Como funciona a curva de juros e como influencia no atual momento financeiro no Brasil?
A curva de juros é uma ferramenta fundamental na gestão de risco e tomada de decisões no mercado financeiro.
A curva de juros é uma ferramenta fundamental na gestão de risco e tomada de decisões no mercado financeiro. Já ouviu falar nela? Ela é influenciada por diversos fatores econômicos, políticos e sociais e além disso, também pode afetar a economia de um país inteiro de diversas formas.
Por exemplo, no nosso país, a curva de juros tem chamado bastante atenção nos últimos anos, especialmente no contexto da crise econômica e política que o país enfrentou recentemente e de como o desempenho da economia está penando para voltar aos patamares desejados.
Mas, como a curva de juros funciona? E qual a sua influência no mercado financeiro? Para entender cada ponto de uma vez por todas, vamos explorar as respostas a seguir. Desta forma, você pode aperfeiçoar a sua análise econômica e ter uma visão melhor sobre o que está acontecendo no Brasil.
O que é a curva de juros?
A curva de juros representa a relação entre as taxas de juros e o tempo, assim como o prazo dos títulos públicos de um país. Em outras palavras, é um mecanismo que mostra quanto os investidores estão dispostos a pagar para emprestar dinheiro para o governo em diferentes períodos de tempo.
A ferramenta também é conhecida como curva a termo ou yield curve. Pode ser compreendida como as estimativas dos rendimentos médios de títulos públicos prefixados sem cupom, que quer dizer sem pagamentos semestrais, e é dada a partir dos contratos futuros de juros, ou DI.
Sendo assim, os contratos futuros simbolizam o compromisso de compra ou venda de determinado ativo em uma data e preço determinados. Por exemplo, neste caso, os acordos negociados na Bolsa de Valores brasileira (B3) são atrelados à taxa DI e a curva é feita por meio das remunerações fixadas pelo mercado nestas negociações.
No Brasil, a curva de juros é geralmente representada pelo gráfico que mostra as taxas de juros dos títulos públicos do Tesouro Nacional em vários prazos, que vão desde os títulos mais curtos, como as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), até os títulos mais longos, como as NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional Série B).
Resumindo de forma prática, ela mostra como a taxa de juros cresce à medida que o prazo de uma dívida aumenta. O seu formato é proporcional e pode separar economias mais saudáveis de outras não tão saudáveis assim.
A curva de juros é muito utilizada para avaliar as expectativas do mercado em relação à inflação, políticas monetárias e crescimento econômico.
E como funciona?
Como falamos logo acima, a curva de juros é vista como uma indicação das condições econômicas atuais e também das previsões para o futuro, como se fosse um termômetro do cenário que reflete o que pode acontecer e quais as perspectivas dos investidores e agentes sobre o crescimento econômico, política monetária e a inflação.
Quando ela está inclinada para cima quer dizer que as expectativas de crescimento econômico estão fortes, que há uma esperança de baixa inflação e políticas monetárias mais restritivas.
Já quando a curva está plana ou invertida indica que as expectativas são de baixo crescimento econômico, uma inflação alta e políticas monetárias bem transigentes. Claro que pode ser influenciada por outros fatores, percepção do risco pelos investidores, demanda por empréstimos e disponibilidade de crédito, por exemplo.
O resultado é uma representação visual e gráfica dessa relação e fornece informações preciosas sobre as condições e o panorama econômico atual e futuro. Por isso, há vários tipos de curvas de juros. As mais comuns são:
- Curva normal
- Fortemente inclinada
- Curva flat
- Plana
- Curva invertida
Entenda cada tipo de curva
Depois de saber melhor o que é e como funciona, veja a seguir cada tipo de curva e quais as suas principais características.
1. Curva normal
É a mais comum, acontece quando a taxa de juros cresce à medida que o prazo de uma dívida aumenta. Neste caso, a curva representa as expectativas de um crescimento econômico saudável, com uma baixa inflação e políticas monetárias restritivas.
2. Curva fortemente inclinada
Já a curva fortemente inclinada é uma variação da curva normal, quando a inclinação é muito acentuada. Isso quer dizer que as estimativas de crescimento econômico são muito fortes, o que pode ser interpretado como um momento em que o governo esteja passando por dificuldades para financiar seu déficit em longo prazo.
3. Curva flat
No caso desse tipo de curva, a taxa de juros varia pouco em relação ao prazo da dívida, ou seja, as taxas de longo prazo estão mais próximas das taxas de curto prazo. Sendo assim, pode indicar um momento de incertezas econômicas ou até de expectativas de inflação elevada. São épocas em que os agentes econômicos e os investidores não sabem muito bem se a economia será inflacionária ou recessiva no futuro.
