancos e corretoras lideraram o movimento, com crescentes expectativas de que Pequim adote novas medidas de incentivos após recentes sinais de desaceleração econômica.
Na Oceania, a bolsa australiana contrariou o tom positivo dos mercados asiáticos, pressionada após Nova Gales do Sul, Estado mais populoso do país, relatar número recorde de novos casos de infecção pelo coronavírus. O índice S&P/ASX 200 caiu 0,12% em Sydney, aos 7.502,10 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado