Dos 5 fundos multimercado mais agressivos do mercado, 3 estão negativos no ano e 2 são de criptomoedas; veja quais são
Fundos de cripto caem mais de 62% neste ano; bitcoin despenca 60% no mesmo período
Entre os 5 fundos multimercado mais agressivos e voláteis do mercado, três estão no vermelho em 2022, e dois deles são de criptomoedas. É sabido que o ano tem sido cruel para os criptoativos, o bitcoin, a mais popular das moedas digitais, amarga uma queda de 60% no ano. A alta dos juros e a retração dos investimentos pelo mundo têm castigado as empresas de tecnologia em geral, e as ligadas às criptos não escaparam.
O Hashdex Bitcoin FIC FIM, que carrega uma volatilidade média de 63,40% em 12 meses, acumula uma rentabilidade negativa de 62,48% no ano; e o Vítreo Criptomoedas FIC FIM Investimento Exterior, com volatilidade de 56,41%, um rendimento negativo de 63,00%. Seguem, portanto, de muito perto a queda do Bitcoin.
Mas a queda das criptomoedas em si não explica tudo sobre a má performance dos dois fundos com desvalorização acima de 62% no ano. A queda é resultado direto da concentração, alocação 100%, em determinado ativo e na ponta comprada, explicam especialistas.
Risco e volatilidade nos fundos multimercado
Risco e volatilidade é uma combinação que acompanha o mercado de investimentos. Convencionou-se que é preciso correr riscos, em geral associados à maior volatilidade, em busca de melhores retornos. Mas nem sempre maior volatilidade se materializa em ganhos atraentes.
Estão nessa categoria os cinco fundos multimercado mais agressivos e voláteis capturados em levantamento no banco de dados da Mais Retorno. Além dos dois de cripto o terceiro (Itaú Seleção) que está no vermellho tem ativos internacionais, no portfólio, perto de 50%, também negativo. Só dois estão no azul.
Fundo | Volatilidade (12 m) | Rend. 2022 | Rend. 12 meses |
---|---|---|---|
Hashdex Bitcoin FIC FIM | 63,41% | -63,05% | -59,12% |
Vitreo Criptomoedas Inv. Ext. | 56,42% | -61,48% | -56,11% |
Chess Alpha | 62,40% | 26,81% | -2,04% |
Alpha Key Ações | 29,72% | 5,11% | -12,70% |
Itaú Sel. Morgan Stanley Adv. | 45,70% | -50,92% | -54,17% |
“Impossível obter bom retorno sem correr risco”, comenta Pedro Tiezzi, especialista em alocação de recursos da SVN, mas nem sempre mais risco conduz a maior ganho. Para ele, são basicamente dois os riscos que o gestor corre para rentabilizar bem o cotista, “a volatilidade (oscilação das cotas) e o risco de crédito dos ativos em portfólio”.
É o que ocorre, de forma mais acentuada, em fundos de criptomoedas. Os dois de maior volatilidade, pela pesquisa da Mais Retorno, entregam também o pior retorno. Mas as perdas dentre os mais voláteis não estão restritas aos fundos com carteira alocada em criptoativos.
As performances negativas atingem também fundos ancorados em outras estratégias. O Itaú Seleção Morgan Stanley US Advantage Equity USD Multimercado IE FIC FI, com volatilidade de 45,98% em 12 meses, acumula uma rentabilidade negativa de 48,44% no ano.
O Chess Alpha FIC FIM, com uma volatilidade de 62,39%, a segunda mais elevada entre o quinteto dos fundos mais voláteis, está no azul. Sua performance no ano está em 12,35%, superior à do Alpha Key Ações FIC FI, que com volatilidade de 29,72% em 12 meses, é outro que entrega rentabilidade positiva, de 2,22% no ano.
Rendimento negativo em 12 meses
No período de um ano, nenhum dos 5 fundos multimercado consegue rentabilidade positiva, o que menos perde é o Chess Alpha, e a maior queda é do Hashdex Bitcoin.
Acompanhe o que esses fundos multimercado têm em sua carteira:
Hashdex e Vitreo
O Hashdex Bitcoin FIC FIM e o Vitreo Criptomoedas FIC FIM Investimento Exterior são fundos que operam basicamente com criptoativos, afirma Tiezzi, especialista em alocação de recursos da SVN. “São ativos que passaram por vários choques quando o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) começou a aumentar os juros americanos.”