4. Curva plana
Por outro lado, a curva plana pode ser entendida como uma variação da curva flat, quando a taxa de juros é praticamente a mesma em todos os prazos. Isso indica que há expectativas de inflação elevada ou problemas econômicos por vir.
5. Curva invertida
A curva invertida é um indicador financeiro que acontece quando as taxas de juros a curto prazo acabam sendo maiores do que as taxas de juros a longo prazo. Tal momento é considerado incomum e também pode ser interpretado como um sinal de uma economia fraca ou uma expectativa de que haja inflação no futuro. Além disso, esse tipo de curva é visto como um indicador de recessão econômica.
Saber a diferença dos tipos de curva e perceber que as curvas de juros podem mudar, como inverter e depois retornar ao normal, é importante na hora de tomar alguma decisão que envolva o seu bolso.
Por que não analisar pela taxa básica de juros, a Selic?
A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia e também a mais popular de todas as taxas. É o principal instrumento da política monetária à disposição do Banco Central para controlar a inflação, sendo também um ótimo indicador de como está a economia brasileira.
Por mais importante que seja, a Selic é uma taxa que funciona como uma meta estipulada em um determinado momento. Ou seja, não reflete necessariamente as taxas praticadas pelo mercado, se consolidando mais como um referencial.
Outro ponto que faz com que não se analise a curva de juros pela taxa Selic é porque é uma ferramenta de curto prazo. Portanto, toda problemática e os riscos de prazos mais longos não são inclusos e refletidos dentro da própria política monetária do Banco Central.
Já que a curva de juros expressa a taxa de juros média que é esperada em períodos diferentes, refletindo assim, o valor do dinheiro do tempo, mostra por qual remuneração os agentes de mercado e investidores estão dispostos a emprestar seu dinheiro para os mais diversos períodos.
Portanto, a forma mais eficiente de elaborar é através dos contratos de juros futuros. A principal finalidade do mercado futuro de DI é justamente a proteção contra a volatilidade e oscilação das taxas de juros internas, que também é conhecida como hedge.
Um exemplo é que os investidores com ativos prefixados e empresas com dívidas indexadas ao CDI ao correrem o risco da subida das taxas de juros, podem optar por abrir uma posição comprada no mercado futuro para ganhar com a alta nos juros. Ou seja, podem conseguir compensar as possíveis perdas com a movimentação das taxas.
Além do hedge, também há outras operações que envolvem o DI futuro que representam a especulação, em que a pessoa toma uma posição no mercado futuro sem outra posição segura. O intuito seria de alavancar os lucros com as tendências de preços e arbitragem, visando aproveitar as diferenças de preços de um ativo negociado em diferentes mercados.
Analisar através dos contratos futuros de DI é uma forma de garantir a maior visibilidade aos investidores, deixando a dinâmica de juros no futuro cada vez mais nítida, já que o objetivo é indicar tendências econômicas, que inclusive fornecem os parâmetros da direção da taxa Selic.
Influência dos fatores externos na curva de juros
Para refletir o valor do dinheiro do tempo, a curva acaba tendo interferência de diversos fatores como a política monetária do Banco Central, a inflação, as expectativas dos investidores e não podemos esquecer da mais importante: a situação econômica do país.
Então, quando o Banco Central eleva a taxa de juros, isso tende a aumentar as taxas de juros ao longo prazo, uma vez que os investidores passam a poder exigir um prêmio maior para emprestar o seu dinheiro por um período mais longo.
Já por outro lado, quando a inflação está em patamares baixos e a economia está em um momento de crescimento, os investidores tendem a aceitar mais as taxas de juros baixas em troca de um retorno proporcionalmente maior no futuro.
Como já dá para imaginar, há muitos fatores que impactam a curva de juros. A lógica para entender é simples, quanto maior for o prazo, maior será a incerteza em relação à sua evolução. Confira abaixo alguns dos principais pontos de influência:
- Política monetária: as decisões da autoridade monetária e do Banco Central fazem a diferença, como aumentar ou diminuir as taxas de juros que influenciam a curva.
- Expectativas do mercado: as expectativas do mercado como um todo e as condições futuras da economia contribuem para o desempenho.
- Expectativas de inflação: é um dos mais importantes indicadores da economia de um país. Se as expectativas de inflação estão altas, as taxas de juros a longo prazo também podem aumentar, resultando em uma curva mais inclinada.
- Risco de mercado: o risco de mercado possui a capacidade de fazer com que as taxas de juros subam, ainda mais para ativos de maior risco.
- Demanda por ativos: a procura por ativos de longo prazo, como títulos públicos do governo, pode afetar as taxas de juros quando pensamos no longo prazo.
- Condições econômicas: indicadores gerais como a saúde da economia, crescimento econômico e o desemprego, podem influenciar também.
Qual o impacto da curva de juros no atual momento financeiro no Brasil?
