Com economia brasileira mais fraca, gestores de fundos macro deslocam ativos para mercados da Ásia e americano
Objetivo é evitar riscos relativos ao mercado doméstico como ameaças ao ajuste fiscal, inflação em alta e ruídos políticos
A percepção de que a economia brasileira deve apresentar um desempenho mais fraco, com a retração do IBC-Br de agosto, e de que o eixo do crescimento econômico global se desloca para os países da Ásia está levando os gestores de fundos macro a rever a alocação de ativos, e a olhar cada vez mais as oportunidades em mercados do outro lado do mundo.
Pela sua condição de segunda maior economia do mundo e em contínua expansão, ainda que agora em ritmo mais lento, a China é um dos principais polos de atração, ao lado dos Estados Unidos, de gestores que alocam recursos dos fundos em ações e multimercado.
Olhares voltados para o Oriente
Em setembro, a asset WHG estreou um produto macro da China, um fundo com carteira mista formada metade por ações e metade por títulos de renda fixa chineses.
O WHG China Macro FIC FIM CP é exposto ao risco da China, explica Vítor Paulino, sócio responsável pelo comercial da Asset WHG. O fundo, chamado de kit chinês, aplica em títulos de renda fixa e ações na China, considerado a melhor forma de exposição àquele país asiático, “porque a composição de carteira com renda fixa, uma espécie de hedge, compensa eventuais perdas com ações”.
Essa exposição à China carrega outra vantagem, segundo Paulino, o fato de que os capitais chineses costumam fluir entre as classes de ativos, sem deixar o país.
O valor da aplicação mínima inicial é R$ 5.000; a taxa de administração, 1,95% ao ano; a taxa de performance, 20% sobre o que exceder ao CDI; o saldo de permanência, R$ 5.000, também o valor de movimentação.
Fundo macro da Gauss tem exposição à bolsa japonesa e americana
O fundo macro da Gauss Capital é outro voltado para as oportunidades orientais. Ele mantém posições compradas em bolsa japonesa, além de ativos nas bolsas americanas, apostando na valorização das ações locais.
O cenário de retomada de crescimento global acompanhada de alta da inflação encorajou também posições em carteira que apostam em elevação de juros nos Estados Unidos e em países emergentes.
Carlos Menezes, sócio e diretor de renda fixa da Gauss explica que a maior parte do risco da carteira do Gauss Multimercado ainda está no exterior, longe da exposição aos ruídos fiscais e políticos locais, associados à morosidade das reformas econômicas, incertezas com o cumprimento das metas fiscais, acirramento dos embates políticos com a aproximação das eleições, dentre outros.
O fundo da Gauss exige aplicação mínima de R$ 25 mil; movimentação mínima de R$ 5 mil; taxa de administração de 1,95% ao ano; e taxa de performance de 20% sobre o que exceder ao CDI.
Economia brasileira mais fraca que o esperado
A alocação de recursos em mercados de economias mais pujantes ganha força e apelo, dentre outros motivos, diante do cenário de baixo crescimento econômico doméstico. O IBC-Br de agosto, indicador visto como uma prévia do PIB, apontou que a economia brasileira recuou 0,15%, na comparação com julho.
O resultado frustrou a expectativa de gestores que esperavam pela retomada de atividade com o avanço de vacinação e redução de casos de contaminação por coronavírus. E de quebra contribuiu para uma reavaliação de estratégias de investimento, à medida que nessa toada projeta uma economia ainda mais fraca em 2022.
Cenário macroeconômico, afinal, é a base para projeções e decisões de investimento dos fundos macro. E o ritmo de atividade é a pedra de toque para estimativas de desempenho das ações, que, pelos sinais nada alentadores até agora podem sofrer mais no próximo ano.
O IBC-Br de agosto apontou que a economia doméstica andou para trás, enquanto dados da China indicaram que a economia chinesa cresceu 4,9% no trimestre julho/setembro, uma dinâmica que reforça a atratividade das ações de companhias chinesas em relação às locais.
