Renda Fixa

Com a escalada de juros e inflação, qual a melhor estratégia na renda fixa? Tesouro Selic ou Tesouro IPCA?

A diversificação dos investimentos continua sendo a opção mais indicada

Data de publicação:11/01/2022 às 11:41 - Atualizado 2 anos atrás
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O cenário de persistente elevação de inflação e juros dificulta a escolha dos investimentos, até mesmo da melhor estratégia na renda fixa. Qual a estratégia mais interessante ou adequada? Foco na proteção ou na busca de rentabilidade, aplicação com juros prefixados ou pós-fixados?

Os reajustes na taxa básica de juros, a Selic, vêm andando a galope, sob condução da mão firme do Banco Central – o aumento do juro básico, sistematicamente de 1 ponto porcentual, foi recalibrado para 1,50 ponto na última reunião do Copom.

Real- Moeda Nacional

Mas tendo partido das mínimas históricas, de 2% ao ano, de onde saiu no início do atual ciclo de altas, em março, a Selic, que está equilibrada em 7,25% ao ano, não andou o suficiente ainda para sequer empatar com a inflação. O indicador fechou 2021 com um acumulado de 10,06%, segundo dados divulgados nesta terça-feira, 11, pelo IBGE, atingindo o maior patamar desde 2015 (10,67%).

A melhor estratégia, no atual cenário de incertezas com a inflação e os juros, é a da diversificação de investimentos que contemple a combinação de todas as opções, diz Victor Zucchi Meneghel, especialista da Valor Investimentos.

Quem teme a inflação deve procurar um título com rendimento indexado ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).  Um papel que oferece proteção contra a inflação é o Tesouro IPCA, que o investidor pessoa física compra pela internet na plataforma do Tesouro Direto.

Tesouro IPCA está entre as melhores opções na renda fixa

O Tesouro IPCA, emitido pelo Tesouro Nacional como NTN-B (Nota do Tesouro Nacional da série B), rende juro prefixado mais correção monetária pela variação do IPCA. São papéis com vários vencimentos, desde os de prazos mais curtos até os mais longos. “Os mais interessantes são as NTN-Bs com vencimentos em 2026 e 2028”, recomenda Meneghel.

O Tesouro IPCA 2026, versão da NTN-B na plataforma do Tesouro Direto, com vencimento em 15/08/2026, ofereceu nesta quarta-feira, 3,  taxa de juro prefixada de 5,19% ao ano mais correção monetária pelo IPCA.

O especialista da Valor Investimentos afirma que o mais indicado para quem compra esses títulos é ficar com eles até o vencimento para receber, na hora do resgate, o rendimento estampado no papel. Meneghel afirma, contudo, que se pode desenhar um cenário de inflação e juros que tornará mais vantajoso passar esse título para frente antes, no mercado secundário, com ganho superior.

É um cenário em que o Banco Central, supostamente bem-sucedido no controle da inflação, passaria a reduzir a Selic, com queda também dos juros futuros, o que levaria à valorização desses títulos no mercado secundário. “Pode ser uma oportunidade para quem compra um Tesouro IPCA agora, com juro real alto, e sair com lucro maior, antes do vencimento, com o título valorizado no mercado secundário.”

Para Natália Coura, sócia e diretora comercial da Sparta Fundos de Investimento, a alta de juros favorece o retorno nominal dos produtos pós-fixados, que acompanha a elevação da Selic. Uma rentabilidade que tende a melhorar à medida que a Selic sobe e a inflação cai, cenário em que títulos como o Tesouro Selic passariam até a embutir juro real.

Como o ciclo de elevação da Selic não terminou, com perspectiva de continuidade de alta em 2022, ano que o mercado já precifica inflação entre 6% e 7%, como efeito da atuação mais dura do BC sobre a política monetária, os pós-fixados podem permanecer atraentes, sobretudo os títulos ou fundos de crédito privado pós-fixados.

Nesse cenário, de acordo com Natália, os fundos de títulos privados de empresas com crédito high grade também “podem entregar um bom retorno real ao investidor”. Com a alta de juros, seu benchmark, o CDI, também sobe, o que somado ao prêmio de crédito em torno de 1,5% a 2% torna a opção atraente.

Títulos de crédito também são oportunidades

Com efeito, as oportunidades se espraiam, com maior diversidade, para o segmento de títulos bancários, como CDBs, Letras de Crédito Imobiliário (CRIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), e de papéis de crédito privado, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e debêntures incentivadas. A maioria desses títulos remunera com juro ou cupom prefixado mais IPCA.

Os títulos bancários têm a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), até o limite de R$ 250 mil por banco e CPF, que assegura o ressarcimento ao investidor se a instituição financeira que emitiu o título tiver dificuldade para pagar o resgate. LCIs e LCAs têm ainda o benefício fiscal de isenção de imposto de renda sobre o rendimento.

Meneghel considera uma composição bem balanceada no atual cenário uma carteira que tenha uma parcela de recursos em título pós-fixado indexado à Selic, parcela maior em título atrelado ao IPCA e a parcela menor em título prefixado. “Títulos pós-fixados são atraentes, com a Selic em alta, mas as posições em IPCA são mais interessantes”, tanto como proteção contra a inflação quanto em rentabilidade.

O especialista da Valor Investimentos diz que um título prefixado cabe no leque de opções “porque uma taxa de 13% ao ano (oferecido por alguns papeis) corre pouco risco de ficar com juro negativo”, avalia. Uma aposta para quem acredita que o Banco Central controlará a inflação em 2022 ou no máximo em 2023. “O único cuidado é não esticar muito o prazo.”

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.