Como falamos lá no começo, no Brasil, a curva de juros é um objeto de estudo e atenção. Agora, vamos pincelar qual momento estamos e qual o impacto disso tudo na curva de juros.
Por exemplo, em 2020, o Banco Central reduziu a taxa básica de juros para um patamar histórico de 2,00% ao ano, para tentar estimular a economia em meio ao caos da pandemia da Covid-19. Mas não demorou muito para a atividade econômica sentir e a inflação começar a subir, pressionando a curva de juros.
Uma das consequências foi o Banco Central elevar a Selic gradualmente ao longo de 2021, chegando a 5,25% em setembro. Depois, fixou-se em um patamar tão alto quanto o que está até hoje, em 13,75% ao ano.
Essa elevação da taxa de juros influencia outros setores da economia brasileira. Por mais que possa ajudar a conter a inflação, é um problema persistente por outro lado, já que desacelera o crescimento econômico e aumenta os custos de financiamento para empresas e consumidores.
Além disso, a alta da Selic e inflação acumulada nos últimos 12 meses em 4,65% diminui o poder de compra das pessoas, fazendo com que haja menos dinheiro em circulação na economia e uma migração dos investidores da renda variável para a renda fixa.
Investimentos como Tesouro Selic, Tesouro IPCA e CDB atrelado ao CDI ganham espaço na carteira diversificada, por conta da alta rentabilidade nesses momentos e da segurança. Enquanto isso, as aplicações em fundos e bolsa tendem a cair por serem ativos que sentem mais as oscilações de mercado.
A curva de juros influencia de forma direta o mercado financeiro, ainda mais o mercado de títulos públicos, que é um dos principais instrumentos de financiamento do governo brasileiro para que possa bancar seus projetos e operações.
Se as taxas de juros sobem, o custo de financiamento da dívida pública também sobe. Tal movimento pode levar o governo a buscar outras fontes de financiamento ou procurar cortar gastos, por exemplo.
O que esperar daqui para frente?
Depois da última reunião, no dia 3 de maio de 2023, em que o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75%, emitiram um comunicado que avaliou que o momento requer “paciência e serenidade na condução da política monetária”.
Além disso, a equipe também ressaltou que poderá “retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. O que quer dizer que poderá voltar a aumentar a taxa de juros em outro momento, se for mesmo necessário.
Diferente das outras reuniões, desta vez, o Copom reconhece que vivemos um “cenário menos provável”. Vale lembrar que eles se reúnem a cada 45 dias para definir a taxa básica de juros da economia.
Essa é a terceira reunião do grupo durante o governo Lula e a próxima já está marcada para os dias 20 e 21 de junho. É a sexta vez seguida em que o comitê decide pela manutenção da taxa em alta.
A previsão de muitos especialistas é que os patamares só comecem a cair em 2024 para frente. Nos últimos meses, o movimento dos juros futuros (DI) mostra o pé no freio dos investidores sobre o cenário, principalmente por conta da política fiscal.
O futuro da curva de juros
De acordo com um levantamento feito pelo economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel, para o CNN Money, a curva de juros futuros mostra que a taxa está em 13,678% em janeiro de 2023, subindo pouco e já começando a cair lentamente em 2024 até atingir 12,862% no começo de 2031.
Mas após as eleições e com a aprovação da PEC da Transição que prevê quase R$ 200 bilhões a mais de gastos públicos em 2023, houve a correção para uma piora na expectativa para os juros.
Nos últimos meses, considerando o final de 2022 e começo deste ano, a curva longa dos juros subiu mais de 1 ponto percentual. Esse movimento é considerado muito forte e ainda com impactos na perspectiva do desempenho de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Estimativa do IPCA, PIB e Inflação
Outro ponto para ficar de olho daqui para frente é o IPCA, PIB e inflação. Na segunda-feira (8), os especialistas reduziram as perspectivas para a inflação neste ano e no próximo, a boa notícia é que ainda está acima da meta, de acordo com a pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central.
Agora, a estimativa para a alta do IPCA em 2023 é de 6,02%, contra 6,05% na semana anterior. Essa é a primeira redução depois de cinco semanas seguidas de altas. Já para 2024, foi reduzido em 0,02 ponto percentual, com a inflação calculada em 4,16%.
Os próximos anos, para 2025 e 2026 as projeções seguem em 4,0%. Enquanto o centro da meta oficial para a inflação em 2023 é de 3,25% e para 2024 e 2025 é de 3,00%, a tolerância ainda é de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O Produto Interno Bruto (PIB) ficou com a estimativa de crescimento em 2023 em 1,0%, e para 2024, recuou 0,01 ponto percentual a 1,40%. A pesquisa também mostrou que a taxa básica de juros Selic deve fechar este ano a 12,50% e o próximo a 10,0%.
Por isso, ter cautela na hora de investir e estar bem informado são seus aliados agora.