O cenário de incertezas e riscos domésticos, segundo especialistas, é um dos fatores que têm contribuído para o aumento de alocação de recursos em mercados internacionais. Mas nem toda estratégia de fundo macro decide por ativos no mercado internacional.
XP Macro tem exposição à variação da moeda chinesa
O fundo XP Macro FIM tem, em ativos da China, “pequena posição vendida (aposta na baixa) da moeda chinesa”, pela perspectiva de que o governo desvalorize a moeda local para tentar reativar a economia.
“Altas e baixas de ativos compõem o portfólio do fundo”, afirma Bruno Marques, gestor do fundo. “Com a equipe focada na gestão com estratégia macro, o fundo ganha com a alta e queda dos ativos (juros, ações, dólar), tanto aqui como no exterior.”
Marques explica que o fundo busca retorno em todas as estratégias, das posições vendidas (apostando na queda dos ativos) às compradas. “O que guia é o cenário, independentemente da classe de ativos, é a análise do cenário que define as escolhas e as alocações”, pontua o gestor.
O XP Macro não exige aplicação mínima, mas um saldo mínimo remanescente de R$ 1 mil, tem taxa de administração de 2,0% a 2,5% ao ano, taxa de performance de 20% sobre o que exceder o DI, e credita o resgate depois de 31 após a solicitação.
WHG Dinâmico é macro em renda fixa
O outro fundo que será oferta ofertado ainda está semana pela XP é o WHG RF Dinâmico FIC FIM CP, um produto com características macro que se enquadra como fundo de renda fixa global, com aplicação em bônus e treasuries, dentre outros títulos. “É um fundo macro de volatilidade baixa que tem como benchmark o CDI+”, explica Paulino.
Segundo ele, é um fundo que tende a aproveitar o CDI mais alto e “evita o risco direcional muito grande da renda fixa doméstica”.
O fundo não exige valor mínimo de aplicação valor mínimo de aplicação inicial é R$ 5 mil, exigido também como saldo mínimo; taxa de administração, 0,95% ao ano; taxa de performance, 10% sobre o que ultrapassar o CDI.
Como funcionam os fundos macro: entenda
Nos fundos macro, a análise macroeconômica possibilita também, além das ações, uma aposta na possível direção de outros ativos, como juros, moedas e derivativos, que podem instrumentalizar a carteira desses fundos.
“O fundo oferece a possibilidade de aplicar em vários mercados com uma visão muito ligada à dinâmica da economia global, uma análise de cenário na qual o gestor escolhe e define onde será feita a alocação de ativos”, avalia Menezes, da Gauss Capital. Uma flexibilidade de gestão mais elástica que a de demais multimercados, o que confere aos fundos macro uma estratégia de investimento muito maior que a de outros fundos, acredita.
Os macro seguem uma estratégia de investimento em que a escolha de ativos é feita sobretudo a partir de uma avaliação estrutural do cenário macroeconômico.
Nesse modelo, qualquer indicador econômico, até dados preliminares supostamente pueris, pode merecer análise apurada e ensejar decisões imediatas que poderão redundar em ganhos para o fundo e os cotistas. Ou encorajar posições que poderão gerar oportunidades de ganhos no médio e longo prazo.
Indicadores econômicos, como dados de inflação, PIB, emprego, juros, são fragmentos de um cenário que, isoladamente ou em conjunto, podem influenciar decisões de estratégia macro de médio e longo prazo.
“Todos os dados econômicos divulgados são avaliados e em alguns casos podem influenciar de imediato decisões do gestor”, afirma Menezes. Mas há situações também em que seus impactos, de natureza estrutural, são avaliados e considerados no médio e longo prazo. “O importante é perceber e capturar as mudanças de cenário macroeconômico que os dados indicam e o gestor consiga antecipar a aposta correta de forma a beneficiar o cotista”, pontua.
Bruno Marques, da XP, diz que os indicadores econômicos são peças de “um grande mosaico com os quais vão se construindo as posições. Juntam-se as peças para montar um quebra-cabeça”, diz. “O desafio é perceber ou entender o que é uma sinalização do que é apenas um ruído.”