A persistente perda de valor dos criptoativos desde meados do primeiro semestre, na esteira desses choques (recheados de idas e vindas de expectativas sobre a política monetária americana), tem impactado com força esses fundos com a carteira alocada em criptomoedas.
Embora o portfólio do Hashdex Bitcoin e do Vitreo Criptomoedas esteja exposto quase que integralmente a criptomoedas, parcela minúscula dos recursos é alocada também em Letras Financeiras do Tesouro (LFT). São ativos de alta liquidez que atendem rapidamente aos pedidos de resgate.
Itaú Seleção
O Itaú Seleção Morgan Stanley US Advantage Equity USD Multimercado IE FIC FI é um fundo long only (estratégia que opera apenas com posição comprada) que aloca o portfólio em cerca de 40 ações negociadas na bolsa americana. Parte preponderante da carteira é formada por ativos de companhias ligadas ao setor de tecnologia, negociados na bolsa Nasdaq.
Para especialistas, essa composição de carteira reforçou a volatilidade e impactou a rentabilidade, já que as empresas de tecnologia foram as que mais sofreram com o cenário de inflação e juros em alta nos EUA.
Chess Alpha
O Chess Apha FIC FIM tem estratégia distinta à do Itaú Seleção Morgan Stanley. Detentor da segunda maior volatilidade nesse grupo, com 62,39%, o fundo trabalha com uma carteira direcionada aos ativos locais.
O gestor, Vicente Matheus Zuffo, explica que “o fundo continua com posições bem investidas no Brasil, comprado em uma cesta de ações brasileiras e vendido em dólar, com posições alavancadas nos dois ativos”.
Pelo jargão do mercado financeiro, o fundo está apostando na valorização das ações e na desvalorização da moeda americana perante o real. Uma estratégia turbinada até mesmo com capital extra, fora do patrimônio juntado com os recursos dos cotistas, incluído o de sócios da gestora.
Zuffo afirma que a forte volatilidade do fundo, quase alinhada com a dos fundos de criptomoedas, reflete o movimento de mercado, potencializado pela alavancagem. “A alavancagem aumenta o retorno do fundo, tanto para cima como para baixo, na comparação com a variação dos índices, no caso o Ibovespa e o dólar”, explica. “Quanto maior a variação do retorno, maior a volatilidade.”
Alpha Key
O Alpha Key Ações FIC FIA é um fundo que busca retornos acima do benchmark, o CDI, com uma seleção de papeis de empresas listadas majoritariamente na B3.
As oportunidades ao investidor
Os fundos de maior volatilidade são, em função dessa oscilação mais acentuada das cotas, os que oferecem também mais pontos de entrada para o investidor. “A oportunidade de entrar com bom preço em um fundo aparece em momentos de maior volatilidade no mercado”, observa o especialista em alocação da SVN.
É o que ocorre, com mais intensidade, em fundos de criptomoedas. Tiezzi diz que a forte volatilidade nesses fundos não gerou apenas perdas, mas também ganhos ao investidor. “Quem, em uma estratégia bem-sucedida, entrou no ponto bom, de baixa dos ativos, e saiu na hora certa, de alta, ganhou.”
Ele não deixa de destacar, contudo, o lado B dessa estratégia. “Quem entrou na hora errada, de alta, e saiu quando não devia, no momento de baixa, se machucou com a volatilidade.”
Uma maneira de evitar decisões precipitadas, fora de hora, é evitar ficar ligado à variação diária das cotas, nos fundos que marcam as cotas dia a dia. “O investidor brasileiro olha muito o curto prazo, quando os fundos têm períodos longos de maturação para chegar à rentabilidade.”
Os fundos que marcam a cota diariamente tendem a deixar o investidor mais e muito estressado, diz. “Quanto mais longo o prazo de investimento, menos a volatilidade tende a prejudicar o cotista, porque mostra mais o resultado da gestão ativa de quem está à frente do fundo.”
“O ponto central é acertar muito mais o gestor do que a data que vai investir”, destaca o especialista da SVN. Quanto maior a volatilidade, lembra, mais necessidade se tem de investir pensando no longo prazo.