Em 2021, Bolsa registra 46 IPOs, mas 41 aconteceram até julho; veja por que o ritmo desacelerou nos últimos meses
Total de IPOs nesse ano só perde para 2007, quando houve 64 ofertas públicas
Depois de um movimento fraco em 2020, por conta da pandemia, a Bolsa de Valores brasileira, a B3, viveu um "boom" de IPOs (ofertas públicas iniciais, na tradução) nesse ano. Até aqui, 46 empresas já fizeram sua estreia na Bolsa, movimentando quantias bilionárias para o mercado de ações do País.
A imensa maioria dessas ofertas, no entanto, se concentrou no primeiro semestre de 2021: 41 das empresas que foram listadas na B3 neste ano, estrearam até julho. Nos últimos três meses, em meio a um cenário político de incertezas, perspectivas de risco fiscal, inflação alta e taxa de juros subindo, apenas cinco companhias lançaram suas ações na Bolsa, enquanto simplesmente outras adiaram seus IPOs.
João Daronco, analista da Suno Research, explica que, na primeira metade do ano, as perspectivas eram "muito positivas para a economia brasileira", com sinais de uma retomada econômica após o primeiro ano de pandemia de covid-19. Porém, segundo o especialista, com o passar dos meses, o "clima mudou muito", trazendo mais aversão ao risco por parte dos investidores nacionais e estrangeiros.
Cenário macroeconômico
Em um cenário de inflação alta, a população com sua renda corroída, o que impacta diretamente os níveis de consumo e, consequentemente, o crescimento previsto para companhias de diversos segmentos, especialmente as voltadas ao mercado doméstico.
Simultaneamente, o Banco Central (BC) entrou em cena com instrumentos de política monetária para tentar controlar a escalada dos preços, elevando os juros. Com a Selic em alta, os títulos de renda fixa ganharam musculatura, passaram a remunerar mais e a exercer maior concorrência à renda variável. Somam-se a isso as incertezas em relação ao controle fiscal do País, e à aprovação de projetos do governo federal pela Câmara e o Senado.
Nesse contexto, os investimentos mais seguros - como os títulos de renda fixa - ganharam espaço com o investidor tentando proteger seu patrimônio contra a volatilidade dos mercados e a desvalorização do mercado.
Embora o cenário interno pareça o principal "vilão" impedindo um melhor desempenho do Ibovespa nos últimos meses, Daronco lembra que muitas questões globais alimentaram a aversão ao risco nos mercados internacionais. Em consequência, a tendência é que os investidores estrangeiros busquem ativos mais seguros (como o dólar, considerado uma moeda forte), o que penaliza mercados emergentes, como o Brasil.
No relatório mensal apresentado pela Verde Asset, uma das principais gestoras do Brasil, sobre o seu fundo de investimento Verde AM Ações, a instituição ressalta que as questões externas pesaram mais sobre o Ibovespa em setembro do que o cenário doméstico.
"Novos choques de oferta no mundo, como a crise energética na China, aumentam a preocupação com inflação e contribuem para a abertura da curva de juros dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que retardam a retomada econômica global. Além disso, a crise da gigante Evergrande acende o alerta para o risco de desaceleração do mercado imobiliário chinês", afirma a gestora.
Foi neste cenário que algumas companhias - como a Privália, em julho, e a Humberg Agribrasil, em agosto - suspenderam seus IPOs, esperando por um momento mais oportuno na Bolsa brasileira.
Perspectivas futuras para os IPOs
Apesar da desaceleração no movimento de estreias na Bolsa, o sócio-diretor da Fortezza Partners, Denis Morante, destaca que 2021, por enquanto, é o segundo ano com o maior número de IPOs da história, atrás apenas de 2007, quando houve 64 ofertas públicas.
Além das empresas que já foram listadas na B3, há também dezenas de outras companhias que entregaram seu prospecto preliminar e estão em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O especialista considera que muitas dessas empresas aguardando uma aprovação são "excelentes" e que há janelas para que elas estreiem na Bolsa entre o final de 2021 e começo de 2022.
Em relação ao desempenho dos papéis das companhias que fizeram seus IPOs neste ano, Morante afirma que o mais importante da oferta pública inicial são as captações bilionárias e como as empresas estão aproveitando esses recursos para crescerem e se solidificarem no mercado brasileiro.
"Se houve uma queda ou um avanço nas ações desde a emissão, isso é de baixa relevância. São empresas novatas no mercado, tendem a ganhar a confiança do investidor e, a partir daí, o preço vai refletindo o desempenho", explica o especialista da Fortezza Partners.
João Daronco compartilha da mesma opinião e complementa dizendo que "um ano é pouco tempo para avaliar se o IPO está se pagando". O analista considera que o horizonte desse tipo de investimento é um pouco mais longo. Assim, o investidor deve acompanhar, no primeiro momento, como a empresa está empregando os recursos angariados com a oferta pública, a fim de que as decisões promovam um crescimento sustentável para a companhia e, consequentemente, suas ações.
Feitas as considerações dos analistas, vale destacar que, de acordo com um levantamento da Nord Research, mais da metade das empresas que estrearam na Bolsa em 2021 reportaram uma variação negativa em seus papéis até o fechamento do último pregão de setembro. Reflexo do mês difícil para os mercados acionários ao redor do mundo, inclusive no Brasil.